Dom. 23/12/2018
Com passado circense, história de vida de Rana ainda é mistério; trajeto demorou três dias
Vinicius Lemos
CUIABÁ
Em uma caixa de aço de cinco toneladas, carregada por um caminhão, a elefanta Rana percorreu 2.700 km em pouco mais de três dias. A longa viagem teve como destino o Santuário de Elefantes Brasil, em Chapada dos Guimarães (MT). É o início de uma nova vida para o animal, vítima de maus-tratos quando era mais jovem.
O santuário é um espaço destinado à conservação dos bichos. Fundado há dois anos, ele está localizado em uma antiga fazenda de gado, de 1.100 hectares —equivalente a sete parques Ibirapuera. No lugar, atualmente vivem as elefantas Maia e Guida, que também têm histórico de maus-tratos.
A história de Rana possui lacunas. A idade da elefanta, que pesa cerca de 3,5 toneladas, é estimada entre 43 e 64 anos. A principal versão sobre ela diz que o mamífero viajou pelo mundo com uma companhia circense e chegou ao Brasil em 1967. Quando a legislação proibiu o uso de animais em números circenses, foi abandonada.
Ela tem uma lesão na pata dianteira esquerda, possivelmente originada em um período em que sofreu maus-tratos.
Há algumas especulações sobre o passado do animal. Segundo a coordenação do santuário, indícios apontam que ela chegou a vagar sem rumo após ser abandonada. Outra versão diz que o mamífero viveu um período acorrentado em uma fazenda. Mas nada se sabe ao certo.
Nos últimos anos, Rana viveu no zoológico de um hotel fazenda, onde chegou após ser vendida por um circo. No último mês de novembro, os proprietários do estabelecimento decidiram doá-la ao santuário, para que o animal pudesse viver com mais liberdade.
“Agora ela terá a vida que sempre deveria ter tido, cercada por natureza e na companhia de outros elefantes”, afirmou Scott Blais, presidente do santuário.
Scott classifica Rana como um animal incrível. “Às vezes, ela parece distante, como se estivesse fugindo da própria realidade. Em outros momentos, seu olhar é bastante presente e brincalhão.”
Na manhã de terça-feira (18), ela deixou o hotel fazenda, nas proximidades de Aracaju (SE); na tarde de sexta (21), chegou ao destino.
Foram gastos R$ 108 mil no transporte. Metade do valor foi obtido com parceiros internacionais do SEB, que também atuam na preservação de elefantes. A outra parte chegou por meio de doações no Brasil, de empresas e pessoas físicas.
Os responsáveis pelo SEB dizem acreditar que Rana não terá problemas na nova moradia. "Ela receberá todo o suporte necessário para se adaptar da forma mais natural possível”, disse Daniel Moura, um dos diretores do santuário.
Ele afirmou que Maia e Guida devem receber bem a companheira. Elas passarão a dividir com Rana os 29 hectares destinados aos animais, nos quais há área médica, tanques de água, local para alimentação e área verde. “As duas são incríveis e tranquilas. Isso ajudará na recepção”, disse Moura.
Outros animais aguardam para ser levados ao santuário. Na fila, há uma família de três elefantes –pai, mãe e filha– da Argentina e um do Chile. A diretoria do SEB afirma que os trâmites para trazer animais de outros países são demorados e, por isso, ainda não há prazo para a chegada deles.
Nenhum comentário:
Postar um comentário