Migração cresceu na cidade depois da instalação de posto da Previdência e, com ela, a pobreza e os preços de aluguéis e de produtos
Publicação: 07/07/2014 08:51Correio Braziliense
Trecho do Rio Negro que margeia São Gabriel da Cachoeira: onde há rochedo sempre existe uma barraca usada por aqueles que não possuem dinheiro para se instalar em outro lugar. Local é conhecido como Vila Azul |
São Gabriel da Cachoeira (AM) — A instalação de uma agência da Previdência Social no município, no fim do ano passado, fez com que os preços disparassem. Do dia para a noite, a cidade foi invadida por milhares de famílias indígenas, atraídas pela promessa de benefícios pagos pelo governo, como o bolsa família, auxílio-maternidade e aposentadoria rural. Quem tinha espaço para alugar faturou alto com o desespero dos que ainda conseguiam pagar por moradia. Os extremamente pobres, por sua vez, acabaram montando barracos às margens e no meio do Rio Negro. Os aglomerados precários evoluíram para pequenas favelas, batizadas de Vila Azul, por causa da cor das lonas improvisadas como abrigo para indígenas.
São sintomas de uma cidade que, apesar de rica, não consegue traduzir em desenvolvimento todo o dinheiro que circula no comércio. Quatro anos após a implementação do real, em 1998, apenas 1,2% das residências de São Gabriel da Cachoeira tinha acesso à rede pública de esgoto. Mesmo hoje, essa é uma realidade que não atinge boa parte da população, a maioria indígena, como o lavrador Xavier Durão Riveira, 54 anos.
Não fosse a determinação de querer mudar o curso da própria vida, ele estaria, ainda hoje, sem um teto para os filhos e netos, todos indígenas da etnia baníwa-kuripáko. Os dias duros de trabalho na lavoura geraram frutos que ele hoje colhe com alegria. A casa que construiu “com as próprias mãos”, como gosta de lembrar, não tem luxos. Pelo contrário. O esgoto é a céu aberto, e o abastecimento de água é proveniente da chuva. Se não é a vida que sonhou, é, pelo menos, uma vida melhor do que a tinha quando morava na mata, como ele diz. “Estou bem aqui. Estou feliz”, confidencia. Xavier acredita que a vida urbana poderá proporcionar aos filhos um bem maior sobre o qual só ouve falar: o valor de conseguir ler e escrever o próprio nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário