12/12/2015
às 20:37 \ Opinião
Publicado na versão impressa de VEJA
Se era inevitável o pedido de impeachment, o que foi apresentado na semana passada é o menos pior para a presidente Dilma Rousseff. Veio pelas mãos suspeitas do deputado Eduardo Cunha e ofereceu à presidente a oportunidade de confrontar sua ficha pessoal com o prontuário do deputado.
“Não paira contra mim suspeita de desvio de dinheiro público, não possuo conta no exterior nem ocultei a existência de bens pessoais”, disse. Se era inevitável para os anais do país que um pedido de impeachment viesse a recair outra vez sobre um ocupante da Presidência, na curta vida da Nova República, veio da pior forma.
Ficará registrado para a história que o deputado responsável por desencadeá-lo o fez por vingança e pelo desejo de embaralhar o jogo, em causa própria. Dito isso, está dada a partida para o verão da nossa desesperança, ao fim do qual:
1. Dilma é impichada. O vice Michel Temer assume e com ele chegam Renan, Sarney, Jader Barbalho, Jucá, Lobão, os generais da banda do nosso tão conhecido e inevitável PMDB. Das bordas do governo eles deslizam para o mais central dos centros, e implicados na Operação Lava Jato ficarão ainda mais representados no governo do que já estão. O último ato de cinismo do PMDB foi lançar um programa de governo tão auspicioso quanto situado a quilômetros de distância da política tal qual é praticada pelo partido. Nos diários recentemente publicados há um momento em que o presidente Fernando Henrique Cardoso teme a eleição de Paulo Maluf como seu sucessor. “Eles (Maluf e seu partido) não têm projeto. Então pegarão o nosso e o deturparão”, comenta FHC. O que o PMDB fez foi apropriar-se de projeto que não é seu (mesmo porque nunca o teve) e vesti-lo como fantasia para forçar a entrada no baile.
2. Dilma se salva do impeachment. Será uma memorável vitória, maior ainda, depois desses meses todos de agonia, do que a vitória eleitoral. E uma presidente incompetente, arrogante, ancorada num partido sob cuja batuta orquestrou-se o maior esquema de corrupção já desvendado no país, ganhará novo fôlego, capaz até de encorajá-la a retomar velhos e equivocados caminhos que por fervor ideológico adotou no primeiro mandato e que pela dura realidade dos fatos foi forçada a abandonar nos últimos meses. O grito de “Não passarão” que hoje os petistas entoam contra o impeachment explodirá numa festa triunfalista.
Para maior infelicidade do país, tais cenários ocorrem num momento de falência das instituições. “Apesar de tudo, as instituições funcionam” tem sido o imprudente mantra a nos consolar das infelicidades dos últimos anos. Na verdade funciona a Operação Lava Jato, assim como funcionou o Supremo Tribunal Federal no mensalão e voltou a funcionar nas prisões recentes de um senador e um banqueiro.
O Congresso não funciona, a Presidência não funciona, o ministério não funciona. Quando começaram as especulações sobre possíveis sucessores de Eduardo Cunha na presidência da Câmara e entre os nomes possíveis foram incluídos os dos deputados Jarbas Vasconcelos e Miro Teixeira, a colunista Eliane Cantanhêde escreveu que não, esses não ─ são “excelentes demais”.
Esse é o ponto a que chegamos. Homens probos, e de bons serviços públicos prestados, estão, in limine, vetados. Os candidatos precisam ter em dia a carteirinha de bandido.
O próprio Tribunal de Contas, tão festejado como vigilante perseguidor de pedaladas, não foge à regra. Na semana passada reelegeu Aroldo Cedraz para sua presidência. O filho de Cedraz é investigado na Lava Jato por tráfico de influência junto ao tribunal.
Qual a saída? Infelizmente, de seu modesto ponto de observação, este colunista tem a informar que a saída é a mesma anunciada por Manuel Bandeira no poema Pneumotórax:
“Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.A vida inteira que podia ter sido e que não foi,
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.
Se era inevitável o pedido de impeachment, o que foi apresentado na semana passada é o menos pior para a presidente Dilma Rousseff. Veio pelas mãos suspeitas do deputado Eduardo Cunha e ofereceu à presidente a oportunidade de confrontar sua ficha pessoal com o prontuário do deputado.
“Não paira contra mim suspeita de desvio de dinheiro público, não possuo conta no exterior nem ocultei a existência de bens pessoais”, disse. Se era inevitável para os anais do país que um pedido de impeachment viesse a recair outra vez sobre um ocupante da Presidência, na curta vida da Nova República, veio da pior forma.
Ficará registrado para a história que o deputado responsável por desencadeá-lo o fez por vingança e pelo desejo de embaralhar o jogo, em causa própria. Dito isso, está dada a partida para o verão da nossa desesperança, ao fim do qual:
1. Dilma é impichada. O vice Michel Temer assume e com ele chegam Renan, Sarney, Jader Barbalho, Jucá, Lobão, os generais da banda do nosso tão conhecido e inevitável PMDB. Das bordas do governo eles deslizam para o mais central dos centros, e implicados na Operação Lava Jato ficarão ainda mais representados no governo do que já estão. O último ato de cinismo do PMDB foi lançar um programa de governo tão auspicioso quanto situado a quilômetros de distância da política tal qual é praticada pelo partido. Nos diários recentemente publicados há um momento em que o presidente Fernando Henrique Cardoso teme a eleição de Paulo Maluf como seu sucessor. “Eles (Maluf e seu partido) não têm projeto. Então pegarão o nosso e o deturparão”, comenta FHC. O que o PMDB fez foi apropriar-se de projeto que não é seu (mesmo porque nunca o teve) e vesti-lo como fantasia para forçar a entrada no baile.
2. Dilma se salva do impeachment. Será uma memorável vitória, maior ainda, depois desses meses todos de agonia, do que a vitória eleitoral. E uma presidente incompetente, arrogante, ancorada num partido sob cuja batuta orquestrou-se o maior esquema de corrupção já desvendado no país, ganhará novo fôlego, capaz até de encorajá-la a retomar velhos e equivocados caminhos que por fervor ideológico adotou no primeiro mandato e que pela dura realidade dos fatos foi forçada a abandonar nos últimos meses. O grito de “Não passarão” que hoje os petistas entoam contra o impeachment explodirá numa festa triunfalista.
Para maior infelicidade do país, tais cenários ocorrem num momento de falência das instituições. “Apesar de tudo, as instituições funcionam” tem sido o imprudente mantra a nos consolar das infelicidades dos últimos anos. Na verdade funciona a Operação Lava Jato, assim como funcionou o Supremo Tribunal Federal no mensalão e voltou a funcionar nas prisões recentes de um senador e um banqueiro.
O Congresso não funciona, a Presidência não funciona, o ministério não funciona. Quando começaram as especulações sobre possíveis sucessores de Eduardo Cunha na presidência da Câmara e entre os nomes possíveis foram incluídos os dos deputados Jarbas Vasconcelos e Miro Teixeira, a colunista Eliane Cantanhêde escreveu que não, esses não ─ são “excelentes demais”.
Esse é o ponto a que chegamos. Homens probos, e de bons serviços públicos prestados, estão, in limine, vetados. Os candidatos precisam ter em dia a carteirinha de bandido.
O próprio Tribunal de Contas, tão festejado como vigilante perseguidor de pedaladas, não foge à regra. Na semana passada reelegeu Aroldo Cedraz para sua presidência. O filho de Cedraz é investigado na Lava Jato por tráfico de influência junto ao tribunal.
Qual a saída? Infelizmente, de seu modesto ponto de observação, este colunista tem a informar que a saída é a mesma anunciada por Manuel Bandeira no poema Pneumotórax:
“Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.A vida inteira que podia ter sido e que não foi,
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.
- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino”.
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