Artigo de
Guilherme Fiuza na revista Época desta semana, sobre as ameaças de Lula,
a pretexto de defender o que é nosso (mas é deles). Repito o que disse
no twitter: se houver violência no 15 de março, a culpa é do tiranete, o
insuflador. Quanto à revista da editora Globo, está cada vez mais
verbosa, inócua e ambígua. Fiuza é um dos poucos que dizem o que pensam:
Lula
convocou o "exército" do MST - nas palavras dele para defender o PT nas
ruas. Até que enfim alguém faz algo concreto em defesa do nascente e
moribundo governo de Dilma 2, a missão. A esta altura dos
acontecimentos, talvez só mesmo um exército usando a força bruta possa
salvar o mandato da grande dama - porque na legalidade está difícil.
Mas não
tem problema, porque o PT sabe que esse negócio de legalidade não tem a
menor importância. Pelo menos não para quem tem bons despachantes,
doleiros diligentes e militantes bem pagos dispostos a tudo. Lula
convocará todos os seus exércitos até o dia 15, se possível com o
auxílio sofisticado de alguns depredadores de elite. Entre uma soneca e
outra, o Brasil está programando sair às ruas nesse dia. E não é de
vermelho.
Cumpre ao
grande líder, portanto, reunir todas as forças populares de aluguel
para mandar o Brasil de volta para casa, que é o lugar dele.
Tudo isso
acontece num momento histórico para o país. Após anos de trabalho
exaustivo, o PT conseguiu o que parecia impossível: rebaixar a Petrobras
à categoria de investimento especulativo. Não pensem que isso é tarefa
fácil, nem para o mais laureado dos parasitas.
Tratava-se
da oitava maior empresa do mundo, que ia ficar maior ainda após a
descoberta do pré-sal. Jogar a Petrobras na lona, levando-a a perder o
grau de investimento e a sair vendendo bugigangas como uma butique em
liquidação é façanha para poucos. Os brasileiros que sairão às ruas no
dia 15 só podem estar com inveja dessa obra-prima.
O Brasil
deu 16 anos consecutivos de mandato presidencial ao PT, e pode-se
afirmar com segurança que uma grossa fatia desses votos foi dada em
defesa do nacionalismo - em defesa da Petrobras. Lula e o império do
oprimido conquistaram o monopólio da defesa do que é nosso e não têm
culpa se o povo não entendeu que eles estavam lutando pelo que é "só
nosso". No caso, os dividendos bilionários que a Petrobras podia dar a
um esquema subterrâneo de sustentação política. É mais ou menos como a
situação do padre pedófilo, que guarnece a pureza da criança para poder
abusar dela.
Os
brasileiros levaram essa curra ideológica e continuam relaxados. Ninguém
deu queixa. A Operação Lava Jato continua sendo assistida como um filme
de gângsteres, como se isso se passasse na cabeça de algum roteirista
de Hollywood. Um mistério insondável permanece impedindo que se entenda
por que as vítimas do estupro ainda não botaram os gângsteres para
correr. Talvez isso comece a se esclarecer no dia 15 de março de 2015.
Ou não.
Em junho
de 2013, o petrolão ainda não tinha jorrado nas manchetes em todo o seu
esplendor. Mas o mensalão e seus sucedâneos já revelavam a jazida de
golpes do governo popular contra o Estado - esse que o PT jurava
defender contra a sanha da direita neoliberal. Ou seja: o padre pedófilo
já estava escondido com a batina de fora, não via quem não queria. Foi
então que o Brasil saiu às ruas indignado, disposto a dar um basta nos
desmandos que já lhe custavam, entre outras coisas, a subida da inflação
e o aumento do custo de vida. O padre pedófilo assistiu àquela explosão
de olhos arregalados, certo de que tinha sido descoberto e de que agora
vinham buscar o seu escalpo. Mas os revoltosos nem o notaram, e ele
pôde até, tranquilamente, estender seu tempo de permanência na paróquia.
Foi o fenômeno conhecido como a Primavera Burra.
Agora o
outono se aproxima, com ares primaveris. As vítimas do abuso começam,
aparentemente, a entender que o seu protetor é o seu algoz. Como sempre
no Brasil, tudo muito lento, meio letárgico e confuso, com as habituais
cascas de banana ideológicas largadas no caminho pelo padre - "a culpa é
de FHC", "querem a intervenção militar", "é a burguesia contra o Bolsa
Família" etc. Como escreveu Fernando Gabeira, o velho truque de jogar
areia nos olhos da plateia - única instituição que dá 100% certo no
Brasil há 12 anos. O problema é que, mesmo com areia nos olhos, está
dando para ver que o petrolão ajudou a financiar a reeleição de Dilma. E
agora?
Agora é
hora de tirar a batina do padre e mostrar que o rei está nu. Sem medo
dos exércitos de aluguel que farão o diabo para defender o que é nosso
(deles).
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