Cristovam Buarque
É
como o câncer invisível, que não apresenta sintomas e quando é
descoberto já é muito tarde para qualquer tratamento. Isso parece estar
acontecendo.
Os mais importantes personagens para enfrentar a crise que
atravessamos, a presidente Dilma Rousseff e sua base de apoio, parecem
não perceber o tamanho da crise. Na oposição muitos parecem não ver
também a gravidade e que a culpa é do governo, mas o problema é de todos
nos.
Políticos apoiados
e apoiadores do governo que tiveram seus nomes na lista do Ministério
Público para inquérito não percebem o clima que a denúncia está
provocando na credibilidade de todos os políticos,inclusive os que não
estão na lista.
O
discurso da presidente, no domingo passado, não passou sentimento da
dimensão da crise, não reconheceu sua responsabilidade, nem acenou para
uma forma de enfrentar o problema. Há pessoas que denunciam todos os
descontentes como se fossem golpistas egoístas descontentes com a
ascensão de classes pobres (ascensão, diga-se, absolutamente
insatisfatória, pequena e insuficiente para qualquer pessoa com um
mínimo de sentimento progressista e desejo de emancipar o povo, dar
acesso igual à educação, saúde, justiça, melhorar a vida e não apenas,
na lógica neoliberal, aumentar o consumo).
PANELAÇOS
O
grande jornalista Juca Kfoury disse que todos os manifestantes que
bateram panelas na hora do discurso da Dilma são reacionários com ódio
de classes contra os pobres. Esta é uma falta de visão que agrava a
crise. Há um profundo descontentamento no ar, com as promessas
descumpridas poucas semanas depois de feitas nas vésperas da eleição,
com a inflação, com o descrédito dos políticos, todos, especialmente na
base de apoio ao governo.
No DF, o bairro com maior manifestação contra o governo no domingo,
Águas Claras, tem tradição de votar no PT, apoiar Lula e mesmo a Dilma
até pouco tempo atrás. Não ver isso é agravar a crise.
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