Vítimas de racismo no DF ainda têm dificuldade para denunciar suspeitos
Reestruturação da secretaria da área é vista como retrocesso por movimento negro
Correio Braziliense
postado em 19/11/2015 06:00
Fruto de uma política pública de enfrentamento à discriminação racial no Distrito Federal, o Disque Racismo, um importante canal de atendimento a vítimas de crimes de injúria racial e racismo, ainda é pouco conhecido pela população. Com a reestruturação das secretarias no governo Rodrigo Rollemberg (PSB), o serviço, pioneiro no país, passa por adaptações. E pouco se sabe, na prática, sobre o funcionamento do serviço e sobre o fluxo das informações atualmente. A situação levou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) a tomar uma atitude. O órgão vai oficiar a Secretaria do Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos em função da falta de repasse de dados do canal, conforme adiantado à reportagem do Correio.
Por dois dias, a reportagem solicitou à pasta estatísticas de atendimentos. Inicialmente, a informação repassada era de que não havia números recentes disponíveis. Ontem, porém, a secretaria encaminhou tabelas compiladas pela Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) que apontam o recebimento de mais de 5,1 mil denúncias de janeiro a outubro deste ano, mas apenas 31 teriam sido, de fato, levadas da central de atendimento à ouvidoria da pasta. Isso é o que diz a coordenadora de Enfrentamento ao Racismo, Maria Isabel Rodrigues. Significa dizer que somente essas poucas dezenas tiveram algum desdobramento. “As ligações precisam ser filtradas e analisadas antes de serem encaminhadas. Algumas, por exemplo, são trotes”, justifica Maria Isabel.
Os problemas na transparência dos dados esbarram também na falta de acompanhamento dos casos e de informações repassadas às vítimas. O ex-assessor de gabinete Jânio Candido Portela, 40 anos, conta ter procurado o Disque Racismo um dia após sofrer injúria racial, em dezembro do ano passado. Na época, recebeu ligação confirmando o registro da denúncia no sistema do canal. Contudo, apenas em outubro deste ano, novo contato foi feito pela ouvidoria da pasta, por e-mail, solicitando novas informações (Leia fac-símile). “Em um ano, só recebi um mensagem e uma ligação. Minha crítica é que os órgãos não dão amparo e nem meios para que sigamos com a denúncia”, reclamou. Portela foi agredido verbalmente por um funcionário do metrô, na Estação Galeria dos Estados, após um problema no acesso ao terminal. Procurados, representantes da Companhia Metropolitana do Distrito Federal (Metrô-DF) informaram que o órgão repudia esse tipo de atitude e que foi uma situação pontual.
Ouvidora na gestão passada e atual coordenadora do Movimento Negro Unificado (MNU) no DF, Jacira da Silva pondera sobre as necessidades de aperfeiçoamento do serviço. Segundo ela, o Disque Racismo, como “política alternativa”, precisa de maior divulgação, maior força e maior efetividade. “Ele precisa ser um instrumento de defesa dos direitos para que as notificações tenham um grau de resolutividade no Executivo e nas outras instâncias”, argumenta.
Vítima de injúria racial, a modelo e promotora de eventos Nayce Samara Silva Santos, 22 anos, desconhecia o Disque Racismo. Agora que sabe da existência, ainda alega que não saberia como utilizá-lo e como indicar para as pessoas, se precisasse. Em setembro deste ano, ela voltava para casa de ônibus após um dia de trabalho. Um pouco antes de descer na parada de casa, em Ceilândia, duas senhoras sentadas à sua frente disseram para Nayce que “ela era até bonita, mas, com aquele lenço de macumbeira, para esconder o cabelo ruim, ficava feia”. “Quando fui descer, gritei que ruim era o preconceito delas. No caminho para casa, chorei, fiquei muito deprimida”, relatou. A modelo gravou um vídeo e postou em sua página do Facebook contando a história. A repercussão foi grande: 1,3 milhão de acessos. “Mas na internet também recebi vários comentários racistas. Fui à delegacia e denunciei”, contou.
Fusão
Até o fim de 2014, a Secretaria de Igualdade Racial era independente. No fim de outubro, porém, com a nova reestruturação para corte de gastos feita pelo GDF, a secretaria tornou-se de Trabalho e do Empreendedorismo, de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos e de Desenvolvimento Humano e Social. O secretário adjunto da pasta, Carlos Alberto Santos de Paulo, acredita que o ideal seria que cada uma delas tivesse o próprio caminho, mas que o prejuízo pode ser minimizado. “Nós estamos fazendo um esforço no sentido de, efetivamente, realizar o exercício de transversalidade trazendo a pauta da inibição do racismo no mundo do trabalho e da assistência social e procurando responder às necessidades de políticas de estado que devem ser desenvolvidas com grupos vulneráveis”, concluiu.
Com a mudança, movimentos negros acreditam que houve um retrocesso. Para o coordenador da União dos Negros pela Igualdade (Unegro) e membro do Conselho do Negro do DF, João Negrão, a articulação das políticas públicas fica prejudicada. “A Secretaria de Igualdade Racial tinha poder de articulação com outras secretarias, o que chamamos de transversalidade. É uma economia sem sentido. Você economiza em uma estrutura, mas cria outros problemas, porque pode gerar mais gastos com problemas de saúde, violência, a longo prazo”, disse.
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Comentário
Cada país tem o mártir que merece.Os franceses se tornam mártires quando são assassinados pelos jihadistas.Os católicos líbios quando são decapitados pelos muçulmanos.Os brasileiros, quando alguém fala mal do cabelo deles.É muito mimimi para o meu gosto!Será que esses afro descendentes leem os jornais?Acompanham as noticias?Veem o que está acontecendo no mundo?Ou acham que criticas dirigidas ao cabelo de alguém é o máximo da crueldade que um ser humano pode fazer?E ultrapassa o que a tolerância deles para maldade pode aguentar??Caiam na real e deem graças a Deus por morarem em um país pacifico como o Brasil.
Anonimo
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