05/04/2016 06h26
- Atualizado em
05/04/2016 10h38
Projeto faz expedições a vales e serras no Entorno da capital do país.
Dos cem destinos mapeados, 12 lugares já foram batizados pelo grupo.
Cachoeira do Constantino, um dos lugares explorados pelo grupo (Foto: Orlando Barros/Arquivo pessoal)
Moradores de Brasília montaram um projeto para explorar locais
desconhecidos nos arredores da cidade. A iniciativa, que ganhou o nome
de “Trilhas Perdidas”,
já conseguiu batizar 12 lugares – cachoeiras, vales e serras – em Goiás
e Minas Gerais. Além disso, tem mais de cem locais mapeados com os
aplicativos Google Earth e OruxMaps.Grupos de três a oito pessoas são formados em cada expedição para reconhecer cânions, vales e cachoeiras brasileiras. "Por enquanto, nossos esforços estão concentrados apenas em Goiás, extremo oeste de Minas Gerais e extremo sul de Tocantins", explica o fundador do projeto, Guilherme Alexsander Pereira.
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Pereira conta que a ideia começou quando ele e os amigos decidiram ir à
cachoeira da Água Fria, que fica próxima a Formosa de Goiás. "Ficamos
sabendo dela por meio de um segurança do Parque Estadual do Itiquira, em
Formosa, que nos alertou sobre uma cachoeira ainda mais bonita que o
Salto do Itiquira.Quando fomos procurar essa cachoeira, quase não achamos nada online. Então tive essa ideia de explorar lugares que não são divulgados e quase nunca estão no mapa".
Após escolher o destino, Pereira publica em uma página do facebook, "Trekking Brasília", chamando pessoas interessadas em explorar o local para reuniões prévias. Nestas reuniões, o lugar é discutido e uma trilha é traçada em conjunto.
A maioria dos membros leva um dispositivo GPS. Também fica acertado o número de carros, o número de barracas, a alimentação, as datas de partida e de retorno e como agir em caso de emergências médicas.
"Nunca aconteceu uma emergência, mas damos dicas para que elas realmente não ocorram, como usar equipamentos de qualidade e botas boas para trilha. Mapeamos pontos de apoio nas trilhas, para que, caso ocorra algo fora do comum, possamos pedir ajuda a alguém. Também deixamos pessoas em Brasília que ficam de sobreaviso, caso alguma coisa ocorra", afirma Pereira.
Lugares mapeados pelo projeto Trilhas Perdidas (Foto: Guilherme Pereira/Arquivo pessoal)
Pereira ainda explica que, no máximo, oito pessoas podem ir com a
equipe, mas que elas devem ter algum preparo e experiência. "A pessoa
deve ter certa experiência com trekking, tem que ter condicionamento
fisico e equipamento.Para poder participar das reuniões, ela deve também saber mexer no Google Earth ou fazer um workshop com a gente", diz.
Os workshops foram feitos quatro vezes, sendo uma delas divulgada na página "Trekking Brasília". Esses workshops, que custam R$ 65, ajudam as pessoas a usar ferramentas online para localização usando coordenadas geográficas. "O custo é simbólico, mais para pagar o lugar que usamos para realizar os workshops mesmo", conta.
Vista de cima de queda no Constantino (Foto: Orlando Barros/Arquivo pessoal)
O projeto, que hoje conta com cerca de 12 colaboradores, já produz
mapas descritivos com as informações geográficas relevantes de todos os
lugares pesquisados, tracklog – caminho percorrido pela equipe com
pontos de refência e lugares para descanso – dos locais visitados, rede
de contatos de moradores próximos às trilhas e registros fotográficos.Um dos colaboradores, o bancário Orlando Barros, diz que o objetivo do projeto é a satisfação de explorar um lugar totalmente isolado. "É um prazer que nem todo mundo entende. Você andar bastante pra chegar em uma cachoeira, tirar fotos lindas, tomar banho, dormir olhando as estrelas. Nem todo mundo quer e nem todo mundo consegue também", afirma.
Barros ressalta que, para que o projeto dê certo, as pessoas que participam das expedições precisam ser solidárias. "Nós nos ajudamos muito, dividimos barraca, comida. Nos ajudamos nas caminhadas também", explica.
Córrego no Vale do Calango (Foto: Rennaly Souza/Arquivo pessoal)
Vale das Sombras Um dos locais visitados, o Vale das Sombras é composto por vários riachos e não tem muitos desníveis. O caminho para o vale tem cerca de 7 km.
"O Vale fica um pouco antes de uma cidade chamada Alvorada do Norte, em Goiás, na BR 020. Andamos até uma cachoeira totalmente desconhecida pelas pessoas do local. Ela é linda, tem uns 70 metros e fica isolada. Ninguém passou por lá antes, aparentemente. Não tem lixo, não tem pegada, não tem trilhas. Batizamos a cachoeira de Paraíso", conta Barros.
Apesar de o vale ser plano, Barros garante que a caminhada não é fácil. "Você passa por muitos rios no caminho e por pedras escorregadias. O trajeto inteiro, pra você ter ideia, dura mais de três horas", diz.
O analista de sistemas Tarcizio Ferreira Júnior, um dos colaboradores do projeto, explica que o nome surgiu antes da expedição. "No Google Earth tem uma nuvem em cima do vale e nós não conseguimos ver se tinha cachoeira ou não, por isso demos o nome de Vale das Sombras".
Cana-Brava
Rio com seis cachoeiras, o Cana-Brava é conhecido por algumas pessoas por causa da prática de canionismo. A última queda passa por três pontes naturais, formadas por grandes rochas que ligam uma margem a outra. A caminhada dura cerca de duas horas – são 5 km até o rio.
"As pessoas ficam surpresas. São seis cachoeiras e tem uma que fica isolada, muito difícil de chegar e você só desce de corda", explica Barros. O rio fica próximo à Brazlândia, em Monte Alto.
Grupo explora e batiza lugares no entorno no DF (Foto: Rennaly Souza/Arquivo pessoal)
As cachoeiras do Constantino ficam próximas a São Gabriel, em Goiás. Da cidade, o grupo pegou 100 km de estrada de chão. A trilha tem cerca de 30 km. "Tem pernoite. Dormimos dois dias lá porque a trilha é muita extensa. Acho que é a trilha mais extensa que a gente já fez aqui perto do DF".
São três quedas em sequência: uma de cinco metros, uma de 20 e outra de15 metros no início da caminhada. Há ainda uma outra cachoeira, distante 3 km da primeira. "Não é pra qualquer um porque a caminhada é extensa, ela tem muito morro, então você sobe e desce várias vezes", explica Ferreira Júnior.
Grupo durante expedição às cachoeiras do Vale das Sombras (Foto: Raíssa Fraga/Arquivo pessoal)
De acordo com Pereira, as Cachoeiras do Constantino são algumas das mais bonitas que ele já viu. "A beleza das cachoeiras é surpreendente. A gente não pensou que elas fossem tão bonitas".
Cânion do Funil
O cânion fica em Minas Gerais, perto de Buritis, depois de Cabeceiras de Goiás. O cânion é bem fechado e a caminhada, de 4 km, dura cerca de uma hora. O cânion se localiza entre dois rios que se encontram, sendo um deles sazonal.
"Tem um rio que, em época de seca, não existe", explica Ferreira Júnior. Várias quedas são formadas dentro do cânion e variam de 3 metros a 60 metros. "Um dos lugares mais bonitos que a gente já visitou. As quedas têm muito verde, a beleza é grande por causa da vegetação que nasce do lado das cachoeiras", afirma.
Cachoeira no Vale do Calango (Foto: Rennaly Souza/Arquivo pessoal)
Complexo da SafiraSão três cachoeiras, que ficam a 30 km de Brazlândia. O acesso é por meio de um morro íngreme, de 300 metros. Após a descida do morro, o grupo fez uma caminhada de 400 metros até a primeira das cachoeiras. A segunda cachoeira fica a 50 metros da primeira e a terceira queda fica a cem metros da segunda.
Complexo da Safira, nome que foi dado ao local pelo tom esverdeado da água (Foto: Fred Garcez
/Arquivo pessoal)
/Arquivo pessoal)
"Não é tão difícil de chegar, o grande problema é a descida íngreme. Nós até perguntamos pros moradores da região e ninguém conhecia as cachoeiras", afirma Ferreira Júnior. O nome Safira foi dado por causa da cor da água, que fica entre o azul e o verde por causa do céu e das ávores refletidas. "A água é bem limpa, transparente".
O grupo já visitou outros sete lugares: Vale do Calango, Trilha das Muralhas, Salto do Ribeirão, Cachoeira da Água Fria, Poço dos Tucanos, Cachoeira do Simão Correia e Gado Bravo.
Meio ambiente
A preocupação com a natureza é um dos pontos mais importantes nas expedições. De acordo com Barros, todos os membros do projeto respeitam o meio ambiente e evitam até deixar marcas de trilha nos lugares por onde passam.
"Tem uma forma correta de fazer o percurso. Não pode passar todo mundo no mesmo lugar para não deixar marca, para não abrir um canal para a chuva, até para nao causar erosão. Em relação ao lixo, a gente recolhe tudo", diz.
Barros também conta que o grupo evita fazer fogueiras para não deixar rastros e não correr riscos de causar queimadas. "Não fazemos fogueira. No Planalto Central isso é desnecessário".
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