Notícia Publicada em 21/10/2015 10:14
Em entrevista a O Financista, economista avalia que o país poderia voltar a olhar para 1989
“O problema agora é o
baixo crescimento. Este também foi um problema na década de 1990"
(Divulgação)
No final da década de 1980, perto de 1990, John Williamson, economista britânico, ao perceber que os Estados Unidos estavam prestes a dar um auxílio muito camarada aos países latino-americanos que viviam uma calamidade fiscal, incluindo o Brasil, sugeriu que eles deveriam seguir alguns pontos necessários para “colocar a casa em ordem”.
Cunhava-se ali o “Consenso de Washington”. Tratado por muitos economistas como apenas uma cartilha neoliberal, acabou por servir como um GPS para os países que desejassem viver as décadas seguintes com mais espaço para deliberar sobre o próprio futuro depois de ganhar a confiança dos credores e assim caminhar em prol dos rumos desejados pela própria sociedade.
Em entrevista a O Financista, o economista aposentado do Peterson Institute for International Economics fala a respeito da situação atual do Brasil e sobre o que o país precisa fazer para sair do ambiente de incertezas.
“O problema agora é o baixo crescimento. Este também foi um problema na década de 1990, mas naquela época havia uma crença generalizada de que o crescimento saudável seria retomado quando outros problemas tivessem sido tratados - uma crença que parecia justificada durante o governo Lula. Quando essa visão se mostrou incorreta foi considerada devidamente como um desastre”, disse Williamson.
Veja abaixo a íntegra da entrevista:
O Financista: O senhor acredita que o Brasil pode retornar ao seu rumo com a criação de um novo consenso? Algo como um Consenso de Brasília?
John Williamson: Eu não considero o consenso como algo que um governo pode criar, embora ele deva pensar da mesma forma que a maior parte da população para que um consenso exista.
O que importa, mais do que se existe um consenso ou não, é se as ações do governo são motivadas por uma visão coerente do que os governos podem fazer para melhorar o estado das coisas.
Em retrospecto, foi um exagero imaginar que existiu um consenso em 1989, quando a Guerra Fria terminou e políticas econômicas sensatas foram muito predominantes.
Certamente eu não detecto nenhum consenso hoje. (Se o consenso existe e tem o nome de qualquer cidade, isso me parece sem importância).
O Financista: Quais são, em sua opinião, os elementos fundamentais que o governo deveria perseguir, 20 anos depois, pensando no Brasil?
Williamson: Vou argumentar sobre os elementos que acredito que devam ser perseguidos pelos governos. Estes incluem os principais temas que já foram identificados em 1989, ou seja, disciplina macro, internacionalização, e um papel-chave para o setor privado (como para o governo) na economia.
Os principais temas que surgiram no último quarto de século são a importância fundamental da educação e da importância da construção de instituições sólidas e funcionais.
O Financista: O senhor vê algum paralelo entre o Brasil de hoje o da década de 1990?
Williamson: Não, eu considero os problemas enfrentados pelo governo brasileiro hoje como substancialmente diferentes da década de 1990. O problema dominante na década de 1990 foi a inflação; controle da inflação no início de 1990, e ter certeza de que o controle era permanente até o final da década.
O problema agora é o baixo crescimento. Este também foi um problema na década de 1990, mas naquela época havia uma crença generalizada de que o crescimento saudável seria retomado quando outros problemas tivessem sido tratados - uma crença que parecia justificada durante o governo Lula. Quando essa visão se mostrou incorreta foi considerada devidamente como um desastre.
O Financista: O Brasil conseguirá algum dia chegar a algum crescimento sobre o crescimento, ou a fraqueza das suas instituições e a fragmentação política sempre serão um maior impedimento para atingir isso?
Williamson: Concordo que um consenso político em torno do crescimento é útil para alcançá-lo, embora eu duvido que seja essencial para atingir um crescimento rápido. Sobre a questão de se o Brasil nunca vai alcançar instituições robustas e evitar a fragmentação política, gostaria de fazer duas observações: (1) elas, sem dúvida, apresentam sérios obstáculos e (2) eles não são imutáveis.
O Financista: Uma ruptura política, como um impeachment, pode ser vista como uma oportunidade para um novo “contrato social” para os brasileiros e o seu governo?
Williamson: Eu duvido que um impeachment seria seguido por um novo contrato social.
O Financista: Agora, de uma forma geral, você está mais otimista ou pessimista com o Brasil?
Williamson: Gostaria de me definir como esperançoso em vez de decididamente otimista ou pessimista.
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