Os grupos que levaram centenas de milhares de brasileiros às ruas no primeiro semestre deste ano para protestar contra o governo da presidente Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores voltam neste domingo a se manifestar. Desta vez, o mote é o pedido de impeachment contra a presidente Dilma
O
objetivo dos manifestantes é pressionar o Congresso a dar
prosseguimento à ação que pode resultar no impedimento da petista. De
acordo com informações dos movimentos Vem pra Rua e o Movimento Brasil
Livre (MBL), há atos confirmados em mais de 100 cidades nos 26 Estados e
no Distrito Federal.
Os organizadores das manifestações
esperam que menos pessoas saiam às ruas neste dia 13 – sobretudo porque
houve pouco tempo para divulgação dos atos. Por isso, as lideranças
tratam a manifestação como um “esquenta” para um mega ato, cuja data
deve ser anunciada neste domingo. “Fomos nós que impusemos essa agenda
no Congresso. Nenhum partido comprava a ideia antes, mas desde o início
nós estávamos gritando ‘Fora Dilma’. O Brasil não aguenta mais esse
governo”, afirmou Renan Haas, do MBL.
Segundo ele, além de pedir o afastamento
de Dilma, os atos centrarão fogo nos deputados contrários ao
impeachment, de acordo com a base eleitoral de cada um. “Aqui, em São
Paulo, por exemplo, será ‘Fora Dilma e leva o [Celso] Russomanno com
você’. No Rio, será contra o [Leonardo] Picciani, e por aí vai”. Também
haverá reivindicações pela destituição do presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), e pela não intervenção do Supremo Tribunal Federal no
rito do impeachment.
Apesar de esperarem por um público
menor, os movimentos apostam novamente na pulverização dos atos Brasil
afora. Gustavo Gesteira, porta-voz do Vem pra Rua no Nordeste, citar de
cor o motivo pelo qual está conclamando a população a sair às ruas:
“Inciso 5º do artigo 85 que enseja o crime de responsabilidade previsto
na Lei 1.790, de 1950 [que regula o impeachment]”. “As pessoas comuns
estão indignadas com a corrupção e os demandos na economia praticados
por esse governo”, diz. Segundo ele, o movimento tem crescido na região,
um tradicional reduto petista.
A manifestação foi marcada às pressas
logo depois do presidente da Câmara acolher o pedido de impeachment
assinado pelos juristas Helio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína
Paschoal, que imputa à presidente o crime de responsabilidade pela
prática das pedaladas fiscais neste ano e em 2014.
Dado o pouco tempo para arrecadar
fundos, a estrutura do principal protesto, que será realizado na Avenida
Paulista, no centro de São Paulo, deve ser menor do que a dos atos
anteriores. “Não vai ter tanta faixa, nem lambe-lambe, como da última
vez. Vamos nos focar mais no carro de som”, afirmou Haas. Tirando isso e
o fato de que a Avenida Paulista já vai estar fechada para a circulação
de carros, a organização deve ser a mesma das manifestações passadas.
Cada grupo se posicionará em um ponto da via e os manifestantes devem se
aglomerar em volta dos trio elétricos – MBL vai ficar na frente do vão
livre do Masp e o Vem pra Rua, no cruzamento da Pamplona. Outra presença
esperada é a do pixuleco, boneco inflável do ex-presidente Lula vestido
de presidiário.
A expectativa de que o agravamento da
crise financeira infle as manifestações no ano que vem levou os
parlamentares da oposição a defenderem a manutenção do recesso, o que
faria com que o processo de destituição se arrastasse até fevereiro de
2016. O Planalto, por sua vez, conta com o clima de fim de ano para
esvaziar o ato e pretende colocar um ponto final na discussão o quanto
antes. Tanto um lado como o outro consideram que o agravamento da crise e
os desdobramentos da Lava Jato têm o potencial de inflamar as ruas.
O líder da minoria na Câmara dos
Deputados, Bruno Araújo (PSDB-PE), avalia que para o processo de
impeachment ir adiante são precisos três igredientes: crime de
responsabilidade, um cenário de depressão econômica e mobilização
popular.
“Sem uma desssas coisas, qualquer movimento é fadado ao
insucesso. A mobilização é tão importante quanto os elementos de ordem
formal. Sem ela o movimento tende a perder legitimidade”, afirmou o
deputado, que integra a comissão especial que avaliará o mérito da ação
de impeachment. Já o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos políticos
mais aclamados pelos manifestantes, disse que a mobilização é
“fundamental” para dar força ao processo.
“É justamente o que está
faltando agora”, afirmou. Assim como boa parte da oposição, os grupos
também veem com simpatia a ascenção do vice-presidente Michel Temer
(PMDB) ao lugar de Dilma.
O PT também sabe da importância de estar
nas ruas e convocou sua militância e movimentos historicamente ligados
ao partido para protestar em defesa da presidente Dilma – o ato foi
marcado para o dia 16 de agosto.
Com o apoio do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, o líder da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
Vágner de Freitas, passou a última semana se articulando com lideranças
de outras entidades, como Movimento Sem Terra (MST), Movimento dos
Trabalhadores Sem Teto (MTST), União Nacional dos Estudantes (Une) e
Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), para definir
estratégias a fim de combater a ideia do impeachment.
Entre elas, estão a
de taxar o movimento de “golpista” e de contrário ao interesse dos
trabalhadores. Freitas promete para o dia 16 a “maior unidade da
esquerda brasileira” desde os protestos pelo afastamento do
ex-presidente Fernando Collor de Mello – que não foi considerado ‘golpe’
pela esquerda.
Até aqui, no entanto, o movimento
pró-impeachment conseguiu mobilizar um efetivo maior do que o favorável
ao governo. Basta comparar os números dos maiores protestos dos dois
grupos: 1 milhão de pessoas em 15 de março e 40.000 pessoas em 20 de
agosto, em São Paulo, respectivamente, conforme cálculos da Polícia
Miliar.
O triunfo dos anti-governo também é reflexo da baixíssima
popularidade da presidente Dilma entre os brasileiros. Segundo a última
pesquisa Datafolha, ela superou em taxa de reprovação o próprio Collor.
Fazendo um paralelo entre 1992 e 2015,
no entanto, o contexto socio-político é bem diferente: os caras-pintadas
só apareceram às ruas quando o processo já estava deflagrado no
Legislativo e o partido de Collor, o PRN, não tinha nenhum respaldo na
sociedade.
Já a presidente Dilma tem uma tropa ao seu dispor que, mesmo
descontente com a atual política econômica do governo, tem capacidade de
colocar milhares de pessoas na rua – nem que seja militância paga.
Um
dos grupos deverá ter mais influência sobre o Congresso.
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