segunda-feira, 14 de março de 2016

A luta contra o desaparecimento do Pantanal e das áreas úmidas

São consideradas áreas úmidas os pântanos, charcos, turfas ou locais de acúmulo de água, permanente ou temporário (Foto: Adriano Gambarini/WWF-Brasil)
Blog do Planeta


Em um século, 64% das áreas úmidas do mundo, como o Pantanal, desapareceram

JÚLIO CÉSAR SAMPAIO*
02/02/2016 - 13h38 - Atualizado 02/02/2016 13h38
As pessoas costumam associar as áreas úmidas com zonas sem utilidade, que podem ser drenadas ou aterradas para os mais diversos fins. Essa falsa crença já comprometeu 64% delas que vêm desaparecendo desde 1900, segundo cientistas ligados à Convenção de Ramsar. É um quadro bem grave e um alerta para este 2 de fevereiro, Dia Mundial das Áreas Úmidas. O WWF-Brasil tem trabalhado para reverter essa tendência.
>> O Pantanal e o equilíbrio ambiental que vem das Áreas Úmidas
>> Qual o papel do Pantanal em relação às mudanças climáticas?

Os fatores de perda das áreas úmidas variam de um lugar para outro. No Brasil, país que abriga a maior área úmida continental do planeta – o Pantanal –, as principais ameaças a esse importante ecossistema estão relacionadas à perda de cobertura vegetal para a produção de agricultura e pecuária na região, a instalação de barragens para geração hidrelétrica e o assoreamento e a poluição dos rios associados a ocupação desordenada do solo.


Todos esses impactos acontecem, em grande maioria, na parte alta, mas refletem na região mais baixa que é a planície pantaneira. Tanto o planalto e a planície são partes de um mesmo sistema e é a água que garante a vida das espécies e tornam o Pantanal um ecossistema único e muito especial, em que a natureza se expressa exuberante, rica e abundante. É também a relação com a água que faz do Pantanal um bioma sensível à degradação.


Toda água que escorre para a planície e forma o Pantanal vem do planalto onde nascem os rios. Nesta região com intensa atividade agropecuária, o desmatamento e o mau uso do solo provocam erosão, assoreamento de córregos e rios e a destruição das nascentes. Impactos esses que exigem ações estratégicas para garantir a proteção dos recursos naturais.
O Pantanal está localizado no coração da América do Sul e tem 170.500,92 mil km² de extensão, ocupando parte dos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul estendendo-se pela Bolívia e Paraguai  (Foto: Adriano Gambarini/WWF-Brasil)

Uma dessas ações estratégias pela conservação das águas é o Pacto em Defesa das Cabeceiras do Pantanal, que é realizado pelo WWF-Brasil com apoio de parceiros locais para a recuperação de 747 quilômetros de rios, pelo menos 50 nascentes e a restauração da mata ciliar de 23 mil hectares.


O Pacto foi idealizado pela organização em 2012, quando um estudo mostrou que a área das Cabeceiras estava em alto risco ecológico. Atualmente funciona como uma aliança entre os setores público e privado e organizações-não governamentais para desenvolver ações que contribuam para auxiliar o desenvolvimento econômico sustentável e a proteção do ecossistema pantaneiro.


Cada instituição que adere à aliança se compromete em implementar em seu município pelo menos três ações que preservem as nascentes e os rios, como, por exemplo, a recuperação de áreas degradadas, recuperação de nascentes, recuperação de matas ciliares, melhoria da qualidade da água dos rios, adequação ambiental de estradas rurais e estaduais, melhoria do saneamento básico ou até mesmo a troca de experiências de educação ambiental existentes na região.


Atualmente participam da iniciativa o governo do estado de Mato Grosso, 25 prefeituras do estado e mais de 30 entidades do setor privado e da sociedade civil. O resultado positivo do que se faz na parte alta contribui para preservar as águas da planície alagável. Se a gente conseguir multiplicar aquela ação em praticamente todas as cabeceiras daqui, a gente vai ter de uma vez por todas esse problema resolvido.


O WWF-Brasil também apoia a certificação de 120 mil hectares com pecuária orgânica no Mato Grosso do Sul, produzida com critérios de responsabilidade socioambiental e remunerando a produção sustentável no Pantanal.


A criação de gado é uma tradição de mais de 200 anos no Pantanal. Estabelecer uma equação de equilíbrio entre a pecuária e o meio ambiente é um dos grandes desafios da região. Por isso incentivamos os produtores locais a criar gado orgânico. Um modo de produção, que permite gerar renda respeitando os limites da natureza.


Bioma importante na manutenção da biodiversidade, abrigo para milhares de espécies e fundamental para a regulação do clima e no ciclo das águas, pois ajuda a manter limpos os estoques hídricos  (Foto: Adriano Gambarini/WWF-Brasil)

Outra estratégia para a conservação da região é o estímulo à criação e implementação de reservas particulares do Patrimônio Natural. Além de ajudar a preservar áreas importantes para a biodiversidade, mais de 80% da área do Pantanal pertence a proprietários particulares.


Em Campo Grande as respostas para a conservação ambiental vêm da conscientização. A capital do Mato Grosso do Sul foi a primeira cidade brasileira a calcular a sua pegada ecológica, uma forma de medir o uso dos recursos naturais, repensar os hábitos de consumo e melhorar a gestão ambiental da cidade.


Esta importante área úmida, o Pantanal, vai muito além das fronteiras. Ele também ocupa um trecho do território boliviano e do Paraguai. Por esse motivo o trabalho realizado pelo WWF conta com a parceria desses três países, impulsionando a troca de experiências e ajudando a ampliar o olhar sobre a bacia hidrográfica como um todo.


Uma das estratégias conjuntas é apoiar a efetiva gestão das áreas úmidas, assim como criação de novos sítios Ramsar, buscando a conservação desses sítios e ajudando a manter todas as nascentes localizadas à montante do curso hídrico, além de representarem áreas fundamentais que contribuem para um compromisso global de conservação.


Buscamos um aprendizado com esses vários olhares. Encontrar soluções com o uso de tecnologias simples e inovadoras, em que a atividade econômica e a natureza possam conviver em harmonia. Só assim poderemos manter o Pantanal não só para as espécies e pessoas que aqui vivem, mas também para toda a humanidade.

>> Pantanal: bioma de beleza inigualável também está ameaçado


Julio César Sampaio, Coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil
* Junte-se ao WWF e ajude a conservar um patrimônio natural tão importante. Contribua para que o Pantanal continue a ser um lugar rico em biodiversidade.





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