Carlos Chagas
Com todo o respeito, a gente fica pensando se Madame endoidou ou resolveu dedicar-se ao humorismo. Porque no sábado, em Recife, declarou não haver recebido nenhuma comunicação do ministro Padilha e ainda contar com a permanência do ministro no governo.
Na véspera, em Brasília, Eliseu Padilha pediu audiência e foi olimpicamente ignorado por Dilma, que não o quis receber. Da mesma forma o chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, negou ingresso do ministro em seu gabinete, apesar de sucessivos pedidos.
Ele pretendia entregar pelo menos ao auxiliar a carta de demissão destinada à presidente. Também não conseguiu e contentou-se em protocolar o envelope na portaria do palácio do Planalto.
Desde quarta-feira que Brasília sabia da disposição de Padilha de pedir as contas, e não sob o pretexto do cancelamento da nomeação de um auxiliar para diretor da Anac, apesar de já ter sido aceito. Na realidade, sai para chefiar a campanha de Michel Temer na batalha do impeachment, coisa que até a torcida do Flamengo também já sabia.
A presidente tudo ignorava? Como, senão por uma das duas hipóteses referidas acima? Contar com a permanência do ministro no governo do qual se despedira por escrito, só como piada. Ou retaliação, para demonstrar raiva. Ainda mais por ter acrescentado “estar o ministro Padilha fazendo um trabalho muito importante”.
Em suma, tanto Dilma como o ex-ministro lançam-se farpas mal disfarçadas. Ela, porque sentiu-se traída. Ele, porque joga todas as cartas no impeachment, imaginando convencer o PMDB da importância de Michel Temer assumir a presidência da República. Já se sente como chefe da Casa Civil.
COM TODA CERTEZA
Se alguém duvidava, agora terá certeza de que o vice-presidente,mesmo em silêncio, trabalha pelo afastamento de Dilma. O PMDB rachou, é provável que mais ministros do partido peçam para sair. Eliseu Padilha assume hoje a coordenação da batalha pelo afastamento de Madame, ironicamente no gabinete da presidência do PMDB, no Congresso.
Conta com a realização do recesso parlamentar em janeiro para viajar pelos estados, buscando convencer as bases a pressionar os deputados para votarem pelo impeachment. A aliança do partido com o governo, senão está desfeita, esgarçou-se e logo se romperá.
Trata-se de um salto no escuro, já que 172 dos 513 deputados bastarão para a permanência de Dilma. Por isso é tão importante para os defensores do impeachment que Suas Excelências saiam de férias, no mínimo para ouvirem a voz das ruas. Questiona-se o potencial do PT em mobilizar suas bases, quando a rejeição ao governo alcança níveis quase absolutos.
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