quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Pantanal ganha nova brigada comunitária de combate ao fogo

 WWF

Pantanal ganha nova brigada comunitária de combate ao fogo



10 dezembro 2020    
WWF-Brasil apoiou treinamento em resposta rápida ao bioma e à comunidade

Por WWF-Brasil

“O fogo está perto! Ô, Jesus, não tem brigadista, alguém que possa vir com emergência, agora? Olha lá, tá cada hora mais perto, olha lá!”. O relato desesperado, feito em outubro, é de uma moradora do distrito de Porto Esperança, localizado às margens do Rio Paraguai, a 72 quilômetros de Corumbá, MS. No início daquele mês, as 48 famílias residentes na localidade se viram ameaçadas pelas queimadas que consumiram mais de 4,4 milhões de hectares no Pantanal, 30% da área total do bioma.

“Foi desespero, uma tragédia, moro aqui há 16 anos com meu marido e nunca nos deparamos com uma situação de queimada tão próxima”, lembra Natalina Oliveira Mendes, da Associação de Mulheres Ribeirinhas do Porto Esperança.

Na área de difícil acesso, o jeito foi contar com o improviso e a união de adultos e crianças, que correram para área de mata, munidos de baldes com água e até um trator para conter o fogo e salvar os animais, acuados pelas chamas.  Idosos passaram mal com densa fumaça e fuligem. Os focos só foram totalmente extintos horas depois, com a chegada do Corpo de Bombeiros.

Treinamento para a comunidade
A comunidade se prepara agora para combater incêndios futuros, desta vez, aliando técnicas e uso de equipamentos adequados de combate às chamas. O Prevfogo, centro especializado de prevenção e combate aos incêndios florestais, órgão ligado ao Ibama (Instituto Brasileiro de Recursos Naturais e Renováveis), ministrou um curso para a formação de brigadistas comunitários.

O curso tem apoio da Ecoa (Ecologia em Ação), por meio do projeto transfronteiriço ECCOS, com suporte da União Europeia e do WWF-Brasil em que serão formados oito moradores de Porto Esperança que serão multiplicadores das técnicas e poderão agir na proteção da região.

O diretor-presidente do Ecoa, André Luiz Siqueira, explicou que a ONG organizou a realização do treinamento, oferecendo apoio logístico para a equipe do Prevfogo e do transporte do material doado pelo WWF-Brasil, a ser usado pelos novos brigadistas.

Neste primeiro momento, segundo explica o analista de conservação do WWF-Brasil, Osvaldo Barassi Gajardo, foram doados 7 kits completos, contendo Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), uniformes e equipamentos de combate ao fogo.

Siqueira disse que o envolvimento dos parceiros é fundamental e chega em momento importante, em que são necessárias medidas preventivas. “Acaba reverberando para outras instituições, mostra que precisam se envolver no tema incêndio”, avaliou.

Auxílio aos ribeirinhos
Para chegar a Porto Esperança é necessário fazer trajeto saindo de Corumbá, por cerca de 72 quilômetros e, depois, mais 20 minutos de travessia pelo Rio Paraguai, a partir de Porto Morrinho. A difícil travessia e o isolamento da comunidade despertaram a atenção do chefe da Brigada Pantanal do Prevfogo, Ruberval Dimas do Patrocínio. Ele entrou em contato com a Ecoa e falou da necessidade da formação de brigada comunitária. Dessa discussão, foi definida a realização do curso de brigadistas comunitários, fruto da parceria já existente com o WWF-Brasil.

Patrocínio explica que o curso ensinou “o que funciona e não funciona no combate ao fogo”. Entre as técnicas, a quebra da combustão no chamado “triângulo do fogo”, com as três regras básicas para extinção do incêndio: reduzir temperatura do ambiente, retirada do combustível (gás, gasolina, madeira, carvão) e/ou do comburente (oxigênio, por exemplo).  Os recém- formados brigadistas aprenderam a manejar sopradores, queimador para incêndio controlado (pinga-fogo) e abafadores.

José Domingos Benites foi um dos participantes do curso. “A experiência que estou tendo é muito importante. Se acontecer um incêndio de novo, Deus ajude que não, a gente já vai saber o que fazer até a chegada da equipe e dar continuidade no combate”. Amarildo Pereira Mendes citou as técnicas aprendidas em queimada na ilha com uso dos equipamentos. “Aprendemos o básico para apagar o fogo.  Isso é muito importante”.

Resposta emergencial de apoio ao Pantanal

Para apoiar o Pantanal, o WWF-Brasil, que já tinha envolvimento na formação de brigadas comunitárias, focou em Mato Grosso do Sul para criar brigadas comunitárias no Assentamento 72 (Ladário), Parque Estadual Nascente do Rio Taquari, Comunidade São Francisco/Paraguai Mirim e Barra do São Lourenço, ambas em Corumbá. As ações ainda se estenderão até junho de 2021, com implantação dos grupos em outras localidades.
Para o próximo ano, de acordo com Gajardo, também há perspectiva de parceria com Imasul para formação de mais 60 brigadistas e ainda grupo em aldeias indígenas do Mato Grosso. “Não é a solução do problema, mas é a primeira resposta para minimizar ou conter o fogo para que não vire um grande incêndio”, disse, acrescentando ser estratégia de adaptação às mudanças climáticas.

A doação dos equipamentos no Pantanal faz parte do Projeto “Respostas Emergenciais em Campo”. O analista de conservação do WWF-Brasil, Cassio Bernardino, diz que a ideia é focar em diferentes tipos de ação, que envolvem, ainda, ajuda humanitária, fomento às pesquisas sobre impacto na flora e fauna dos incêndios e melhorias em técnicas de manejo do fogo. “Este foi ano atípico nos dados de incêndio, identificamos o problema e entendemos que é fundamental estruturar essa resposta da melhor maneira possível”.

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