by Alessandro Barreta Garcia
A importância do esporte na formação do caráter do indivíduo
Conversava
com um amigo, que é um empresário muito bem-sucedido do setor
financeiro, sobre como melhorar a situação de nosso estado. Eu lhe
apresentava os projetos do Instituto Liberal,
em busca de apoio. Ele, que é bastante discreto, mas mesmo assim não
consegue fugir do assédio de políticos e ONGs devido à sua fortuna,
confessou-me que a “menina dos seus olhos” que ajuda a financiar é uma
instituição voltada para o fomento dos esportes nas comunidades
carentes. Afirmou que, apesar de ter estudado em boas escolas, o que
realmente fez diferença em sua vida foram os esportes, que lhe ensinaram
a importância da determinação, da disciplina, do esforço, do mérito.
Queria ajudar os mais pobres por meio da prática esportiva.
Lembrei dessa conversa ao ler Educação Física e Regime Militar: Uma guerra contra o Marxismo Cultural,
de Alessandro Barreta Garcia. Com uma bela apresentação escrita pelo
professor Ricardo Vélez-Rodríguez sobre Aristóteles, o livro procura
resgatar a importância da educação física nas escolas, especialmente
durante o regime militar, sempre com base nas tradições que vêm desde os
gregos. Segundo o autor, que é mestre em Educação pela Universidade
Nove de julho, a esquerda radical, seguindo o marxismo cultural
inspirado em Gramsci e na Escola de Frankfurt, tem difamado e destruído
esse legado fundamental para incutir valores nos mais jovens.
“Durante
os anos do regime militar brasileiro que ocorreram de 1964 a 1985″,
escreve Alessandro logo no começo, “a educação física vivenciou seus
grandes momentos através da ordem, disciplina, rigor, ética, técnico,
rendimento e fair play“. Os autores marxistas não reconhecem
isso, e tentam transformar a prática esportiva escolar da era militar em
simples instrumento de alienação, o que o autor julga absurdo. Se os
comunistas clássicos viam nos esportes um instrumento de propaganda do
regime, como em Cuba, na Coreia do Norte, na União Soviética ou na
China, os comunistas modernos preferem a tática de desconstruir o esporte, visto como instrumento burguês de alienação.
Para
tanto, e seguindo suas receitas nas demais áreas, é importante
modificar sua estrutura, rejeitar a ordem, a disciplina, o comando, a
hierarquia, a técnica, a moral. O desporto de rendimento também passa a
ser visto como inimigo, pois expõe atletas melhores e piores, o que vai
contra o total relativismo da esquerda radical, para quem ninguém é
melhor do que ninguém. Para ela, o caos é o grande objetivo, e seria
nele que poderíamos encontrar alguma “ordem”. Essa seria a “nova ordem
mundial”, uma que enaltece o caos, a desordem, o relativismo. A prática
esportiva tradicional vai contra tudo isso, e precisa, então, ser
condenada como instrumento da burguesia opressora.
A
crítica dos seguidores de Gramsci e da Escola de Frankfurt será
voltada, portanto, para a condenação das principais instituições que
impedem esse caos social, tais como as tradições, as religiões
(especialmente o judaísmo e o cristianismo), as famílias, as Forças
Armadas. Alessandro inclui nesse rol de alvos da esquerda a educação
física, justamente porque significava a transmissão de valores como a
ordem, a disciplina, o respeito na escola. Tal postura não é compatível
com o clima de total rebeldia permanente que essa esquerda deseja adotar
nas salas de aula, onde o professor precisa perder qualquer senso de
hierarquia em relação aos alunos. Hey, teachers, leave them kids alone!
Alessandro
busca em Aristóteles a receita do equilíbrio, do “meio termo”, que
deveria ser adotado na educação física. Nem recreação pura, nem busca de
alto rendimento, como fazem os regimes comunistas que enxergam os
indivíduos como meros meios sacrificáveis para seus fins mais “nobres”.
“Formar o cidadão para o esporte é cultivar os frutos de uma civilização
de qualidade”, diz o autor, que prossegue: “Os valores morais são bem
claros e a formação educacional do aluno frente ao esporte é fundamental
para o desenvolvimento da unidade nacional”. Ou seja, ajuda a criar um
indivíduo para o convívio coletivo, sem endossar um coletivismo
nacionalista.
O
praticante de esporte bem treinado e educado aprende a respeitar as
regras, ser disciplinado, o que não é um mal como alega a esquerda, mas
uma virtude. A cooperação também é estimulada nas aulas de educação
física tradicionais. Honestidade e respeito, grandes virtudes da vida,
podem fazer parte do universo desportivo, e era esse o verdadeiro
espírito do ensino na era militar, segundo o autor. Não por acaso as
escolas militares estão entre as melhores do país. “A vitória não pode
se sobrepor ao espírito olímpico, ao fair play“, explica. Não é
o esporte como instrumento de alienação ou de propaganda do estado que
essa esquerda marxista condena, e sim aquele moralizante e
civilizatório. O conteúdo do Manifesto sobre o Fair-Play deixa mais
claro o que está em jogo e sendo atacado pelos marxistas:
O fair-play
é uma “forma de ser” baseada no respeito a si próprio e que implica em:
honestidade, lealdade e atitude firme e digna diante de um
comportamento desleal; respeito ao companheiro; respeito ao adversário,
vitorioso ou vencido, com a consciência de que é o companheiro
indispensável, ao qual se une pela camaradagem desportiva; respeito ao
árbitro e respeito positivo, traduzido por um constante esforço de
colaboração com o mesmo.
Ou seja, praticamente um código de cavalheirismo para um típico gentleman britânico.
Saber ganhar e saber perder, não tripudiar do adversário, não apelar
para práticas desleais, respeitar sempre as regras do jogo, o império
das leis, saber ser digno. “Quem se vinga depois da vitória é indigno de
vencer”, escreveu Voltaire. O esporte bem praticado ensina tudo isso,
além de deixar claro que não há vitória sem esforço e mérito, que de
nada adianta a vitimização, ficar sempre culpando os astros ou os outros
por seus fracassos e falhas. Essa é a receita certa para permanecer um
perdedor.
“Ensinar
a não violar os regulamentos é uma das essências do desporto moderno,
principalmente do educacional. É preciso, por isso, desviar-se da
deslealdade e da brutalidade. É esse o grande exemplo de um
desportista”, escreve o autor, que conclui, contra a alegação da
esquerda de que a educação física e o esporte são usados como
instrumentos de alienação: “Falta-nos um sistema educacional de valor, a
longo prazo, independente de ideologias ou de políticas deletérias. O
esporte é tradição, é justiça, ética, respeito, coragem e virtude. O
esporte é vida, é equilíbrio, é educação de qualidade”.
Concordo.
Quando jogava algum jogo com minha filha, ainda pequena, nada me tirava
mais do sério do que ela não saber perder, querer desistir no meio
porque via que seria derrotada. Eu levava muito a sério aquela lição:
ela precisava entender que tal atitude era uma completa falta de
respeito com o oponente. O mesmo sobre qualquer tentativa de trapaça:
impensável. A vitória não tem valor se for desleal. São ensinamentos
ligados ao esporte tradicional. São valores muito em falta em nossas
escolas hoje, dominadas pelo marxismo cultural.
Rodrigo Constantino
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