OLHAR ANIMAL
O problema quase sempre aparece nos primeiros anos de vida, uma vez que 30% dos atos de violência contra os animais é cometido por menores de idade.
Por Alberto Barbieri / Tradução de Adriana Shinoda
Ovídio já nos havia advertido há mil anos que “a crueldade
contra animais ensina a crueldade contra humanos”, no entanto, parece
que o tempo passou em vão. Cada vez mais temos notícias de animais
queimados, cegados, enforcados, enterrados vivos, mutilados, e
inclusive, pintados por diversão ou para passar o tédio. Estas torturas
escodem algo mais profundo: o desejo, e às vezes a necessidade, de
pessoas psicológico e socialmente fracas de mostrarem-se grandes, fortes
e valentes.
Pessoas que desde muito cedo entendem seus próprios limites
sociais, intelectuais ou culturais. Que, ao perseguirem uma criatura
mais vulnerável, se sentem por um momento mais fortes, ou melhor, menos
fracas. Identificar alguém mais suscetível e frágil é a maneira fácil de
não se sentir o último dos últimos.
O problema quase sempre surge nos primeiros anos de vida.
Cerca de 30% dos atos de violência contra animais é cometido por menores
de idade, muitas vezes em grupo. Onde 94% são homens e 4% tem menos de
12 anos.
Os dados da crueldade contra animais
Pessoas com antecedentes de violência contra animais são cinco vezes mais propensas a cometer violência doméstica.
A normalidade dos abusos contra animais começa em casa
Cerca de 20% dos casos é cometido no entorno familiar.
A família é o lugar principal onde o ser humano cresce e
aprende os comportamentos, as emoções, os sentimentos e os traços que
forma a sua personalidade. Se dentro desse lugar é visto como normal
abusar de outros, muito provavelmente esta atitude será assimilada pela
criança.
Como explica a psicóloga Mireia Leal Molina: “As razões que
levam uma criança a maltratar um animal podem ser diversas: falta de
empatia, ter sido vítima de abusos, crueldade ou abandono; falta de uma
educação adequada, dirigida a reconhecer o animal como ser vivo, ainda
que diferente; ou, finalmente, a imitação dos gestos violentos
praticados pelos pais contra ele ou contra o animal, inclusive, para
punir a própria criança”.
A relação com o diferente tem um papel fundamental no
desenvolvimento psicológico humano e a educação quanto aos animais é
essencial para a formação dos conceitos de empatia, altruísmo e
aceitação.
Da crueldade contra animais à crueldade contra pessoas
Muitos estudos têm demonstrado que pessoas capazes de
cometer atos de crueldade contra animais são também capazes de cometer
violência contra seres humanos, particularmente com o mais vulneráveis e
mais submissos, incapazes de se defender.
Em 2002, os cientistas Gleyzer, Felthous e Holzer
descobriram a partir de seus estudos, uma relação entre o transtorno da
personalidade antissocial e os antecedentes de violência contra animais.
Por isso, recomendaram que os psicólogos clínicos levem em conta - dado
o estudo - frequência, motivações, tipos de animais maltratados e
natureza dos abusos.
Em um grupo formado por 96 adultos que cometeram crimes,
resultou que a metade havia praticado graves atos de violência contra
animais. Não por acaso, o ex-agente do FBI Robert K. Ressler afirmou que
“os assassinos desde muito jovens nunca aprenderam o quão mal é
arrancar os olhos de um cão”.
Sujeitos com antecedentes de violência contra animais são
cinco vezes mais propensos a cometer violência doméstica. Ainda, segundo
estudos recentes, 36% dos assassinos em série vivenciou episódios de
crueldade contra animais durante a infância. Um percentual que chega a
46% na adolescência.
Segundo a doutora Leal “nem todo indivíduo que tenha
maltratado animais será agressivo com humanos. No entanto, quase todos
os indivíduos que cometem crimes contra humanos participaram de
episódios de crueldade contra animais na infância, portanto, este é um
preditor dos transtornos futuros de conduta”.
As penas para os abusos, uma rara via
O transtorno de conduta é corrigível, mas uma vez que tenha
evoluído para um transtorno de personalidade antissocial é muito
difícil fazer algo a respeito. Na Espanha o artigo 337 do Código Penal
determina prisão de 18 meses, nos casos de violência contra animais que
leve à morte ou cause lesões graves, exploração sexual e abandono.
No entanto, ir para a prisão por abusar de um animal é uma
muita rara avis, sendo que a pena é menor que dois anos, as multas, são
cerca de 300 euros, ridículas, e dificilmente o autor da violência é
encontrado. Em 2013 foram iniciados 515 processos jurídicos por crimes
de maus-tratos a animais domésticos, o que resultou em apenas 60
condenações.
Fonte: La Vanguardia
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