É conhecida a história. Depois da batalha em que venceu os adversários, Pirro anunciou que outro embate daqueles exterminaria seu reino. Desde o fim da noite de terça-feira e durante todo o dia de ontem não se registrou uma única comemoração no palácio do Planalto por conta da vitória do governo com a manutenção do veto da presidente Dilma ao aumento dos servidores do Judiciário.
A razão é simples: a derrota esteve muito próxima. Dos 513 deputados, apenas 132 votaram pela permanência do veto. Abstiveram-se onze e se opuseram 251. Quer dizer, faltaram apenas seis deputados para infligir a Madame o sucesso da rebelião em suas bases.
Esfrangalhou-se a tal maioria de que o governo dispôs desde o primeiro mandato do Lula. Apesar de PT, PMDB, PP e penduricalhos alardearem integrar formidável base governista, só conseguiram reunir 132 seguidores fiéis. Os detentores do poder encontram-se a um passo de despencar. Imagine-se a tremedeira que irá assolar o conjunto cada vez menor, caso o deputado Eduardo Cunha aceite fazer tramitar o pedido de impeachment da presidente. Bem como durante a votação da nova CPMF, prevista para março.
Por enquanto não se aceitará a afirmação de que o governo acabou, mas é quase isso. Faltam três anos de conflitos e confrontos, se não vingar o afastamento de Dilma, mas será um período de turbulências. O PMDB tornou-se inconfiável. Até no PT houve quem se insurgisse contra o veto presidencial. Mesmo com o fisiologismo correndo solto na Esplanada dos Ministérios, o governo balança diante da tempestade que se aproxima.
Imaginar sua rápida recuperação e a perspectiva do fim da crise econômica virou exercício de fantasia. Não há certeza de nada, exceção de que o país não aguentará muito mais tempo sem uma reforma profunda. Promovida por quem?
EFEITOS DA PRIVATIZAÇÃO
Não há como evitar a conclusão: a queda das barragens poluídas em Mariana constitui evidência dos males da privatização. Desde Getúlio Vargas que a Vale sustentava boa parte da economia nacional como empresa estatal.
Mesmo sujeita aos exageros do empreguismo e da burocracia, sempre foi penhor de eficiência. Privatizada pelo sociólogo e pelas facilidades do BNDES, viu-se endeusada no altar do neoliberalismo, pois passou a dar lucros cada vez maiores.
O resultado aí está: o maior desastre ecológico de nossa História, com amplas chances de multiplicar-se ainda mais. A solução para o governo será multar a companhia, nem tanto quanto devia, e ponto final.
Fossem os companheiros dignos dos tempos de fundação do PT e a Vale já estaria estatizada por um simples decreto da presidente da República. Bem como seus proprietários a caminho da cadeia.
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