Queimadas na Amazônia em 2019 seguem o rastro do
desmatamento
20.08.2019 • Notícias
O número de focos de calor registrados na Amazônia já é 60%
mais alto do que o registrado nos três anos anteriores. O pico tem relação com
o desmatamento, e não com uma seca mais forte como poderia se supor, segundo
nota técnica sobre a atual temporada de queimadas que o IPAM (Instituto de
Pesquisas Ambiental da Amazônia) divulga hoje.
De 1º de janeiro a 14 de agosto, 32.728 focos foram
registrados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) no bioma. Uma
das hipóteses para explicar a alta em 2019 seria uma estiagem intensa, como
registrada em 2016. Mas ela não se confirmou: apesar da seca, há mais umidade
na Amazônia hoje do que havia nos últimos três anos.
Se a seca não explica as queimadas atuais, a retomada da
derrubada da floresta faz isso. O fogo é normalmente usado para limpar o
terreno depois do desmatamento, e a relação entre os dois fatores é positiva em
uma análise entre os focos de calor e o registro de derrubada feito pelo
Sistema de Alertas de Desmatamento (SAD).
“Não há fogo natural na Amazônia. O que há são pessoas que
praticam queimadas, que podem piorar e virar incêndios na temporada de seca”,
explica a diretora de Ciência do IPAM, Ane Alencar, uma das autoras da nota.
“Mesmo em uma estiagem menos intensa do que em 2016, quando sofremos com um El
Niño muito forte, o risco do fogo escapar é alto.”
A fumaça desencadeia uma série de problemas respiratórios em
quem mora na região, o que gera ainda gastos com saúde pública e prejuízos
econômicos pela ausência de funcionários. No Acre, que a nota destaca como
exemplo, os satélites já registraram 1.790 focos de calor, número 57% mais alto
do que em 2018 e 23% mais alto do que em 2016, com cidades respirando uma
quantidade de material particulado muito acima do que é recomendado pela
Organização Mundial de Saúde.
“As consequências para a população são imensas. A poluição do
ar causa doenças e o impacto econômico pode ser alto”, diz o pesquisador sênior
do IPAM Paulo Moutinho. “Combater o desmatamento, que é um vetor das queimadas,
e desestimular o uso do fogo para limpar o terreno são fundamentais para
garantir a saúde das pessoas e das florestas.”
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