quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Geólogos querem oficializar ‘Idade do Homem’

Por Camila Faria, do Observatório do Clima
Emissão de gases de efeito estufa seria critério para caracterizar 'Idade do Homem'. Foto: Larry Lee Photography/Corbis.
Emissão de gases de efeito estufa seria critério para caracterizar 'Idade do Homem'.
 Foto: Larry Lee Photography/Corbis.


Um comitê de especialistas aprovou, num congresso encerrado neste domingo na África do Sul, uma moção para fazer nada mais, nada menos do que iniciar um novo Período geológico. Na última segunda-feira (29), o AWG (Grupo de Trabalho sobre o Antropoceno, na sigla em inglês) votou no Congresso Mundial de Geologia pelo encaminhamento do pedido de oficialização do Antropoceno, após sete anos de pesquisa.


O termo, cunhado pelo Nobel de Química Paul Crutzen, em 2000, defende que o planeta está em um novo momento geológico, a “Idade do Homem”. A época sucederia o Holoceno, no qual vivemos desde o fim da última era glacial, há cerca de 12 mil anos. Para os cientistas que defendem a mudança para o Antropoceno, a influência humana sobre o planeta teria impactado permanentemente a Terra a ponto de justificar a adoção de uma nova época geológica que caracterize sua atividade.



“A humanidade, uma espécie como nunca outra houve, num curtíssimo espaço de tempo na escala de evolução da Terra, alterou profundamente os ciclos naturais e deixou uma marca tão notável que está visível no registro de camadas de rochas e o estará pela eternidade deste planeta”, afirmou o climatologista Carlos Nobre, único pesquisador brasileiro do AWG.


Entre as evidências que podem justificar a definição do Antropoceno estão o aumento da dispersão de substâncias radioativas no planeta, após os diversos testes com bombas nucleares, e as mudanças climáticas.


“A rápida introdução de gás carbônico na atmosfera nos últimos 200 anos, especialmente mais rapidamente nas últimas décadas, já aparece como um sinal, por exemplo, em material depositado no fundo do oceano ou nas bolhas de ar aprisionadas nas geleiras da Antártida”, explicou Nobre. “



O material biológico depositado no fundo do oceano começou a registrar mudança no balanço de isótopos estáveis do carbono [elementos cuja distribuição natural reflete a história dos processos físicos e metabólicos do ambiente] pela dissolução do CO2. Nas geleiras da Antártida, na parte mais alta e fria do lado oriental, menos sujeita a derretimento, as bolhas de ar das camadas recentes de neve mostram os valores mais altos do último 1 milhão de anos”, exemplifica.



Em 2015, o mundo fechou o Acordo de Paris para definir objetivos e medidas práticas para conter mudanças como as citadas pelo grupo de cientistas. “Num certo sentido, o acordo sinaliza o reconhecimento quase que unânime entre os países do mundo que é necessária uma urgente mudança em nível global para alterar a velocidade com que a humanidade está interferindo com os ciclos naturais do planeta.


O desafio é estabilizar o sistema climático em curto intervalo de tempo, o que talvez seja o maior obstáculo que a humanidade coletivamente já enfrentou”, disse Nobre.



Para os cientistas do AWG, o próximo passo rumo à oficialização da nova época geológica é definir os marcadores e uma data que será considerada como início da época do homem. Para que o Antropoceno seja de fato declarado realidade, a recomendação do grupo precisa ser aprovada oficialmente e ratificada por vários órgãos acadêmicos, o que pode levar alguns anos.


 Mais sobre esse assunto:

http://www.oeco.org.br/colunas/colunistas-convidados/antropoceno-as-ameacas-a-humanidade/

Republicado do Observatório do Clima através de parceria de conteúdo. logo-observatorio-clima

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