Quando madeireiros me cercaram em Altamira, campeã de desmatamento em 2019
Cidade no Pará já teve 297 km² de área desflorestada e é 2ª maior em focos de incêndio neste ano.
Altamira (PA)
— O maior município brasileiro é o campeão de desmatamento da Amazônia
Legal em 2019. Até julho deste ano, calculam-se 297,3 km² de área
desflorestada em Altamira, no Pará, de acordo com o Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais). É a segunda cidade com maior número de
focos de incêndio de 1º de janeiro a 14 de agosto deste ano: 1.630, segundo o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia.
Foi esse o cenário onde muita fumaça e um forte cheiro de queimado marcaram meu encontro com um grupo de madeireiros neste domingo (25). Foi em Uruará, distrito rural de Altamira, a 180 km do centro da cidade.
A fumaça estava vindo de três lotes, cada um com cerca de 5.000 m². Saí do carro para tirar as fotos e, enquanto fazia os retratos dos restos de terra queimados, quatro madeireiros surgiram repentinamente. Um deles estava em uma moto.
Pareciam irritados com minha presença. Expliquei que estava procurando focos de incêndio. “Não tem fogo nessa região”, diziam todos ao mesmo tempo. Me apresentei como repórter, e eles se queixaram que “jornalistas só falam coisas ruins e erradas na TV”. “É melhor você sair daqui”, sugeriu um deles, em tom de ameaça. Nenhum quis se identificar, é claro.
Foi esse o cenário onde muita fumaça e um forte cheiro de queimado marcaram meu encontro com um grupo de madeireiros neste domingo (25). Foi em Uruará, distrito rural de Altamira, a 180 km do centro da cidade.
A fumaça estava vindo de três lotes, cada um com cerca de 5.000 m². Saí do carro para tirar as fotos e, enquanto fazia os retratos dos restos de terra queimados, quatro madeireiros surgiram repentinamente. Um deles estava em uma moto.
Pareciam irritados com minha presença. Expliquei que estava procurando focos de incêndio. “Não tem fogo nessa região”, diziam todos ao mesmo tempo. Me apresentei como repórter, e eles se queixaram que “jornalistas só falam coisas ruins e erradas na TV”. “É melhor você sair daqui”, sugeriu um deles, em tom de ameaça. Nenhum quis se identificar, é claro.
Mais cedo, o funcionário de um posto de gasolina no trecho urbano de Uruará havia apontado para o local daquele encontro tenso. “Ontem nós podíamos ver daqui a fumaça forte e escura”, disse Eduardo da Silva Loureiro, 28 anos. “Esse tipo de queimada é muito comum nesta região; os madeireiros estão limpando o terreno.”
Perto do distrito de Medicilândia, tive uma experiência parecida. Ao me deparar com fogo às margens da BR-230, a Trans-Amazônica, também encostei o carro para fotografar. Um homem saiu da casa, do alto do terreno, gesticulando que eu não poderia fazer as fotos. Achei mais prudente não tentar entrevistá-lo.
Esse
clima tenso no ar, misturado à fuligem, não parece ser exceção.
Diferentes fontes em Altamira me relataram um recente ataque a carros do
Ibama, instituto de meio ambiente, quando correu a notícia de que
haveria mais inspeções nessa área ao norte de Altamira. Até uma ponte
teria sido destruída por madeireiros.
Um dos problemas relatados por um fiscal do Ibama que entrevistei é o próprio acesso na região amazônica. Os trechos longos de estrada de terra na BR-230 dificultam chegar às áreas de mata onde ocorrem incêndios. Gravei um vídeo da minha rota:
https://www.youtube.com/watch?v=r642V9vxVpM#action=share
Um dos problemas relatados por um fiscal do Ibama que entrevistei é o próprio acesso na região amazônica. Os trechos longos de estrada de terra na BR-230 dificultam chegar às áreas de mata onde ocorrem incêndios. Gravei um vídeo da minha rota:
https://www.youtube.com/watch?v=r642V9vxVpM#action=share
Foi aqui em Altamira, mais
ao sul, que um grupo de aproximadamente 70 pessoas no WhatsApp marcou o
“Dia do Fogo” no último 10 de agosto. Além de madeireiros, fazendeiros,
grileiros e sindicalistas participavam do grupo, segundo a revista Globo Rural.
Eles atearam fogo de maneira coordenada na vegetação às margens da BR-163, que conecta o Pará a Mato Grosso. O fogo avançou mata adentro. A intenção do grupo, segundo a reportagem, era mostrar ao presidente Jair Bolsonaro apoio às suas políticas ambientais — e acenar para uma tentativa de revogar multas por crime ambiental.
“Não tem esse fogo todo que a televisão está mostrando todos os dias. Aqui chove toda semana”, argumentou Rosana Magalhães, dona de um restaurante no distrito de Alvorada.
“É muito sensacionalismo, muita montagem. Nas imagens que a gente recebe, a Nasa até colocou a capital de Roraima no lugar errado”, disse o piloto do avião que me levou do Belém a Altamira e que preferiu não se identificar. “Tenho voado desde segunda (19) e não vi nenhum ponto de fogo sequer”, afirmou o profissional com 35 anos de aviação.
Em edição extra do Diário Oficial da União neste domingo (25), o presidente determinou a investigação de “ação premeditada e criminosa” em queimadas na Floresta Nacional de Altamira. Os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Justiça, Sérgio Moro, tweetaram sobre a denúncia.
Eles atearam fogo de maneira coordenada na vegetação às margens da BR-163, que conecta o Pará a Mato Grosso. O fogo avançou mata adentro. A intenção do grupo, segundo a reportagem, era mostrar ao presidente Jair Bolsonaro apoio às suas políticas ambientais — e acenar para uma tentativa de revogar multas por crime ambiental.
Fogo divide moradores do Pará
A ação que a Polícia Federal vai investigar ocorreu no distrito de Cachoeira da Serra, mais ao sul de Altamira. Devido à extensão do município, moradores do norte do Pará acreditam que os incêndios exibidos na TV sejam “mentira”.“Não tem esse fogo todo que a televisão está mostrando todos os dias. Aqui chove toda semana”, argumentou Rosana Magalhães, dona de um restaurante no distrito de Alvorada.
“É muito sensacionalismo, muita montagem. Nas imagens que a gente recebe, a Nasa até colocou a capital de Roraima no lugar errado”, disse o piloto do avião que me levou do Belém a Altamira e que preferiu não se identificar. “Tenho voado desde segunda (19) e não vi nenhum ponto de fogo sequer”, afirmou o profissional com 35 anos de aviação.
Começou a sair uma fumaça mais escura, como se fosse um vulcão em erupção.
Em
Belém, por outro lado, uma fumaça espessa foi vista na última
sexta-feira (23). Do seu quiosque no tradicional Mercado Ver-o-Peso,
onde há 20 anos vende peixe frito e açaí, Alda Figueiredo, 40, conta que
nunca viu uma cena como aquela.
“Está vendo ali?”,
disse, apontando para o que parece uma ilha do lado oposto da Baía do
Guajará. “Começou a sair uma fumaça mais escura, como se fosse um vulcão
em erupção”, descreveu-me na manhã de sábado (24), olhando para as
águas tranquilas.
Carmelita dos Passos, 70, quase 40 de
mercado, também viu o céu escurecer enquanto vendia jatobás, abricós e
outras frutas típicas. Ela atribui a fumaça à falta de cuidados com a
floresta que lhe serve de ganha-pão há tantos anos.
“O
Bolsonaro só ontem [sexta] vai e anuncia alguma coisa. Uma vergonha essa
demora. Ele acha fácil mandar gente lá pro meio da floresta? Quantos
morrem lá dentro?!”, opinou. Em pronunciamento em cadeia nacional na sexta-feira à noite, o presidente anunciou o uso das Forças Armadas para combate ao fogo na Amazônia.
De
acordo com o Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da
Amazônia, a névoa que atingiu Belém na sexta foi provocada por elevada
umidade relativa do ar, associada às queimadas no sudoeste do Pará e em
estados vizinhos. Os ventos transportaram a fuligem, como ocorreu em São Paulo na última semana.
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Em edição extra do Diário Oficial da União neste domingo (25), o presidente determinou a investigação de “ação premeditada e criminosa” em queimadas na Floresta Nacional de Altamira. Os ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e da Justiça, Sérgio Moro, tweetaram sobre a denúncia.
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