segunda-feira, 12 de setembro de 2016
Japão e África do Sul enfureceram todo o congresso para a conservação da
natureza, ao se oporem a uma proposta de proibir o comércio interno do
marfim de elefante.
Por Guy Dinmore, da IPS –
Honolulu, Estados Unidos, 12/9/2016 – Os caçadores ilegais matam um
elefante a cada 15 minutos na África, para vender apenas suas presas,
segundo os resultados divulgados pelo Grande Censo de Elefantes.
A moção para frear o comércio interno de marfim, apresentada no
Congresso Mundial da Natureza, que aconteceu nos dez primeiros dias
deste mês nesta cidade do Havaí, é considerada uma das mais
significativas e controvertidas que os delegados tiveram que votar. A
União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) é responsável
pela organização desse congresso.
Mas japoneses e sul-africanos se opuseram à proibição, no dia 7, quando
um grupo de contato de representantes governamentais e de organizações
da sociedade civil tentou promover um texto de consenso da resolução,
patrocinado por Estados Unidos e Gabão. Um sinal das sensibilidades
geradas pela moção é que os meios de comunicação foram expulsos do salão
de conferências pelo presidente do grupo de contato da UICN.
As negociações se prolongaram até a noite do dia 7, mas as delegações de
Japão e África do Sul se retiraram depois que se decidiu manter os
duros termos do texto que defende a proibição.Os conservacionistas da
sociedade civil que defendem a proibição ficaram perplexos com as
tentativas de japoneses e sul-africanos, em certas ocasiões com apoio da
Namíbia, de diluir a contundência da moção.
“É uma atrocidade”, afirmou Mike Chase, fundador da organização
Elefantes Sem Fronteiras e principal pesquisador do Grande Censo de
Elefantes, realizado em 18 países. “Foram mortos seis elefantes enquanto
discutiam por uma frase”, ressaltou Chase após a primeira sessão de 90
minutos, olhando seu relógio.Por sua vez, Susan Lieberman,
vice-presidente de política internacional da Sociedade para a
Conservação da Fauna Silvestre e uma das promotoras da moção, apontou
que “existe uma crise e as pessoas a negam. De que serve a UICN se não
podemos fazer algo contundente pelo marfim?”.
Japão e África do Sul afirmam que têm interesse em salvar os elefantes
da África como os de todo o mundo, mas que a melhor maneira de fazer
isso é com um firme controle e uma regulamentação do comércio, e não com
a proibição. “Regular é ficar de braços cruzados enquanto Roma queima”,
afirmou Lieberman.
O diretor da divisão de política de biodiversidade do Ministério do
Ambiente do Japão, Naohisa Okuda, argumentou que a proibição “não é
adequada. Temos que frear todo o comércio ilegal. Não é necessário
proibir o comércio legal do marfim”, e deu como exemplo as peças que o
Japão importava antes de entrar em vigor a proibição do comércio
internacional, em 1989. “O problema é identificar o que é legal e o que é
ilegal”, ressaltou.
A comunidade internacional deve encontrar um sistema de controle efetivo
para o comércio do marfim, que seja capaz de beneficiar a conservação
de elefantes africanos, pontuou Okuda. “O sistema de controle japonês é
muito bom e efetivo, tal como reconhece a UICN. Outros países deveriam
seguir o exemplo”, acrescentou. Entretanto, numerososambientalistas não
compartilham dessa opinião e questionam a quantidade de peças em marfim
produzidas pelo Japão.
A África do Sul argumenta que as populações de elefantes estão estáveis
e, inclusive, crescem e que são necessários alguns sacrifícios, se parte
da renda obtida com a venda de marfim for dedicada aos esforços de
conservação. O governo sul-africano também organizou uma venda pontual
de excedentes de marfim, mas os ativistas afirmam que isso só serve para
disparar a atividade dos caçadores ilegais.
Morgan Griffiths, da organização WildlifeandEnvironmentSocietyof South
Africa, recordou que, apesar da sofisticada tecnologia utilizada pelo
sul-africano Parque Nacional Kruger, os caçadores ilegais tinham cada
vez menos dificuldades para entrar no parque a partir de Moçambique,
onde os elefantes estão à beira da extinção.
Griffiths está entre os que querem urgência do governo para aceitar uma
proibição sobre todo o comércio interno. “As vendas pontuais de peças de
marfim levarão a uma caçada maciça”, alertou.Outros países africanos
pedem a proibição do comércio interno de marfim, considerando que é
preciso exercer a maior pressão possível sobre China e Vietnã, os
principais importadores de marfim ilegal, para conter a demanda.
A UICN, com 1.300 membros com capacidade de voto entre organizações não
governamentais e governos, não tem autoridade legal para impor
proibições. Mas um chamado desse tipo, feito por uma das instituições
com maior autoridade em matéria de conservação, implica um considerável
peso moral e supõe uma forte pressão para que os governos atuem.
A moção sete, sobre o marfim, é uma das muitas que geraram controvérsia
no Congresso Mundial da Natureza, como as zonas proibidas, por exemplo,
sítios indígenas sagrados com rígidas leis de proteção, uma reserva
marinha que inclua 30% dos oceanos, e pautas para a “compensação de
biodiversidade” voltadas ao setor industrial.
A China é de longe o maior consumidor de marfim de contrabando, cuja
maior parte passa por Hong Kong e Vietnã. Há um ano, esse país e os
Estados Unidos anunciaram que imporiam proibição sobre seus respectivos
comércios internos. Pequim não apresentou um cronograma de execução e as
autoridades chinesas se mantinham caladas em Honolulu. Hong Kong, por
sua vez, anunciou que proibiria o comércio interno até 2021.
“É inadmissível que se mate esses animais por vaidade e mesquinhez. Para
deter o comércio de marfim temos que acabar com o fornecimento e a
demanda”, destacou Tony Banbury, responsável da Vulcan Inc., criada pelo
multimilionário filantropo Paul Allen, que financiou o Grande Censo de
Elefantes.O estudo, uma pesquisa aérea que demorou quase três anos e
rastreou 350 mil milhas quadradas, mostra que a população de elefantes
na savana de 15 países diminuiu 30%, cerca de 144 mil exemplares a
menos, entre 2007 e 2014.
O ritmo de diminuição aumenta e hoje em dia é de 8% ao ano, principalmente devido à caça ilegal. São mortos aproximadamente 27 mil elefantes a cada ano por causa de suas presas. A redução mais acentuada foi registrada na Tanzânia e no norte de Moçambique.
Fonte: Envolverde
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