07/10/2015
Suspeito de manter contas bancárias secretas na Suíça, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou na manhã desta quarta-feira (7) que não renuncia ou se afasta do cargo em "nenhuma hipótese",
Denunciado
pela Procuradoria-Geral da República sob a acusação de integrar o
esquema de corrupção na Petrobras, Cunha ainda tem apoio da maioria dos
seus pares, mas essa sustentação tende a desaparecer na hipótese de vir à
tona reprodução de documentos comprovando as contas no exterior.
“Cargo não há a menor possibilidade de
eu renunciar, licenciar, qualquer coisa do gênero”, disse o presidente
da Câmara em entrevista após de um painel sobre radiodifusão.
Questionado minutos antes pelo jornalista Kennedy Alencar, que era o
mediador do evento, se estuda renunciar, Cunha foi lacônico: “Nenhuma
hipótese.”
A declaração é uma reação à decisão da
oposição de abandonar o peemedebista caso fique comprovada a existência
das contas na Suíça. Na avaliação de deputados e senadores, é impossível
manter o apoio público já que, nessa hipótese, ficaria evidente que
Cunha mentiu em seu depoimento à CPI da Petrobras, quando disse que não
tinha contas no exterior.
A oposição é aliada e um dos principais
sustentáculos políticos de Cunha. Desde que o peemedebista derrotou o PT
e assumiu o comando da Câmara, em fevereiro, há uma ação articulada
entre ele, PSDB, DEM e Solidariedade, as três maiores siglas contrárias a
Dilma Rousseff. Neste exato momento, oposição e Cunha continuam
alinhados na tentativa de dar sequência na Câmara a um pedido de
impeachment contra a presidente da República.
CASSAÇÃO
Na tarde desta quarta, deputados de
partidos de esquerda –o PSOL à frente– vão ingressar na corregedoria da
Câmara com uma representação pedindo que a Casa abra processo de
cassação por quebra de decoro. O andamento desse pedido será decidido
pela Mesa da Câmara, que é presidida por Cunha.
Caso seja dado andamento, o Conselho de
Ética é acionado pela Mesa e analisa o caso. A Corregedoria, a Mesa e o
Conselho são controlados por, até agora, aliados de Cunha. O
peemedebista só perde o mandato caso o conselho aprove a cassação e a
decisão seja ratificada pelo plenário da Câmara por pelo menos 257 dos
513 deputados.
ACUSAÇÕES
O envolvimento de Cunha na Operação Lava
Jato começou com a afirmação do doleiro Alberto Youssef, um dos
delatores do caso, de que o peemedebista recebeu propina do esquema. Em
abril, a Folha revelou que o nome de Cunha aparece como o real autor de
requerimentos que teriam sido usados na Câmara para pressionar uma
fornecedora da estatal a retomar o pagamento de propina.
Depois outros delatores corroboraram as
declarações de Youssef. Cunha foi denunciado pelo Ministério Público sob
a acusação de receber US$ 5 milhões de propina. Após a denúncia, veio à
tona a informação de que, segundo o Ministério Público da Suíça, ele e
familiares são beneficiários de contas secretas naquele país.
PSDB
A cúpula do PSDB no Congresso fechou
questão quanto à posição da sigla sobre Cunha. Os principais líderes da
legenda acordaram que os tucanos não devem nem “jogar pedra” nem
“blindar” Cunha.
A ordem é aguardar o surgimento das
provas de que o peemedebista aparece como beneficiário de cerca de US$ 5
milhões em bancos da Suíça. Se isso acontecer, segundo ele, a situação
ficará insustentável e a saída de Cunha do comando da Casa será
irremediável.
Líderes da legenda dizem que o próprio
Cunha sabe de sua condição. Os tucanos, no entanto, avaliam que
antecipar ou atuar para fragilizar o presidente da Câmara neste momento
pode ser “improdutivo”. Cunha faz oposição ao governo Dilma Rousseff e
tem a prerrogativa de instaurar um processo de impeachment contra a
petista.
Nos bastidores, a avaliação é que o
aparecimento dos extratos em nome de Cunha na Suíça abririam uma “dupla
frente” de ataques ao peemedebista: a acusação de corrupção (Cunha é
investigado na operação Lava Jato) e a de que mentiu aos seu colegas. Na
Casa, ele negou ter recursos fora do país.
(via Folha)
Nenhum comentário:
Postar um comentário