Núcleo de campanha de Marina une ex-figurões do PT e do PSDB
O núcleo da campanha presidencial de Marina Silva une políticos de partidos que costumam estar em campos opostos nas eleições. Nomes fortes que estão na órbita da candidata vieram do PT e do PSDB, siglas em que até pouco tempo eram figuras de destaque.
Marina tem afirmado durante sua campanha que pretende montar um governo com a participação de lideranças de vários partidos --incluindo os rivais PT e PSDB, que disputam eleições como principais adversários desde 1994.
Para o jurista e presidente do Instituto Avante Brasil, Luiz Flávio Gomes, a disposição de Marina em "unir" quadros dos dois partidos em seu eventual governo é mais uma necessidade prática do que um plano com fundamentação ideológica.
"A verdade é que não teria outra forma de Marina compor um governo, os partidos de sua coligação não possuem quadros suficientes para isso", diz o especialista.
Segundo Gomes, seria possível que o plano funcionasse, em virtude da necessidade das legendas em se manterem ativas no cenário nacional.
"Se o PSDB fizer oposição a Marina em um eventual governo do PSB, corre o risco de desidratar e se tornar um novo DEM [partido que diminuiu de tamanho ao longo dos anos em que ocupa a oposição, desde 2002]. Já o PT poderia fazer parte do governo na esperança de contar com o apoio de Marina para reeleger Lula em 2018, já que a candidata disse ser contrária á reeleição".
Veja, abaixo, quem são as pessoas que estão ao lado de Marina Silva na corrida eleitoral.
Walter Feldman (Rede/PSB-SP)
Apesar de ser atualmente filiado ao PSB, é o porta-voz da Rede de Sustentabilidade, partido que Marina tentou criar a tempo para as eleições deste ano, mas não conseguiu. Sua proximidade ao PSDB também o credencia como interlocutor com a sigla em um eventual governo de Marina Silva.
Sua carreira política foi quase toda construída no seio do tucanato paulista. Cumpriu dois mandatos como deputado estadual (1995-2003), ocupou a presidência da Assembleia Legislativa, foi líder do governo e depois secretário-chefe da Casa Civil do governador Mário Covas (PSDB) e foi secretário municipal de José Serra (PSDB) em 2005 e de Gilberto Kassab (então no DEM) de 2007 a 2012.
Em 2008, começou a se distanciar das lideranças estaduais do partido. Defendeu que o PSDB apoiasse Kassab à reeleição em São Paulo, o que não ocorreu.
Sua situação no partido se deteriorou nesse período, e, em 2011, chegou a dizer que deixaria a legenda, só para voltar atrás seis meses depois, ao regressar de uma viagem a Londres.
Já em 2013, junto com Marina Silva, Feldman passou a trabalhar na criação do partido Rede de Sustentabilidade, colhendo assinaturas e convidando políticos a integrarem as fileiras da futura legenda. Em outubro do mesmo ano, entregou sua carta de desfiliação do PSDB. No mês seguinte, novembro, ao constatar que não seria possível formar o novo partido a tempo das eleições de 2014, o deputado anunciou sua filiação ao PSB. Defende uma aliança com tucanos em um eventual governo marinista
Maria Alice Setúbal (Neca Setúbal)
A socióloga e educadora de 63 anos é a coordenadora, ao lado de Maurício Rands, do programa de governo de Marina Silva. É também uma das herdeiras do Banco Itaú, além de irmã de seu atual presidente, Roberto Setúbal.
Maria Alice sempre atuou profissionalmente na área da educação, e foi graças às suas atividades neste campo que se aproximou da pessebista, a quem apoia desde 2008, ano em que conheceu a atual candidata à presidência.
Formada em ciências sociais e doutorada em psicologia da educação, fundou (1987) e preside o Cenpec (Centro de Pesquisa para Educação e Cultura), ONG ligada ao Itaú que se tornou referência nacional na produção de material didático, formação de professores e avaliação das escolas.
Conheceu Marina Silva por meio de seu amigo de infância Guilherme Leal, fundador da empresa Natura e candidato à vice-presidente na chapa de Marina (então no PV, Partido Verde) em 2010.
Em 2011, ao lado de Leal, Marina Silva e outros quatro intelectuais, fundou o IDS (Instituto de Democracia e Sustentabilidade, organização que anunciava o desejo de "buscar alternativas de desenvolvimento para o Brasil com base em novos valores e premissas, fundamentados na valorização do potencial econômico, patrimônio ambiental e diversidade sociocultural do País".
Como presidente do Cenpec, aproximou-se do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), enquanto este era ministro da Educação (2005-12).
Desta relação, surgiram afinidades políticas que levaram Maria Alice Setúbal a apoiar publicamente a candidatura de Haddad à prefeitura paulistana, em 2012. Mantém até hoje boas relações com o prefeito e com setores acadêmicos do petismo.
Atualmente, é tida como nome certo em um eventual governo de Marina Silva. Embora negue que existam planos para que venha assumir a pasta da Educação em um governo marinista, admite abertamente que "estará ao lado de Marina" no ano que vem, no Planalto ou não.
Maurício Rands (PSB-PE)
O advogado e professor universitário Maurício Rands é o coordenador de programa de governo da candidatura Marina Silva, função que exerce ao lado de Maria Alice Setúbal. Seu papel é mais técnico do que político, já que abandonou um mandato de deputado federal em 2012 para trabalhar na iniciativa privada fora do país.
Era homem de confiança de Eduardo Campos e chegou a ser cotado para concorrer à sucessão dele no governo de Pernambuco, antes de assumir o posto de coordenador de programa na campanha presidencial.
Começou na política quando ainda era estudante e tinha 20 anos, em 1981, no PMDB, mas sua carreira política foi quase toda construída no PT. Em 2001, foi secretário de assuntos jurídicos da Prefeitura do Recife durante a administração de João Paulo (PT).
Foi eleito a dois mandatos como deputado federal, permaneceu na Câmara de fevereiro de 2003 a julho de 2012 e foi líder da bancada do PT em 2008. Em 2012, lançou-se pré-candidato à prefeitura do Recife, mas o diretório pernambucano sofreu interferência da executiva nacional do partido, e seu nome foi preterido, o que o fez abandonar a legenda e o mandato parlamentar.
Viajou para fora do país e abandonou a política por mais de um ano. Em outubro do ano passado, foi convidado por Eduardo Campos a voltar ao país e se filiar ao PSB. Dois meses depois, assumiu a coordenação do programa de governo.
Beto Albuquerque (PSB-RS)
O deputado federal é o candidato a vice-presidente da chapa "Unidos pelo Brasil" e também líder da bancada do PSB na Câmara. É um homem de partido, nunca foi de outra sigla que não o PSB.
Advogado por formação, o pessebista tem 51 anos e está na política há 28. Em 1986, filiou-se ao PSB. Foi eleito deputado estadual no Rio Grande do Sul por dois mandatos (1991-99) e deputado federal mais quatro vezes (1999-2003; 2003-07; 2007-11; 2011-15).
É considerado um dos nomes do time de Marina Silva com boa interlocução com o PT. Além de sempre ter feito parte da base de sustentação na Câmara dos governos Lula e Dilma, foi secretário estadual de Transportes do Rio Grande do Sul (1999-2002), na administração de Olívio Dutra (PT-RS), e secretário de Infraestrutura e Logística do mesmo Estado (2011-2012), na administração de Tarso Genro (PT-RS).
Quando deixou o governo Genro para reassumir seu mandato de deputado em Brasília, disse que deixava o cargo por diferenças de pontos de vista eminentemente técnicas. Dizia que sua relação com o governador petista não havia sofrido "um arranhão sequer", o que foi confirmado, à época, por Tarso Genro.
Assim que voltou à Câmara, foi convidado pelo então presidente do PSB, Eduardo Campos, a assumir a liderança da bancada do partido na casa legislativa, cargo que ocupa até hoje. Sua escolha como vice na chapa de Marina Silva se deve exatamente à sua identificação com o PSB.
Luiza Erundina (PSB-SP)
A veterana deputada federal é a coordenadora-geral da campanha de Marina Silva. Ela assumiu a vaga no lugar de Carlos Siqueira, secretário-geral do PSB, que deixou a coordenadoria de campanha após divergências com a nova candidata do partido à Presidência.
Aos 79 anos, 55 dos quais dedicados à política, a deputada e ex-prefeita de São Paulo pelo PT (1983-93) é tida como uma reserva moral do partido, além de ser detentora de considerável patrimônio eleitoral.
Tanto é assim que, após a morte de Eduardo Campos, o nome de Erundina foi cotado para assumir a candidatura presidencial, por ser uma figura que teria capacidade de unir em seu entorno a legenda socialista e as outras siglas da coligação.
A paraibana, que já foi secretária municipal (Campina Grande-PB), vereadora (São Paulo) e prefeita (São Paulo), está em seu quarto mandato de deputada federal por São Paulo, sem que tenha tido, até hoje, escândalos de corrupção ou malversação do dinheiro público pesando sobre seu nome.
Além disso, Erundina é uma das fundadoras do PT, ficou no partido de 1980 até 1997, quando deixou a sigla após aceitar o convite para compor o governo do então presidente Itamar Franco (PMDB-MG).
Apesar de sua saída tumultuada do Partido dos Trabalhadores, possui boa interlocução com amplos setores do petismo e com algumas de suas principais lideranças, como Lula, Eduardo Suplicy e Fernando Haddad.
Roberto Freire (PPS-SP)
O deputado federal Roberto Freire é presidente do PPS (Partido Popular Socialista) e a principal liderança da legenda, que é a segunda maior da coligação Unidos pelo Brasil, atrás apenas do próprio PSB, partido de Marina e de Beto Albuquerque, candidato a vice.
Presidente de uma sigla que é aliada ao PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira) desde 2004, Freire é tido como uma possível voz de interlocução com os tucanos em um eventual governo marinista a partir de 2015.
Veterano na vida pública, o pernambucano Roberto Freire tem 72 anos e faz política desde 1962, quando entrou no então clandestino PCB (Partido Comunista Brasileiro). Em 1968, após o endurecimento da ditadura com a publicação do AI-5 (Ato Institucional nº 5), exilou-se no Chile.
De lá, voltou em 1970 e, em 1972, foi candidato a prefeito de Olinda (PE) pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro).
Em 1985, com o PCB de volta à legalidade legalidade, concorreu e perdeu a disputa pela prefeitura de Recife. No ano seguinte, foi eleito deputado federal pelo partidão.
Em 1992, transformou o partido no atual PPS, dando início a um processo de condução da sigla da esquerda para a centro-esquerda.
No mesmo ano, entrou na base de apoio do presidente Itamar Franco (PMDB), que era vice-presidente de Fernando Collor de Mello (então no PRN), e se tornou o líder do governo na Câmara.
Depois disso, apoiou Lula e o PT nas eleições e no Congresso até 2004, quando deixou a base de apoio do governo Lula, passando a integrar o bloco de oposição junto com o PSDB e o PFL, atual DEM.
A partir daí, Freire e seu partido não deixaram mais a oposição, tendo apoiado a candidatura presidencial de Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006 e a de José Serra em 2010.
Há um ano, em agosto de 2013, Roberto Freire ainda trabalhava com as hipóteses de levar o seu partido a apoiar Aécio Neves (PSDB), Eduardo Campos (PSB), Marina Silva (ainda tentando viabilizar uma candidatura pela Rede de Sustentabilidade) ou ainda convencer José Serra (PSDB-SP) a se filiar ao PPS e lançar candidatura própria.
Acabou optando por aderir à candidatura de Campos. Com a morte do pessebista em um acidente de avião no dia 13 de agosto, passou a integrar a coordenação da campanha presidencial de Marina Silva.
Eduardo Giannetti
Seu nome sempre figura, ao lado do do ex-presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) André Lara Resende, como um potencial membro da equipe econômica em um eventual governo de Marina Silva.
O economista segue ao lado da candidata desde 2010, quando já trabalhou na estruturação da parte econômica de seu plano de governo. É crítico à atual administração federal e propõe a criação de um novo modelo de crescimento que priorize a educação e o meio ambiente.
Defende a sustentação da economia com base no tripé formado por câmbio flutuante, superávit primário e Banco Central autônomo. Acredita que a atual equipe econômica se descuidou da inflação, o que contribuiu para que se gerasse um "colapso de confiança" em relação á macroeconomia brasileira.
Sobre a autonomia do Banco Central, defende que se dê por meio de uma equipe que tenha um mandato com meta de inflação a ser atingida e tendo a Fazenda como aliada, não inimiga.
Para ele, "não deveria caber a membros da equipe econômica ou do Executivo se pronunciarem sobre ou darem palpite sobre como deve ser a política monetária", conforme afirmou em entrevista ao jornal "Estado de S.Paulo", em fevereiro deste ano.
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