Grafiteiros em ação pela Amazônia
Por Frederico BrandãoAção que utiliza a arte como forma de pedir reflexão e engajamento para a conservação da Amazônia tem movimentado o Beco do Batman, na Vila Madalena, em São Paulo. O espaço é referência para o graffiti paulistano há mais de 30 anos. E foi lá que três artistas de rua brasileiros registraram sua paixão pela Amazônia.
Binho Ribeiro, Rafa Mon e Sebá Tapajós (conheça abaixo o perfil de cada um), sob produção de Luan Cardoso, pintaram o graffiti na última semana. A obra tem chamado a atenção das pessoas que passam e param para admirá-la e fazer ‘selfies’. A pintura ficará exposta até fevereiro de 2019.
A ação acontece no mesmo momento em que o governo federal divulgou, na última sexta (23/11), o maior aumento do desmatamento da Amazônia nos últimos dez anos. Registrado pelo Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (PRODES), o desmatamento do bioma cresceu 13,7%, entre agosto de 2017 e julho de 2018, se comparado ao mesmo período do ano anterior. No total, foram suprimidos 7.900 km2 de floresta amazônica, o que equivale a mais de cinco vezes a área da cidade de São Paulo.
A ideia do graffiti surgiu em um diálogo entre WWF-Brasil e um grupo de artistas e influenciadores digitais, a partir do conceito “A Amazônia que inspira precisa respirar”, durante as celebrações do Dia da Amazônia (5/9) deste ano.
A pintura lembra a Amazônia em suas cores e formas, com destaque para a ilustração de um grande coração-árvore ao centro, que pulsa e bombeia vida para rios, florestas, espécies e comunidades.
“Como trazer a floresta e os rios para as grandes cidades, dentro e fora da própria Amazônia? Todos nós, de alguma maneira, estamos conectados à Amazônia, nos inspiramos nela e dependemos dela. Com a ação, queremos evidenciar a conexão entre as cidades e os ambientes naturais. Proteger a maior floresta tropical contínua e a maior bacia de água doce do mundo é proteger a vida; é também proteger a todos nós”, explica Gabriela Yamaguchi, diretora de Engajamento do WWF-Brasil.
Para a artista Rafa Mon, participar da ação é trazer a floresta para a cidade, para o dia-a-dia, e entender que ela está presente em todos os momentos da vida das pessoas. “A Amazônia é esse lugar magnífico, fonte de vida, e que está desaparecendo aos poucos, a olhos nus e sem o menor pudor. Por que esse santuário sagrado nos parece algo mítico, intocável e eterno? O ambiente urbano nos cega e nos faz acreditar que a floresta jamais vai nos faltar, mas as estatísticas são alarmantes, e se não pararmos para olhar e cuidar dela, rapidamente ela vai desaparecer e as consequências serão drásticas”, avalia.
Sebá Tapajós inspira-se na Amazônia diariamente e reflete isso no graffiti. “A ideia é mostrar que esse coração que pulsa cor e inspiração também clama por liberdade. E se conecta à biodiversidade de maneira generosa e farta, mas pedindo consciência, respeito e amor à Amazônia. A interação do homem deve ser integrada e amorosa, sem invadir ou deixar rastros que comprometam a vida e o futuro dessa potência tão significativa que é nossa”, comenta.
De acordo com Binho, é fundamental associar a arte com a defesa de causas importantes para a vida. “Como brasileiro, artista e morador do planeta Terra, me sinto honrado em fazer parte desse chamado para proteger a Amazônia. Todos precisamos de uma Amazônia com saúde. Precisamos preservar, ficar sempre de olho, chamando a atenção para o cuidado especial que esse lugar merece para o bem de todos”, afirma.
A pintura é acompanhada das hashtags #SomosAmazônia, #VivaAmazôniaViva e #WWFBrasil para que as pessoas possam se informar e entender de que forma podem contribuir com a conservação da Amazônia. Para mais informações, acesse: www.somosamazonia.wwf.org.br
Amazônia Viva
Estendendo-se por oito países e um território ultramarino na América do Sul (Brasil, Bolívia, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e a Guiana Francesa), o bioma Amazônia, em toda a sua imensidão e complexidade, é essencialmente uma única unidade ecológica, e provê um conjunto de bens e serviços ambientais às populações locais, aos países da região e ao mundo.
São mais de 40 mil espécies de plantas. Aproximadamente 2.500 espécies de peixes já foram descritas. No entanto, estima-se que a região possa ter mais de 6.000 espécies de peixes. Mas há muito a ser estudado e descoberto pela ciência.
Em 2017, relatório do WWF-Brasil e Instituto Mamirauá com atualização de novas espécies descobertas na Amazônia concluiu que a taxa de descobertas de novas espécies na Amazônia só tem crescido ao longo dos últimos anos. No entanto, a Amazônia ainda possui lacunas de conhecimento, muito por conta de sua extensão territorial e ausência de recursos para viabilizar pesquisas científicas. O relatório mostra ainda que muitas das descobertas foram feitas dentro de áreas protegidas e seu entorno – reforçando a importância das unidades de conservação, dos mosaicos de áreas protegidas e da necessidade de se fazer pesquisas dentro desses espaços.
Apesar de o Brasil ter avançado nas últimas décadas no monitoramento e no controle ao desmatamento, a supressão da floresta continua sendo a maior ameaça. Entre os anos de 2013 a 2017, o índice de desmatamento da região foi 38% maior que nos anos anteriores. Cerca de 71 milhões de hectares já foram perdidos – uma área equivalente às áreas dos estados de São, Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Mato Grosso do Sul somados.
“Valorizar a conservação da Amazônia é essencial para o bem-estar e a saúde das populações locais e de todo mundo, por meio de um caminho de desenvolvimento econômico, cultural e socioambiental mais responsável e justo, considerando a necessidade de manter o sistema ecológico equilibrado”, avalia Ricardo Mello, coordenador do Programa Amazônia do WWF-Brasil.
Sobre os grafiteiros
Binho Ribeiro (@binho3m)
Faz graffiti desde 1984, primórdios do movimento da arte de rua no Brasil. Hoje é um dos mais reconhecidos street artists no país não apenas pelo trabalho consistente que nunca parou de fazer nas ruas, mas também pelo apurado trabalho em telas e curadoria de grandes projetos envolvendo a street art, como o Museu Aberto de Arte Urbana de São Paulo (MAAU), o primeiro museu aberto de arte urbana do mundo, e a Bienal Internacional Graffiti Fine Art, hoje a mais completa bienal de arte urbana do mundo. Mais informações: http://www.binhoribeiro.com.br/
Rafa Mon (@rafamon)
Natural de Monte Sião (MG), Rafa Mon desenvolve seu trabalho mais autoral desde 2014. Ao imprimir um estilo único e politizado, desenvolveu estampas para diversas empresas e projetos. Dentre os destaques estão um mural de 350m2 no Riocentro; a criação da estampa para a Campanha Outubro Rosa, em São Paulo. Recentemente produziu seu maior painel na carreira que tomou toda a fachada lateral de um prédio na orla de Botafogo, com 36 metros de altura. Uma sereia negra ganhou vida e cores para trazer da Baía de Guanabara uma súplica na forma de uma pomba branca da paz. Moradora do Rio de Janeiro, suas obras podem ser vistas em vários pontos da capital carioca.
Sebá Tapajós (@sebatapajos)
Filho do consagrado violonista Sebastião Tapajós, o artista é o idealizador do Street River, a primeira Galeria Fluvial do Mundo com reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). O artista criou o projeto em 2015, quando pintou cinco casas de ribeirinhos moradores da Ilha do Combu. Por meio do projeto, Sebá carrega o legado de dar voz aos povos ribeirinhos e utiliza a arte como meio de transformação da realidade de comunidades tradicionais. Segundo ele, o Street River Amazônia é um tratado de responsabilidade social com os povos ribeirinhos. Mais informações: http://institutostreetriver.eco.br/
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