quinta-feira, 12 de março de 2015

O maior problema de uma crise é não ser vista


Cristovam Buarque



É como o câncer invisível, que não apresenta sintomas e quando é descoberto já é muito tarde para qualquer tratamento. Isso parece estar acontecendo. 


Os mais importantes personagens para enfrentar a crise que atravessamos, a presidente Dilma Rousseff e sua base de apoio, parecem não perceber o tamanho da crise. Na oposição muitos parecem não ver também a gravidade e que a culpa é do governo, mas o problema é de todos nos. 


Políticos apoiados e apoiadores do governo que tiveram seus nomes na lista do Ministério Público para inquérito não percebem o clima que a denúncia está provocando na credibilidade de todos os políticos,inclusive os que não estão na lista. 


O discurso da presidente, no domingo passado, não passou sentimento da dimensão da crise, não reconheceu sua responsabilidade, nem acenou para uma forma de enfrentar o problema. Há pessoas que denunciam todos os descontentes como se fossem golpistas egoístas descontentes com a ascensão de classes pobres (ascensão, diga-se, absolutamente insatisfatória, pequena e insuficiente para qualquer pessoa com um mínimo de sentimento progressista e desejo de emancipar o povo, dar acesso igual à educação, saúde, justiça, melhorar a vida e não apenas, na lógica neoliberal, aumentar o consumo).



PANELAÇOS
O grande jornalista Juca Kfoury disse que todos os manifestantes que bateram panelas na hora do discurso da Dilma são reacionários com ódio de classes contra os pobres. Esta é uma falta de visão que agrava a crise. Há um profundo descontentamento no ar, com as promessas descumpridas poucas semanas depois de feitas nas vésperas da eleição, com a inflação, com o descrédito dos políticos, todos, especialmente na base de apoio ao governo.


No DF, o bairro com maior manifestação contra o governo no domingo, Águas Claras, tem tradição de votar no PT, apoiar Lula e mesmo a Dilma até pouco tempo atrás. Não ver isso é agravar a crise.

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