quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Correio Braziliense – Rejeito já ocupa área de 3,5km²


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Por: João Henrique do Vale e Junia Oliveira

O mar de lama que desceu da barragem da Mina do Córrego do Feijão, da mineradora Vale, em Brumadinho, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, fez desaparecer ao menos dois córregos que passavam pela cidade. Os rejeitos estão se deslocando para o Rio Paraopeba, confirmou ontem o Fórum Brasileiro de Comitês de Bacias Hidrográficas e o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba.

Segundo a Fundação Joaquim Nabuco, que monitora o avanço da lama, até domingo, os rejeitos haviam percorrido 205 quilômetros e ocupado uma área de 3,5 quilômetros quadrados. O monitoramento foi feito por meio do satélite francês Sentinel 2, que vinha sendo usado para pesquisas na Caatinga. De acordo com Luciano Siani, diretor executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, a lama deve chegar hoje a Pará de Minas, a 75,4 quilômetros da cidade onde houve o rompimento.

Divulgado ontem, o Boletim de Monitoramento Especial do Rio Paraopeba, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), prevê que a lama com rejeitos de barragem da Vale alcance, entre 15 e 20 de fevereiro, a Usina Hidrelétrica de Três Marias, na Bacia do Rio São Francisco, Região Central de Minas. De acordo com o boletim, a “água turva” percorre a Rio Paraopeba a uma velocidade de 1km/hora. Hoje à noite, os rejeitos deverão alcançar o município de São José da Varginha e, entre 5 e 10 de fevereiro, a Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, entre os municípios mineiros de Curvelo e Pompéu. Diariamente, o CPRM emite dois boletins sobre as águas contaminada do Rio Paraopeba.

Ainda de acordo com o diretor da Vale, a empresa vai tentar reduzir o impacto da lama sobre o abastecimento de água. “Estamos, a partir de amanhã (hoje), colocando uma cortina de contenção no Rio Paraopeba para impedir que o rejeito que se desloca afete a captação de água do município de Pará de Minas. Temos uma expectativa muito grande de que isso tenha sucesso”, disse.

Barreira
O ponto mais crítico é Retiro de Baixo, a 220 quilômetros do Córrego Feijão. Por ser o primeiro trecho de rio a encontrar barramento, pode ser também a solução para evitar que a lama desça ainda mais. “É possível adotar alguma medida para tentar conter o fluxo da lama, lembrando que, como é uma quantidade menor, talvez se consiga comportar nesse primeiro barramento ou no de Três Marias, que está com 57% da capacidade do reservatório. Se fechar o reservatório Retiro Baixo, é possível conter e não chegar nem a Três Marias. Mas, se não conseguir, há de se avaliar fechar as comportas de Três Marias”, explica Renato Ramos.

Suspensão
O Greenpeace pede a imediata suspensão das atividades nas 167 barragens de resíduos de mineração da Vale em operação em todo o país para evitar mais uma tragédia. “Será que todas elas também são bombas ativas que podem explodir a qualquer momento?”, questionou o geógrafo Marcelo Laterman, da campanha de Clima e Energia, da ONG. “Pedimos que a operação dessas barragens seja paralisada imediatamente e que uma revisão de engenharia seja efetivamente executada, oferecendo segurança para as pessoas, o meio ambiente e a economia do país. Não podemos deixar todo um sistema nas mãos de uma empresa negligente e criminosa”.

Corrupção em agência da ANM
A Polícia Federal identificou um esquema de corrupção na gerência regional da Agência Nacional de Mineração (ANM) na Bahia. A entidade é uma das responsáveis pela concessão de autorização para a criação e funcionamento de barragens de rejeitos. De acordo com a PF, as investigações, que começaram em 2017, identificaram “servidores da ANM, em Salvador, recebiam vantagens indevidas para priorizar o andamento de determinados processos e até mesmo modificar decisões contrárias aos interesses de empresários”. Os gerentes do órgão atuavam para atender interesses de um grupo político.

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