O que significa para o Brasil deixar de sediar a COP-25?
Participantes passam pelo logo da COP 21 - a Conferência do
Clima das Nações Unidas - realizada em Paris há três anosImagem: Stephane
Mahe/Reuters
Alex Tajra
Do UOL*, em São Paulo
28/11/2018 23h02
O presidente eleito, Jair
Bolsonaro (PSL), afirmou, nesta quarta-feira (28), que teve participação na
decisão de não receber mais a COP-25, conferência do clima das Nações
Unidas, no próximo ano. O evento seria palco das negociações para a
implementação do Acordo de Paris, que versa sobre questões como desmatamento e
redução da emissão de gases estufa.
Em comunicado oficial, o Itamaraty afirmou que “tendo em
vista as atuais restrições fiscais e orçamentárias, que deverão permanecer no
futuro próximo, e o processo de transição para a recém-eleita administração, a
ser iniciada em 1º de janeiro de 2019, o governo brasileiro viu-se obrigado a
retirar sua oferta de sediar a COP 25."
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A equipe de transição do governo, contudo, bateu cabeça nas
explicações. O futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), chegou a afirmar
que a decisão havia sido tomada estritamente pela diplomacia brasileira. O
presidente eleito, no entanto, interpelou Lorenzoni no meio da entrevista e
afirmou que "houve participação" dele na decisão.
"Houve participação minha nessa decisão. Ao nosso
futuro ministro, recomendei que se evitasse a realização desse evento aqui no
Brasil", disse Bolsonaro, em referência ao chanceler escolhido pela equipe
de governo,Ernesto
Araújo, que já se mostrou crítico do que chama de "alarmismo
climático". Araújo já deixou claro em vários artigos publicados que é
reticente em relação às teorias que endossam o aumento do aquecimento global.
Perda de liderança
Para o biólogo e coordenador do Programa de Mudanças
Climáticas e Energia do WWF-Brasil (Fundo Mundial para a Natureza), André
Nahur, a sinalização de Bolsonaro é que o país não será mais líder nas questões
ambientais, como tem se posicionado desde a realização da conferência Rio 92. O
fato de o país ser o sétimo maior emissor de gases poluentes do mundo e, ao
mesmo tempo, possuir uma rica reserva ambiental contribuíram para esse
protagonismo.
"O Brasil se tornou um player importante nesse
contexto, fomos uma das principais nações nas negociações sobre clima.
Precisamos entender que o desenvolvimento do país passa, necessariamente, pelo
respeito às nossas condições socioambientais", diz Nahur ao UOL.
Há também uma preocupação com a ingerência das mudanças
climáticas em diversos setores do país. "O desmatamento, por exemplo, vai
impactar diretamente no setor agropecuário do país. O setor de energia também
vai ser afetado, já que as alterações no clima nos obrigam a utilizar fontes de
energia renovável", explica.
Problemas econômicos
Para Nahur, entretanto, o principal revés dessa decisão do
governo está na economia do país. "É uma grande ameaça para nossa
economia, estamos perdendo visibilidade e deixando escapar várias oportunidades
que poderiam ser fundamentais para o crescimento do país", argumenta.
O biólogo ainda cita alguns pontos imprescindíveis do
desenvolvimento econômico que vão se perder com a decisão de não sediar a
conferência do clima das Nações Unidas. Entre elas o fomento às empresas que se
dedicam a energia renovável e a biomassa, que fica mais distante com a perda de
protagonismo do Brasil nas negociações sobre o clima.
Ao encontro da opinião de Nahur, um relatório produzido a
pedido do Congresso dos Estados Unidos dimensionou os prejuízos que o país pode
ter se continuar mantendo sua política em relação à exploração de combustíveis
fósseis.
O documento mostra que centenas de bilhões de dólares são gastos por conta das políticas ambientais de Donald Trump e que, até o final do século, aproximadamente 10% do PIB dos EUA será comprometido em função das mudanças climáticas.
O documento mostra que centenas de bilhões de dólares são gastos por conta das políticas ambientais de Donald Trump e que, até o final do século, aproximadamente 10% do PIB dos EUA será comprometido em função das mudanças climáticas.
"A retirada da candidatura do Brasil para a COP-25 vai
contra toda a narrativa do desenvolvimento econômico do país. Todos os cenários
mostram que houve avanços no PIB dos países que se preocuparam com as mudanças
climáticas, além da geração de empregos. Acima de tudo, essa discussão é sobre
novos postos de trabalho e redução de gastos", diz Nahur.
Críticas
O WWF já havia se manifestado sobre a desistência do
país de sediar a COP-25. "O país tem tido destaque nas negociações
internacionais de clima, exercendo um importante papel na diplomacia rumo a uma
maior redução de gases de efeito estufa. A participação do Brasil é vital para
atingir as metas mundiais, uma vez que nosso país é atualmente o 7º maior
emissor de Gases de Efeito Estufa."
Outras organizações, como o Observatório do Clima, também se
posicionaram de forma crítica a retirada de candidatura do Brasil. “Com o
abandono da liderança internacional nessa área, vão-se embora também
oportunidades de negócios, investimentos e geração de empregos”, afirma a
entidade.
O Greenpeace também criticou a decisão, afirmando que o
"Brasil envergonha a agenda climática". A ONG lembrou que o Brasil
havia chegado a um consenso na América Latina para ser a sede da COP-25, e que
a missão do país de liderar a discussão sobre as mudanças climáticas foi
fundamental para a conferência ser confirmada no Brasil.
"Voltar atrás na decisão de sediar a COP não é apenas
uma perda de oportunidade de afirmar o Brasil como uma importante liderança na
questão do clima. O gesto é uma clara demonstração da visão de política
ambiental defendida pelo novo presidente, que revela ao mundo o que já havia
dito aos brasileiros durante a campanha eleitoral; em seu governo, o meio
ambiente não é bem-vindo", afirmou Fabiana Alves, porta-voz do Greenpeace
Brasil.
* Com informações da Reuters
* Com informações da Reuters
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