O pacote e o cinismo
Dilma, quem diria, só foi aplaudida por
banqueiros e rentistas. É o sinal dos tempos. Seu pacote de primavera
escolheu punir o brasileiro. O
Planalto, essa furiosa máquina de desperdício de dinheiro, vai pegar o
grosso do ajuste no seu bolso. Sobre como sanar o sumidouro de dinheiro público
causado pela ineficiência do governo, nenhuma palavra.
Está tudo
despencando, inclusive a plástica...
É inacreditável que após 13 anos no poder eles não tenham sequer um rascunho para reformas que são discutidas insistentemente há duas décadas, como a tributária e a da previdência. Mesmo com estudos sistemáticos e competentes de diversos órgãos da inteligência econômica federal, eles não sabem como construir um caminho para o futuro próximo.
Por diversas vezes eu disse aqui que o problema é estrutural e diz respeito ao sistemático e insustentável aumento do gasto público acima da receita. A capacidade de resposta da economia foi danificada por uma série de distorções no ambiente econômico causadas pela intervenção pouco inteligente de Dilma nos mais diversos setores.
Reformas? Nenhuma.
Eleita montada na
mentira e provavelmente com ajuda de dinheiro sujo, Dilma passa por uma desmontagem vexatória de sua imagem pública. O
mandato anterior, como já se sabe, foi todo ocupado em
fabricar e encobrir a crise de hoje. Ela destruiu o setor elétrico,
maquiou dados oficiais e burlou a lei orçamentária. Deixou crescer a inflação e a dívida pública. Também deixou roubar?
Na hora de enfrentar os efeitos
de suas escolhas, Dilma
abdicou sem renunciar e deixou o papel de Geni da história ao Congresso. Primeiro, na
ridícula decisão de mandar um orçamento com déficit. Agora, acendendo
o pavio da CPMF no colo dos deputados. Não sem antes anexar emendas
parlamentares e deixar os governadores da "base"
a lamber os beiços.
A
concertação política reclamada terá pouca chance, pois o PT tem vocação para partido único. Como tal, tem verdadeira ojeriza à ideia da política com viés conciliador.
Ademais, modernizar significa enfrentar privilégios. Lula e Dilma optaram pela velha política de usar o Estado
para acomodar interesses. Ao invés de
preparar o futuro, o PT administrou e se locupletou no poder.
Enquanto
o brasileiro sério e comprometido se preocupa com o pacote, leio num jornal uma
frase atribuída a Lula segundo a qual os pobres não podem pagar pelos "erros dos outros". Só pude
pensar que precisamos fazer uma reflexão sobre o grau de cinismo que estamos
dispostos a aceitar no debate público. É
preciso haver um limite. Sob o risco de travarmos qualquer avanço duradouro.
Fonte: José Aníbal
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