26/11/2015
As reuniões em que o senador Delcídio Amaral negociava o silêncio do delator Nestor Cerveró eram precedidas de um ritual para evitar gravações ambientais. Recolhidos antes do início da conversa, os telefones celulares dos presentes eram mantidos à distância. A divulgação de conversas como a reproduzida acima, na qual Delcídio fala em “centrar fogo no STF” para obter um habeas corpus para Cerveró e melar a Operação Lava Jato, revela que, a despeito do zelo, o senador caiu numa emboscada.
Em
4 de novembro, Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor Internacional da
Petrobras, recebeu Delcídio no quarto do hotel em que estava hospedado: o
Royal Tulip, hospedaria chique de Brasília, próxima do Palácio da
Alvorada. O senador estava acompanhado do seu chefe de gabinete, Diogo
Ferreira, e do advogado de Nestor Cerveró, Edson Ribeiro. Como de praxe,
recolheram-se os celulares. Foram enfiados dentro de um armário. Mas
Bernardo havia transformado o quarto de hotel numa arapuca eletrônica.
O filho de Cerveró munira-se de quatro
equipamentos de gravação. Adormeceu. Quando as visitas chegaram, teve
tempo de acionar apenas dois: um celular sobressalente, guardado no
bolso da calça, e um minigravador. O áudio entregue por Bernardo à
força-tarefa da Lava Jato tornou-se a prova que fez de Delcídio um
personagem histórico: o primeiro senador da República a ser preso em
pleno exercício do mandato.
A certa altura, Diogo Ferreira, o
assessor de Delcídio, enxergou, pendurado na alça da mochila de Berbardo
Cerveró, um chaveiro que trazia embutido um microgravador. Ressabiado, o
chefe de gabinete do senador aproximou-se da mochila, ligou a televisão
e aumentou o volume. Ao perceber o incômodo, Bernardo recolheu mochila e
colocou-a dentro do mesmo armário em que se encontravam os celulares. O
“chaveiro-espião” estava desligado, contaria Bernardo ao Ministério
Público mais tarde. Os visitantes tranquilizaram-se.
Como os peixes do seu Mato Grosso do
Sul, Delcídio morreu pela boca. Além sugerir que teria acesso a quatro
ministros do STF, com a ajuda do “Michel” e do “Renan”, ele revelou que
providenciaria junto ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, um
mensalão de R$ 50 mil para a família Cerveró, além de recursos para
custear a fuga do patriarca até a Espanha, depois que a quadrilha
arrancasse um habeas corpus do STF. O senador não deixou alternativa
para os magistrados do Supremo. Ou mandavam prendê-lo ou
desmoralizavam-se.
(Via agências)
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