Quadrilha da marcha a ré: Prejuízo ao comércio e ao cidadão da capital
Ação de ladrões assusta motoristas. Crimes que dão certo tendem a ser copiados, diz estudioso Ludmila Rochaludmila.rocha@jornaldebrasilia.com.br
Logo no primeiro final de semana do ano, a auxiliar administrativa Isabela Luíza de Lima, 21 anos, passou por um susto. A jovem teve o carro furtado em frente à casa da prima, em Ceilândia, por volta das 2h30. Ela ainda não sabia, mas era mais uma vítima da “gangue da marcha a ré”. O Jornal de Brasília mostrou ontem, com exclusividade, que o modo de agir destes criminosos é ousado: eles roubam carros para arrombar os comércios.
O veículo de Isabela, um Corsa de cor roxa, ano 1997, não tinha seguro. “Estava silencioso e eu ouvi o barulho do motor quando um dos bandidos deu a partida. Corremos para a janela e ainda avistamos o carro no final da rua”, relembra.
A polícia chegou a ser informada de que o carro estava sendo usado para cometer um furto a uma loja de eletrônicos, mas os bandidos fugiram.
No dia seguinte, o delegado da 26ª DP de Samambaia avisou que o veículo havia sido achado em uma outra loja da mesma rede.
De acordo com o delegado, “os bandidos haviam utilizado o carro para dar ré em cima do portão da loja e entrar. Porém, não conseguiram acessar o estabelecimento, e, na fuga, deixaram o carro para trás”.
Passados quase 15 dias, só essa semana a jovem pôde recuperar o veículo, que permaneceu sob a custódia da polícia desde o dia em que foi encontrado para que fosse feita a perícia. “O para-choque foi arrancado, os faróis dianteiros quebrados e a pintura ficou completamente arranhada. Agora, finalmente, vamos arrumar”, diz Isabela.
Desmanche
Não é todo mundo que tem a sorte de recuperar o carro. Frequentemente, os veículos, após serem utilizados em ações criminosas, são levados para outros estados; queimados para apagar possíveis vestígios ou até desmanchados.
Somente na madrugada da última quinta-feira, pelo menos dois estabelecimentos comerciais foram arrombados pela quadrilha da marcha a ré no Distrito Federal: um em Samambaia e o outro em Ceilândia. Celulares, tablets e televisores foram levados. A ação dos criminosos consiste em dar ré com os carros em cima dos portões das lojas – isso porque esta marcha permite que a força seja maior. Muitas mercadorias, portões e grades das lojas também ficaram danificados.
Investigação
De acordo com o delegado-chefe adjunto da Delegacia de Repressão a Roubos e Furtos de Veículos (DRFV), Marco Aurélio Virgilio, que cuida do caso, “as testemunhas dos crimes de quinta ainda estão sendo ouvidas. A polícia está apurando todos os locais que foram vítima da ação dos meliantes. Um Sandero vermelho foi encontrado e investigamos se foi usado no crime”.
Para evitar, “pense como o ladrão”
Números da Secretaria de Segurança Pública mostram que, de 2012
para 2013, houve um acréscimo significativo nos casos de crimes contra o
patrimônio. Essa modalidade abrange roubos e furtos a transeuntes; em
veículos (objetos no interior); a veículos e a residências. O aumento
percentual total dessas ocorrências foi de 5,21%.
Em 2012, foram registrados 25.587 crimes contra o patrimônio,
contra 29.065 no mesmo período do ano passado. Quase 3,5 mil a mais. O
final do ano continua sendo o período em que esses delitos mais ocorrem.
De acordo com o especialista em segurança pública Nelson Gonçalves,
“quando determinados tipos de crime aparentam estar dando certo para os
bandidos, eles podem ir para outras regiões, ou, diante do ‘sucesso’
desses indivíduos e quadrilhas, passar a ser copiados. O DF infelizmente
não está livre disso”.
Como se prevenir
Segundo Gonçalves, que é professor de Tecnologia em Segurança e
Ordem Pública da Universidade Católica, “o furto, na maioria das
vezes, é um crime de oportunidade”. E acontece porque a pessoa está
facilitando a ação criminosa de alguma forma. Por esse motivo, os
condutores devem evitar estacionar em locais afastados, onde há pouca
vigilância e iluminação, e que deixe vulneráveis o veículo e os
objetos que possam estar no seu interior.
Deve-se evitar deixar itens de
valor no carro. Se isso for realmente necessário, no entanto, é melhor
que os produtos sejam colocados no porta-malas.
“O bandido vai procurar a melhor chance. Cabe a nós criar
mecanismos que tornem desfavorável a ação criminosa”, alerta Nelson.
Outra dica do professor é instalar películas (autorizadas pelo Código
Brasileiro de Trânsito) para dificultar a visibilidade do interior do
veículo. “Pense como o bandido”, conclui.
A PM alerta a população para que não coloque adesivos que exponham
informações pessoais. Isso vale, por exemplo, para adesivos de
faculdades ou escolas, times de futebol e algo que indique que o carro
pertence a uma mulher.
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