Utilizar Veículos Aéreos Não Tripulados (os Vant’s) ou mais conhecidos como drones para fins de conservação ambiental não é um tema novo para o WWF-Brasil. Desde julho do ano passado, a organização vem buscando diferentes aplicações para os drones por meio do projeto Ecodrones Brasil, juntamente com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Universidade Federal de Goiás, EMBRAPA e outros parceiros.
Agora, a pesquisa se estendeu ao monitoramento de restauração de áreas em processo de restauração. O estudo está sendo realizado em três áreas piloto em diferentes biomas brasileiros: sete hectares de Cerrado no núcleo rural Pipiripau (DF); 9,5 hectares de Mata Atlântica em Lençóis Paulista (SP) e 16 propriedades rurais na região Amazônica em Apuí (AM).
“Estamos coletando dados, testando os equipamentos e comprovando hipóteses sobre a efetividade em obter os dados e o custo do monitoramento com drones, por exemplo,” explica Marcelo Oliveira, especialista em conservação do programa Amazônia do WWF-Brasil. “O que é evidente é o potencial de uso de Vant’s para auxiliar no monitoramento de áreas de restauração florestal sem a necessidade de compra de imagens de satélite que geralmente abrangem uma área maior e muitas vezes sem o detalhamento necessário para as áreas restauradas”, completa.
Esse estudo sobre uso de drones para monitoramento de restauração florestal é uma parceria do WWF-Brasil com a Universidade Federal do Goiás e a Embrapa Instrumentação, com participação do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável do Amazonas (IDESAM) para as áreas do Amazonas.
O Brasil tem uma meta de recuperação ambiental de 12,5 milhões de ha (entre APP e Reserva legal) para cumprir com o código florestal. Geralmente está restauração ocorre em pequenas áreas fragmentadas na paisagem. Segundo Marcelo, “monitorar o avanço destas áreas será fundamental para avaliar o cumprimento da implementação do código, o potencial de serviços ambientais e também para subsidiar mecanismos de incentivos econômicos, tais como créditos de carbono e PSA (pagamento por serviços ambientais)”.
O estudo avalia as potencialidades de diferentes modelos de VANTs e a qualidade dos dados obtidos em voos com diferentes configurações de altitude, velocidade e sobreposição de fotografias. Avalia, ainda, as diferenças entre resultados obtidos por câmeras RGB e GBNir (que absorvem diferentes espectros de comprimento de onda) e realiza comparações com geotecnologias tradicionais, como imagens de satélite. A proposta é entender quais os melhores equipamentos em diferentes contextos e comparar os resultados com as metodologias tradicionais de monitoramento.
“Por enquanto, os modelos multirotores mostraram-se mais adequados às aplicações propostas, já que é um modelo de fácil transporte e manuseio, resistente a ventos, robusto e tem custo de aquisição acessível. Tais condições sugerem ampla capacidade no uso deste equipamento para registrar e monitorar o processo de restauração florestal em áreas degradadas”, explica Manuel Ferreira professor do Laboratório de processamento de imagens e geoprocessamento (LAPIG) da UFG.
Ele acrescenta: “drones, especialmente o Multirotor, tem um potencial de serem mais vantajosos ao monitoramento de recuperação florestal frente a outras geotecnologias. Os satélites dependem da presença de imagens no acervo técnico do fornecedor para viabilizar um custo de aquisição mais baixo, sendo que leva-se tempo entre a coleta da imagem até a disponibilização no acervo, e além disso, essas imagens não podem conter nuvens e devem ter data específica para se registrar ocorrências nas áreas, como fogo por exemplo. E por último, “aerolevantamentos requerem maior custo de serviço devido ao porte da aeronave e contratação de piloto”, comenta.
Até o momento estão sendo feitos sobrevoos em áreas implantadas em 2012, que foram monitoradas até 2015. Segundo Leda Tavares, especialista em conservação do programa Agricultura e Meio Ambiente do WWF-Brasil, o monitoramento é parte fundamental do processo de restauração porque permite a mensuração contínua de indicadores por meio de avaliações ao longo do tempo, conferindo o desenvolvimento e adaptação das árvores a fim de favorecer o restabelecimento de ecossistemas funcionais e ricos em espécies nativas. Além disso, o monitoramento pode ser utilizado para avaliar o incremento em serviços ecossistêmicos, tais como estoque de carbono, proteção de bacias hidrográficas, como a retenção de sedimentos.
“O que estamos fazendo agora com o uso dos drones é explorar essa tecnologia e compara-la com as metodologias tradicionais. Mas vale ressaltar que não estamos avaliando a substituição de pessoas pelo drones, até porque a presença do técnico é sempre necessária”, comenta Leda.
O que enriquece essa pesquisa é o fato de compreender áreas em três biomas distintos, pois a composição florestal muda de um ecossistema para outro. “Vendo de cima, as imagens de uma área de Cerrado são diferentes das obtidas na Amazônia, por exemplo. E o drone permite um nível de detalhe mais apurado, o que facilita a interpretação das imagens”, completa.
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