quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Educadores ambientais se mobilizam contra extinção de órgão gestor federal

Educadores ambientais se mobilizam contra extinção de órgão gestor federal

Medida pode ter efeito cascata, mesmo no Espírito Santo, que tem política e plano de ação próprios



Os educadores ambientais do Espírito Santo e de todo o país estão mobilizados para reverter a extinção do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA), determinada pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) em um de seus primeiros atos de governo, iniciado na última terça-feira (1).

“Os estados têm autonomia, têm política estadual, mas pode haver um efeito cascata e o enfraquecimento da educação ambiental em todo o país”, avalia Martha Tristão, membro da Rede de Educadores Ambientais do Espírito Santo (Recea) e da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (Anped).

O caráter crítico e transformador da educação ambiental é o principal motivo para que ela seja mais um dos alvos de ataques por parte do governo federal recém-eleito, “um governo conservador, que não quer que a educação ambiental ou a educação de modo geral provoque nenhuma forma de reflexão crítica em relação aos contextos vividos por comunidades, por escolas, enfim, pelas culturas locais”, pondera Martha.

A Anped é uma das entidades mobilizadas para reverter a decisão de “excluir a educação ambiental da macropolítica, pois é isso que faz com que ela tenha força e tenha espaço”, diz a educadora capixaba. São vinte anos de políticas públicas ameaçados por uma caneta, lamenta, lembrando que a Política Nacional de Educação Ambiental foi criada em 1999.

A educação ambiental é uma das estratégias mais utilizadas no processo de sensibilização, conscientização e mudança de atitudes de crianças e adultos com relação à proteção do meio ambiente uma relação mais responsável com a natureza.

Um documento essencial para entender a importância política e filosófica das práticas de educação ambiental para a evolução da humanidade em direção à sustentabilidade é o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, lançado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, Rio 92 ou Cúpula da Terra, realizada no Rio de Janeiro em 1992.

A partir daí, o Brasil continuou sendo referência no assunto, inovando, por exemplo, no modelo interministerial de implantação, unindo as pastas de meio ambiente e educação, o que influenciou as ações interinstitucionais nos estados.

O Espírito Santo está muito avançado no setor, tendo aprovado um programa estadual de educação ambiental em 2018, nove anos após a publicação da sua Política Estadual, cuja gestão está compartilhada entre o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e a Secretaria de Estado de Educação (Sedu).

“Os novos secretários das duas pastas têm o compromisso de executar o programa estadual”, enfatiza a também educadora ambiental da Recea, Flavia Nascimento Ribeiro.

“Na verdade, a gente não deveria ter uma educação ambiental específica”, argumenta Flávia. “Se a educação desse conta de tudo o que a gente presencia nesse planeta, a gente não precisaria do adjetivo ambiental, inclusão, étnico-racial, direitos humanos ... Se a gente traz esses adjetivos é sinal de que são questões que precisam ser visibilizadas na sociedade”, diz.

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