Retrospectiva 2020: Amazônia segue sob forte pressão ambiental
21 dezembro 2020
Bioma sofreu com desmatamento e queimadas, enquanto o garimpo, a violência e o novo coronavírus ameaçam os povos indígenas
Por WWF-Brasil
Em 2020, a Amazônia continuou sob forte pressão ambiental, com aumento
do desmatamento, recordes de queimadas, crescente ação do garimpo,
violência contra povos da floresta e ameaças de novos projetos de
infraestrutura. Esse cenário, associado à pandemia de Covid-19, deixou
ainda mais vulneráveis as populações indígenas, principais guardiões da
floresta Amazônica.
Diante desse contexto crítico, o WWF-Brasil realizou diversas ações
emergenciais, com parceiros locais, com o objetivo de amenizar os
problemas que ameaçam a sobrevivência dos povos da região e auxiliar na
conservação de suas áreas naturais.
Além dessas ações em campo, ao longo do ano, nos posicionamos e
colocamos em destaque a discussão sobre as ameaças à Amazônia, que foram
objeto de diversos estudos, seminários e eventos.
Desmatamento
Em abril, a devastação da Amazônia já apresentava evidente trajetória de
crescimento. Os alertas de desmatamento registrados entre agosto de
2019 e abril de 2020, em uma área de 5.666 km2, já apontavam um
crescimento de 94% em relação ao mesmo período no ano anterior.
Em junho, a
maior devastação já registrada para os cinco primeiros meses de um ano na Amazônia legal: 2.032 km2 entre 1 de janeiro e 31 de maio.
Os alertas apontavam, em agosto, para
mais de 9 mil quilômetros quadrados de desflorestamento, indicando o fracasso do poder público em conter o crime ambiental na floresta. Tudo indicava que o
desmatamento de 2020 seria ainda pior que o de 2019, foram desmatados 1,2 milhão de hectares, sendo 63% na Amazônia.
O temor foi confirmado no fim de novembro, quando dados oficiais revelaram uma
devastação de mais de 11 mil km2 em 2020, 9,5%
a mais em relação ao dramático período anterior. O crescente
desmatamento denunciou o quanto está ultrapassado o modelo de
desenvolvimento da região.
Ao longo do ano, atuamos em conjunto com diversos parceiros para
denunciar e reverter os fatores que levaram ao crescimento do
desmatamento no bioma. Em julho, o WWF-Brasil e um grupo de
organizações da sociedade civil ingressou com pedido no TCU
(Tribunal de Contas da União) para uma auditoria nas políticas do
Governo Federal de combate ao desmatamento e queimadas na Amazônia.
Em agosto, 60 organizações e coletivos da sociedade civil, incluindo o
WWF-Brasil, entregaram a representantes do Congresso Nacional um pacote
de ações emergenciais que incluía o
estabelecimento de uma moratória ao desmatamento na Amazônia.
O combate ao desmatamento e as queimadas também foi beneficiado por nosso projeto de utilização de
drones para monitoramento de áreas remotas da Amazônia. O
projeto doou 19 drones para 18 organizações
de seis estados da Amazônia, totalizando cerca de R$ 300 mil, além de
oferecer capacitações e outras ferramentas como GPS, celulares e
notebooks.
Queimadas
Além do desmatamento, a Amazônia sofreu também com a crise das queimadas
que assolou o Brasil em 2020. Em julho, o Inpe (Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais) já apontava que a Amazônia Legal havia
perdido mais de 3 mil km2 de florestas no primeiro semestre do ano, 26% a mais que no primeiro semestre de 2019.
Em agosto, o instituto divulgou que em julho
mais de 6,8 mil focos de queimadas haviam sido detectados, aumento de 28% em relação ao mesmo período de 2019. Em outubro de 2020, foi registrado o
maior número de queimadas na Amazônia em 10 anos: 17.326 focos de calor, um aumento de mais de 120% em comparação a outubro de 2019.
O WWF-Brasil realizou diversas ações emergenciais para enfrentar essa
crise, apoiando especialmente quem atuou na linha de frente de combate
ao fogo. Em junho, doamos mais de 1.300 peças de combate ao fogo, como
abafadores, sopradores, bombas-costais, e equipamentos de proteção
individual ao
Corpo de Bombeiros do Amazonas e à
Sema (Secretaria de Meio Ambiente) do Acre.
Em julho, um
projeto em parceria com Idesam (Instituto
de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia), deu ao
município de Apuí (AM) -que não possui unidade do Corpo de
Bombeiros- autonomia no combate inicial a queimadas. O projeto capacitou
pequenos produtores rurais para o manejo do fogo e forneceu
equipamentos de combate a incêndios e de proteção individual para 15
brigadistas. Além disso, entregamos um drone à Prefeitura de Apuí para
auxiliar nas atividades de monitoramento e combate às queimadas.
Em março
doamos mais de 1.440 itens, no valor de R$ 189 mil, para Sema (Secretaria Estadual de Meio Ambiente) do Amazonas que, em julho, recebeu
mais 60 itens de combate ao fogo, em um novo investimento de R$ 52 mil. Em agosto, para contribuir na mitigação dos efeitos das queimadas sobre a fauna,
apoiamos a SOS Amazônia na realização do seminário “Cuidados e Procedimentos de Resgate de Fauna Afetada pela Atividade do Fogo no Estado do Acre”.
Povos indígenas: violência e Covid-19
Em 2020, a crescente pressão de invasores sobre as Terras Indígenas da Amazônia resultou em episódios revoltantes como o
assassinato de Ari Uru-eu-wau-wau, em Rondônia, em abril. A violência contra povos indígenas já havia marcado 2019, com os assassinatos de lideranças como
Paulo Paulino Guajajara e
Dorivan Soares Guajajara.
Mas, além da violência, a presença cada vez maior de invasores deixou os
povos indígenas mais expostos à pandemia de Covid-19. A vulnerabilidade
à doença e a precariedade da assistência oferecida pelas autoridades
públicas produziu um terrível quadro humanitário na região. Ao longo do
ano, o WWF-Brasil atuou em diversas frentes para oferecer apoio
emergencial aos povos da Amazônia.
Em maio, foi traçado um plano emergencial para atender os afetados na
Amazônia com doação de alimentos, produtos de higiene, EPIs
(Equipamentos de Proteção Individual) e outros materiais. No
total, foram atendidas
mais de 7 mil famílias indígenas e 100 trabalhadores de cooperativas agroextrativistas, com mais de 15 toneladas de alimentos e produtos de higiene, EPIs e outros equipamentos.
Em julho, doamos 294
cestas básicas com alimentos e produtos de higiene para mais de 1.650 indígenas de
aldeias localizadas nos estados de Mato Grosso, Pará e Rondônia, em uma
ação que apoia mais de 30 mil pessoas na Amazônia e no Cerrado. Também
em julho, doamos 233 cestas básicas e máscaras de proteção, beneficiando
mais de mil agroextrativistas da Resex Ituxí e Médio Purus, em Lábrea, no sul do Amazonas.
Em agosto, com apoio do ISPN (Instituto Sociedade População e Natureza), doamos
cestas básicas para 412 famílias indígenas de 13 aldeias de povos Guajajara e Timbira no Maranhão. No total, foram doados 4.223 quilos de alimentos.
Em setembro, em parceria com um grande grupo de organizações, sob
liderança da Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia
Brasileira), ajudamos a
instalar quatro Unidades de Atenção Primária Indígenas
em quatro aldeias da Amazônia, nos estados do Pará, Acre e Amazonas.
Entre junho e dezembro, uma outra parceria entre o WWF-Brasil, a Coiab e
diversas outras organizações, levou
insumos para garantir o sustento de 927 famílias e proteção contra a Covid-19 de 54 aldeias em oito Terras Indígenas do Amazonas.
Em dezembro,
mais de 50 organizações da área socioambiental, incluindo o WWF-Brasil,
protocolaram manifestação na Assembleia Legislativa de Rondônia
contra um projeto de lei (PLC 80/2020) que pretende diminuir duas
Unidades de Conservação onde vivem indígenas isolados: a Reserva
Extrativista Jaci-Paraná e o Parque Estadual Guajará Mirim. O projeto do
governo estadual retiraria mais de 160 mil hectares das duas áreas
protegidas, entregando-as a criadores de gado que expulsaram
seringueiros com o uso de violência.
Infraestrutura
Os projetos de construção e pavimentação de estradas que ameaçam o meio
ambiente na Amazônia também não deram trégua em 2020. Em maio, o
WWF-Brasil se posicionou contra a proposta do senador Márcio Bittar
(MDB-AC), que aproveitou a distração causada pela pandemia de Covid-19
para anunciar o planejamento de estudos para a
construção de uma estrada em uma das áreas mais preservadas do bioma: o trecho da BR-364 entre Cruzeiro do Sul, no Acre e Pucallpa, no Peru.
Em junho, nos mobilizamos junto a diversas outras organizações, com a participação de 156 lideranças indígenas, para que os
povos tradicionais sejam ouvidos na discussão sobre a controversa pavimentação da BR-319.
Defendemos a construção de um protocolo de consulta dos povos indígenas
sobre questões de infraestrutura que impactem suas vidas - assim como
determina a Convenção 169 da OIT. Em setembro, a questão do
licenciamento da BR-319 foi discutida no cinedebate “
Infraestrutura na Amazônia e invisibilidade dos povos indígenas”, promovido pelo WWF-Brasil em parceria com o MPF-AM e o Idesam.
Estudos, eventos e mini-documentários
Em maio, lançamos o documentário “Expedição Solar”, gravado durante uma
viagem por 10 dias pelo Rio Purus, próximo à cidade de Lábrea (AM). O
filme conta a história do
projeto piloto Resex Solar, que leva energia solar a comunidades da região que não têm luz elétrica. Em junho, foi a vez do
mini-documentário “Defensores da Floresta”,
que mostra o cotidiano de uma comunidade ribeirinha do interior da
Amazônia, dividida entre os benefícios de viver em meio à natureza, a
constante tensão de defender seu território de invasores e grileiros
Em agosto, estudo realizado por pesquisadores do WWF-Brasil, Fiocruz e outras instituições mostrou que, no Amapá, os
peixes mais contaminados por mercúrio pelas atividades de garimpo são justamente os mais consumidos:
o pirapucu, o tucunaré e o trairão. A concentração de mercúrio nos
peixes coletados pelos cientistas excedeu o limite de segurança em 77,6%
dos peixes carnívoros. Outro estudo de pesquisadores do WWF-Brasil e
Fiocruz, divulgado em novembro, revelou os
impactos do mercúrio na saúde do povo indígena Munduruku, no Pará: a contaminação chega a 90% em aldeias às margens dos rios.
Em setembro, um estudo realizado por pesquisadores do WWF-Brasil,
Universidade Federal do Acre, Embrapa Acre e Secretaria de Meio Ambiente
do Acre, mostrou que os
sistemas agroflorestais são a melhor alternativa para o desenvolvimento da Amazônia.
Também em setembro, várias instituições da Coalizão Brasil Clima,
Florestas e Agricultura, incluindo o WWF-Brasil, coordenou um estudo
sobre a rastreabilidade da carne bovina no Brasil, mostrando que é
possível
monitorar a origem da carne na Amazônia, uma importante ferramenta para reduzir o desmatamento no bioma.
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