Publicado em agosto 10, 2015 por Redação
“Para a definição de uma política sustentável, a agenda climática é um dos componentes, mas é preciso ter vontade política e compromissos de longo prazo; é algo que escapa um pouco da ciência climática”, afirma o meteorologista.
Foto: estadão.com.br |
Apesar de reconhecer os avanços das Conferências do Clima, seja para discutir as questões climáticas, seja para estimar metas de redução de gás carbônico, Marengo é categórico: “Não sei se os membros irão assinar ou não um novo acordo, duvido”. Entretanto, lembra que “o Protocolo de Kyoto foi criado dentro de uma COP, mas foi assinado depois, em outro evento, na cidade deKyoto”.
As metas brasileiras para a COP-21, frisa, deveriam levar em conta alguns setores estratégicos, como o de energia, adaptando a matriz energética para absorver mais fontes renováveis. “O Brasil, agora, já se comporta como país desenvolvido, e a maior poluição já não vem da queima de biomassa, mas sim do uso de combustíveis fósseis de desenvolvimento, ou seja, o Brasil também tem que adaptar sua matriz de energia e ter uma combinação de combustíveis fósseis — porque é praticamente impossível eliminar combustíveis fósseis — com biodiesel, energia solar, fotovoltaica, eólica, portanto, energias renováveis. No caso da energia elétrica, por exemplo, a matriz é limpa, mas o problema é que quando falta água passam a funcionar as termoelétricas, que consomem muito carvão”, pondera.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone, Marengo também comenta as principais previsões dos possíveisimpactos que as mudanças climáticas poderão causar tanto no Brasil quanto na América do Sul e na América Central. “Na América Central tem um agravante, que são os furacões, porque toda a América Central é afetada pelos dois lados – Pacífico e Atlântico – por furacões. Em um planeta mais quente, os modelos mostram que haveria menos furacões no futuro, porém muito intensos, e esses países não estão preparados para resistir aos impactos de um furacão de categoria cinco, por exemplo. (…) Essas são áreas que não estão preparadas e que estão muito expostas e vulneráveis, e se não conseguirem reduzir essa vulnerabilidade com adaptação, poderão ser facilmente afetadas”, explica.
José Marengo possui graduação em Física e Meteorologia, é mestre em Engenharia de Recursos de Água e Terra, pela Universidad Nacional Agraria, no Peru, e doutor em Meteorologia pela University of Wisconsin nos EUA. Fez pós-doutorado em modelagem climática na NASA-GISS e Columbia University em Nova York e na Florida State University na Florida, EUA.
Foi coordenador científico da previsão climática do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. Atualmente é pesquisador titular e Chefe de Pesquisa no Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – CEMADEN ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação MCTI, onde trabalha com eventos extremos e desastres naturais. É professor na pós-graduação do INPE e é membro de vários painéis internacionais das Nações Unidas. Também é membro de grupos de trabalho no Brasil e no exterior sobre mudanças de clima e mudanças globais.
Confira a entrevista.
Foto: ecodesenvolvimento.org |
José Marengo – Na verdade, na meteorologia usamos dois termos. O primeiro é variabilidade climática, ou seja, no verão é quente e no inverno é frio, hoje é quente e amanhã entra uma frente fria, ou o fenômeno do El Niño e todos aqueles fenômenos que nós observamos em dias, horas e anos, que são o que chamamos de variabilidade climática.
Obviamente esses eventos da variabilidade terminam e nós voltamos ao que chamamos de normalidade. Já o termo mudança é usado para um tipo de comportamento que caminha em uma direção por longo prazo, ou seja, gradativamente a temperatura aumenta em todo o mundo, e isso tem impactos nas chuvas, na temperatura e na precipitação, tendo também consequências na população.
Atualmente temos um processo de aquecimento global que está gerando uma mudança climática. Claro que mudança climática, no contexto do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC, é uma escala que corresponde à vida dos seres humanos num contexto de 200, 300 anos. No passado já aconteceu esse tipo de fenômeno, por exemplo, no período geológico, que chamamos de Holoceno, quando há 11 mil anos o eixo da Terra mudou e, como consequência, tivemos uma mudança climática, grandes áreas da América do Sul, que agora estão mais quentes, passaram a ser muito frias.
Naquela época essa mudança foi um processo natural, não teve interferência humana, através do desmatamento ou do uso de combustíveis fósseis, mas essa foi também considerada uma mudança climática. Do mesmo modo, quando um meteoro impactou a Terra na península de Iucatã e esse impacto produziu fogos e queimadas em todo o mundo, essa camada de fumaça bloqueou a radiação solar e permitiu que a terra entrasse na Era do Gelo; isso também gerou uma mudança climática.
Essa mudança climática é algo de longo prazo, que dura, em alguns casos, centenas de milhares de anos e que pode ter uma causa natural. Então, são duas coisas diferentes: não necessariamente toda mudança climática é aquecimento; já houve períodos de resfriamento também.
IHU On-Line – Além da intervenção humana, há outros fenômenos climáticos que contribuem para esse processo de aquecimento?
José Marengo – O que nós podemos dizer é que o aquecimento global é um processo natural. É claro que com milhares de anos, você não percebe naturalmente de um ano para o outro se o planeta esquentou ou não. Além de ser um processo natural, estamos em uma era interglacial, ou seja, de interglaciações, relativamente mais quente. Na escala geológica, 200, 300 anos não são nada se comparados com milhões de anos. Então, uma das coisas que se observa nos últimos 150 anos, mais ou menos, é que além deste processo natural, existe uma interferência humana, geralmente na forma de emissões de gases de efeito estufa – GEE, e associadas à queima de combustíveis fósseis.
Portanto, é como se o homem estivesse contribuindo mais para um processo natural que já está acontecendo. Ou seja, podemos dizer que a causa da mudança climática é a combinação de fatores naturais com fatores antropogênicos, só que fica muito difícil dizer, em porcentagem, qual é mais importante.
O que o IPCC demonstra, com técnicas estatísticas, é que o efeito humano não pode ser desconsiderado, não pode ser ignorado; ele é importante e significativo. Mas o IPCC não diz que 100% do aquecimento advém da atividade humana. Esse é um ponto, por exemplo, que os geólogos questionam, porque o ser humano não esquenta o planeta, o ser humano ajuda em um processo natural que leva a um maior aquecimento do planeta. Mas o ser humano, sozinho, não esquenta o planeta.
IHU On-Line – Quais medidas podem ser adotadas para conter as mudanças climáticas? Elas podem conter esse quadro?
José Marengo – Essa é um pouco a ideia, pois quando o processo é natural e gradativo, demora muitos anos para sentirmos os seus efeitos. Então, a ideia é um pouco “manter a naturalidade” do processo natural e tentar reduzir a interferência. Como reduzir a interferência? Primeiro, por um lado, atacar a fonte, que são os combustíveis fósseis. Para isso é necessário reduzir as emissões de gás carbônico, como alguns países estão propondo. Mas, por outro lado, existe muito dióxido de carbono na atmosfera, que está aí e que está esquentando, com o qual ainda temos de fazer alguma coisa.
As florestas, geralmente a vegetação em geral, funcionam como sumidouros de carbono através do processo de fotossíntese, ou seja, absorvem carbono. Por isso, aquelas ideias de reduzir o desmatamento, aumentar as florestas através de um programa mundial de reflorestamento, são alternativas para poder reduzir os problemas humanos.
Ou aquelas soluções de bioengenharia de pegar todo o CO² e injetar no fundo do planeta para poder deixar a atmosfera mais limpa. Essas são formas que nós humanos estamos adotando para tentar reduzir a nossa culpa, limpando a atmosfera e deixando o aquecimento, que obviamente vai continuar, nos menores índices possíveis.
Com aquecimento, por exemplo, de 2ºC ou menos, é possível a adaptação, e os impactos nos ecossistemas poderão ser muito menores. Mas com um aquecimento muito grande, ainda que o ser humano possa se adaptar com diferentes tecnologias — ar-condicionado, energias alternativas —, os ecossistemas naturais não têm essa facilidade de adaptação e poderemos perder muita biodiversidade.
“No Brasil, este inverno, com certeza, será um dos mais quentes a nível mundial” |
José Marengo – O resfriamento é considerado no contexto de mudanças climáticas. Mas se observamos as séries de temperatura, quando falamos em aquecimento gradativo, é possível ver uma tendência de aquecimento. Houve, entretanto, hiatos de resfriamento observados durante cinco anos, e todo mundo achou que o aquecimento havia acabado e tínhamos entrado em uma era fria, mas isso não se cumpriu. Nós estamos, novamente, na tendência de aquecimento.
No Brasil, este inverno, com certeza, será um dos mais quentes a nível mundial. Os seis primeiros meses de 2015 aparecem como os mais quentes do registro histórico. Acredito que é pouco provável que esta tendência se reverta e que dentro dos próximos 20 ou 30 anos tenhamos um resfriamento. O resfriamento pode acontecer na nossa escala geológica, no futuro, daqui a milhares de anos, quando o Planeta Terra passar por uma nova mudança geológica.
IHU On-Line – Como estão os estudos sobre os impactos das mudanças climáticas na flora e na fauna da Amazônia? Já é possível vislumbrar se há impactos decorrentes das mudanças climáticas na região ou prever possíveis impactos?
José Marengo – Os modelos preveem os possíveis impactos. Um modelo é uma representação matemática da realidade e nem sempre é algo que acontecerá, mas é algo que pode acontecer. Por exemplo, os primeiros estudos feitos entre pesquisadores ingleses e brasileiros, a partir do ano 2000, mostravam que o aumento de temperatura acima de 3,5ºC ou 4ºC e um aumento na concentração de CO² poderia gerar um colapso da floresta Amazônica.
Atualmente, a floresta Amazônica funciona como um sumidouro de carbono, ou seja, absorve carbono. Contudo, imagine que vamos a uma festa e começamos a comer sem parar, mas de repente não é possível comer mais e começamos a vomitar. Na floresta seria assim, ou seja, ela absorve CO², mas chega a um limite de saturação e depois começa a emitir CO². Nesse momento, quando se passa de um sumidouro para uma fonte, acontece o que os modelos chamam de um colapso da floresta Amazônica. Ou seja, o que é uma floresta pode passar a ser outro tipo de vegetação, uma floresta secundária ou algum tipo de Savana, o que alguns chamam de um processo de “savanização” da Amazônia; isso é algo que fisicamente pode acontecer.
No entanto, não temos muitas evidências de que isto, por exemplo, já está acontecendo na Amazônia; muitos estudos não mostram isso. As chuvas, por exemplo, não estão diminuindo significativamente na Amazônia; é possível ver que temos extremos e enchentes, então, por enquanto, não há indicadores de que a floresta está ficando mais seca.
Tivemos anos de seca, obviamente, como 2005 e 2010, com muitas queimadas, mas depois de uma seca veio uma enchente, então meio que equilibrou. Mas esta possibilidade pode existir, ainda que o grau de incerteza seja muito alto.
IHU On-Line – Que dados permitem estimar que a Amazônia poderia virar Savana em 35 anos?
José Marengo – Trata-se de uma estimativa possível, mas não é um fato comprovado. O relatório do IPCC mostrou que o nível do mar, no futuro, pode chegar a 60 centímetros, mas se a Groenlândia derreter totalmente, o nível do mar pode chegar a subir metros em algumas áreas e poderá acabar com toda a fauna costeira de água doce no Brasil.
Nesse caso, a Groenlândia desapareceria. O mesmo caso aconteceria na Amazônia: se a Amazônia virasse um Cerrado, haveria um colapso em toda a fauna e flora, porque a temperatura seria maior, áreas de água doce seriam invadidas por água salgada, espécies animais poderiam migrar para outras áreas e outras espécies poderiam entrar na Amazônia, a vegetação entraria em colapso e seria substituída por outro tipo de vegetação. Tudo isso é como uma reação em cadeia.
Nós estamos assumindo esse tipo de cenário possível de, por exemplo, daqui a 35 anos a Amazônia virar uma Savana ou a floresta colapsar. Mas, como todo o tipo de projeção tem certas condições que são assumidas, novamente, todos esses são possíveis cenários, porém não significa que isso é o que acontecerá com certeza.
IHU On-Line – E o que poderia acontecer com o Cerrado, que hoje é um bioma que está sendo bastante degradado?
José Marengo – O Cerrado correspondente a uma área onde os modelos não funcionam bem e têm certo grau de dificuldade. Onde os modelos funcionam melhor é no Sul, Norte e Nordeste do Brasil. Mas o que se mostra para o futuro é que, assumindo que teremos uma temperatura maior e reduções na precipitação, de fato isso pode dar lugar a um ar mais seco, a um aumento na frequência de queimadas, ou seja, o ecossistema seria muito impactado negativamente.
“É pouco provável que esta tendência se reverta e que dentro dos próximos 20 ou 30 anos tenhamos um resfriamento” |
José Marengo – Normalmente se fala isso porque os países pobres são aqueles que estão mais expostos e vulneráveis. O primeiro caso que vemos é o do Nordeste, que é relativamente mais pobre e exposto, e tem histórico de secas — temos atualmente uma seca e provavelmente essa seria uma das primeiras regiões mais impactadas.
Nesse sentido, a seca aumentaria, a migração do pessoal do Nordeste para outras áreas aumentaria, gerando um problema social, a Caatinga poderia ser afetada em algumas áreas, porque hoje o clima ali é semiárido — chove apenas metade do ano —, mas poderia passar a ser um clima árido, e com isso o bioma entraria em um processo de desertificação.
A Amazônia é mais ou menos similar: os ecossistemas seriam afetados e a população ribeirinha também. Mas, talvez, os impactos poderiam ser maiores em áreas que não são tão pobres, como São Paulo, Rio de Janeiro, Sudeste em geral e Sul, onde nós já temos uma mostra do que pode acontecer — veja a seca do Sudeste e os extremos de chuvas intensas e tornados que acontecem na região Sul. Nessas áreas o clima pode virar mais extremo.
Na América Central tem um agravante, que são os furacões, porque toda a América Central é afetada pelos dois lados — Pacífico e Atlântico — por furacões. Em um planeta mais quente, os modelos mostram que haveria menos furacões no futuro, porém muito intensos, e esses países não estão preparados para resistir aos impactos de um furacão de categoria cinco, por exemplo. Agora, Estados Unidos também não, é só lembrar do Katrina, que matou mais de mil pessoas em New Orleans.
Mas o furacão Andrew, se não me engano, matou 10 mil pessoas em Honduras, consequência das enxurradas e deslizamento de terras. Então, essas são áreas que não estão preparadas e que estão muito expostas e vulneráveis, e se não conseguirem reduzir essa vulnerabilidade com adaptação, poderão ser facilmente afetadas. Contudo, para adaptação precisa dinheiro e, por conta disso, os países mais pobres serão os mais afetados e impactados, porque eles não têm dinheiro para a adaptação.
IHU On-Line – O senhor tem falado sobre a necessidade de os governos definirem novos cortes de emissões de gases de efeito estufa. No que se refere ao Brasil, que tipos de cortes poderiam ser feitos, em quais setores, e que metas o Brasil deveria assumir para a COP-21, considerando que o país ainda não divulgou quais serão suas metas?
José Marengo – Como você falou, não sei exatamente quais serão as metas. Mas entre os setores que são mais importantes, o primeiro deles é o desmatamento — o ideal seria reduzir a taxa a zero, coisa que é pouco provável e pouco possível, mas pelo menos é preciso reduzir as taxas o máximo possível.
O Brasil, agora, já se comporta como país desenvolvido, e a maior poluição já não vem da queima de biomassa, mas sim do uso de combustíveis fósseis de desenvolvimento, ou seja, o Brasil também tem que adaptar sua matriz de energia e ter uma combinação de combustíveis fósseis — porque é praticamente impossível eliminar combustíveis fósseis — com biodiesel, energia solar, fotovoltaica, eólica, portanto, energias renováveis. No caso da energia elétrica, por exemplo, a matriz é limpa, mas o problema é que quando falta água passam a funcionar as termoelétricas, que consomem muito carvão.
O Brasil tem que mostrar metas que sejam significativas e possíveis, porque muitos países da América Latina veem o Brasil como líder. Desse modo, basicamente o que o Brasil faz, será seguido por outros países, isso é importante porque todo mundo tem de reduzir emissões. Nesse sentido, não adianta o Brasil reduzir suas emissões e China e Estados Unidos continuarem aumentando. O planeta é global, o clima é mundial, o que acontece na China, no longo prazo, pode afetar o que acontece no Brasil em termos de clima.
IHU On-Line – Nesse sentido, o que pode ser feito em termos de política de favorecimento para o uso de combustíveis alternativos? Se formos comparar o preço da gasolina e do etanol, embora o etanol seja ecologicamente melhor e mais barato em relação à gasolina, o rendimento é menor e, do ponto de vista econômico, que é o que as pessoas levam em conta nesse caso, não vale a pena usar etanol.
José Marengo – Sim, é verdade. No momento eu uso mais gasolina do que etanol. Mas uma das coisas que devem ser pensadas também, é que nesse momento, por exemplo, comparado com a situação que foi definida em Copenhague ou um pouco antes, quando todos os países se comprometeram com planos e políticas ambientais, veio a crise econômica mundial e a agenda ambiental passou para segundo plano.
O Brasil, por exemplo, vive uma crise econômica que está piorando, e quando isso acontece, os países, primeiro, tentam resolver a crise econômica e política, e a agenda ambiental tende a ficar em segundo plano. É lógico, é preciso primeiro anteder necessidades da população, ainda que o estabelecimento de metas possa ajudar a população nos próximos 10 anos, mas primeiro tem que trabalhar com a população.
Então, o que nos preocupa é que países em crise comecem a deixar seus compromissos de redução de emissões não favoráveis, muito aquém do que deveria ser, mas que também os países se comprometam e, devido à crise econômica, não consigam alcançar esse acordo. Esse é um problema. Todos pensam que desenvolvimento é ir para os Estados Unidos, em um carrão, com TV de Plasma, ar-condicionado, chuveiro, e isso consome energia. Esse modelo de desenvolvimento tem que ser mudado, ou seja, ser menos dependente de combustíveis fósseis.
“A ciência climática fornece as evidências para que os governos tomem decisões para políticas ambientais. Mas aí vem a prioridade, e qual é prioridade?” |
José Marengo – Essa é uma questão difícil: o famoso desenvolvimento sustentável pode funcionar em escala pequena, em uma cidade. Tenho escutado de algumas pessoas que o Rio de Janeiro zerou suas emissões e, portanto, já fez a sua parte, mas as pessoas não se dão conta de que os ventos podem levar a poluição de São Paulo para o Rio de Janeiro, e continuará na mesma.
Por isso, para a definição de uma política sustentável, a agenda climática é um dos componentes, mas é preciso ter vontade política e compromissos de longo prazo; é algo que escapa um pouco da ciência climática.
Por exemplo, a ciência climática fornece as evidências para que os governos tomem decisões para políticas ambientais. Mas aí vem a prioridade, e qual é a prioridade? O meio ambiente ou a economia? Muitas vezes a prioridade é a economia e, então, a sustentabilidade passa para segundo plano ou para uma pequena escala. Mas a sustentabilidade deve ser em escala nacional, não somente na cidade ou na pequena empresa, tem de ser em todo o país. No entanto, isso é muito difícil de alcançar, em todo o mundo; não é impossível, mas é muito complicado.
IHU On-Line – Que avaliação faz das COPs enquanto instrumento para tratar das questões de mudanças climáticas? Qual a expectativa para a COP-21?
José Marengo – Sou otimista. As COPs têm tido muitos avanços, por exemplo, chegou-se a banir o uso dos carbonos para evitar perdas na camada de ozônio. As COPs são a única oportunidade de todo mundo colocar as cartas na mesa, de mostrar seus problemas, de discutir, não existe outro ambiente onde se tome esse tipo de discussão.
Tudo bem que, talvez, em Lima, por exemplo, na COP-20 do ano passado, não se chegou a muitos acordos porque todo mundo guardava material para Paris, para a COP-21, mas pelo menos se conversou sobre o problema e isso já é um avanço.
Agora, já existem compromissos pré-COPs: a Europa está levando a discussão a sério, a China e os Estados Unidos se comprometeram, o Brasil também está muito ativo. Com isso, creio e espero que saia um material dessa COP para ter um novo protocolo. Eu não sei exatamente se assinarão um novo protocolo na COP, mas espero que pelo menos seja estabelecido algo para que no futuro possa ser assinado.
O Protocolo de Kyoto, por exemplo, foi criado dentro de uma COP, mas foi assinado depois, em outro evento, na cidade de Kyoto. Mais ou menos o que se espera é isso: preparar avanços para o novo protocolo; isso já é bastante. Não sei se os membros irão assinar ou não, duvido. Mas pelo menos devem preparar avanços para um novo protocolo e grupos de trabalho em nível mundial; isso já seria um sucesso para a COP-21.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
José Marengo – Dizer que a comunidade científica brasileira que trabalha questões de clima está contribuindo ativamente com subsídios científicos para o governo, porque a representação nas COPs é feita pelos governos, pelo Ministério de Relações Exteriores, pelo Itamaraty, pelo Ministério do Meio Ambiente, mas todos os políticos que vão, levam os nossos subsídios científicos. Então estamos felizes que nos considerem seriamente agora.
Por Patriacia Fachin
(EcoDebate, 10/08/2015) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
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