14/11/2014 14h54
- Atualizado em
14/11/2014 20h52
Qual a razão da falta de chuva neste ano? Teremos racionamento?
Níveis dos reservatórios continuam distantes do que é considerado ideal.
Apesar da volta das chuvas nas primeiras semanas de novembro, o cenário do abastecimento de água em São Paulo
para o futuro próximo ainda tem muitas incertezas. Os níveis dos
reservatórios continuam muito distantes do que é considerado ideal.
Reunimos aqui algumas dúvidas sobre a atual crise hídrica. Qual a razão da falta de chuva neste ano? O desmatamento na Amazônia contribuiu para seca? Houve falta de preparação para que não chegássemos ao quadro atual?
Veja as dez perguntas abaixo:
Mesmo que as chuvas do fim do ano e começo de 2015 fiquem dentro da
média, a situação dos reservatórios não deve voltar ao normal quando
acabar a estação chuvosa – entre março e abril.
Em relatório de outubro, a Sabesp avaliou que o sistema poderá chegar a abril sem qualquer recuperação de seu "volume útil". São projetados três cenários:
a) Chove nas represas dentro da média para o período - a chamada afluência. Nesse caso, até abril do próximo ano, o volume útil do sistema chegaria a 369,7 bilhões de litros - aproximadamente 25% do total. Cantareira com 100% de sua capacidade tem 1,4 trilhão de litros.
b) Chove 75% do previsto, o que resultaria no volume de 148,8 bilhões de litros até abril.
c) Chove algo perto do registrado em 1953, o índice mais baixo da série histórica. Neste caso, o sistema dependeria do volume morto porque o déficit de abastecimento chegaria a 50 bilhões de litros.
Segundo Ricardo de Camargo, chefe da estação meteorológica da Universidade de São Paulo (USP), não há indicação de que as chuvas no Sudeste superem a média prevista. Para a empresa Climatempo, a expectativa é que só em janeiro o volume útil do Sistema Cantareira comece a se recuperar. As chuvas de novembro e dezembro devem servir apenas para recuperar a reserva técnica dos reservatórios.
Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo
Primeiro, a água precisa se infiltrar no solo – o chamado “efeito
esponja” – e só depois de formado um fluxo mínimo o reservatório passa a
encher de fato.
Foto: Reprodução/Globo News
2015 pode ser um ano tão ou mais complicado que 2014 em relação à
chuva, diz Willians Bini, da Somar Meteorologia.
“Se não forem tomadas medidas para melhorar a gestão, pode até mesmo faltar água”, afirma. A Sabesp afirma que, segundo suas previsões, “se as chuvas ocorrerem dentro da normalidade, é possível recuperar o sistema, atravessar o próximo período seco e chegar até o verão, no final de 2015”.
Desde o começo da crise hídrica, o governador Geraldo Alckmin afirma que haverá água "permanentemente". Alckmin pediu em 10 de novembro R$ 3,5 bilhões ao governo federal para a construção de oito "grandes" obras que servirão a partir de 2015 para o enfrentamento da crise.
Em 5 de novembro, o governador também apresentou um conjunto de ações para combater os efeitos da seca em São Paulo que, segundo a companhia, vai “aumentar a flexibilidade operacional” do sistema de represas, além da construção de reservatórios para aumentar a capacidade de armazenamento da água.
Foto: Isabela Leite/G1
No verão de 2013-2014, choveu 70% abaixo da média na região do Sistema
Cantareira.
“Analisando uma série de dados a partir de 1961 no Estado de São Paulo, essa foi a pior seca”, diz Marcelo Seluchi, meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As causas são debatidas pelos especialistas e ainda não há consenso.
A seca atual não é decorrente apenas do último verão de pouca chuva, afirma o meteorologista Willians Bini, da Somar. Segundo ele, o país está sob influência de um ciclo climático, previsto para a segunda década do século 21, chamado de Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Diferente do El Niño ou La Niña, que costumam durar pouco (entre um e três anos), a ODP tem duração média de 20 a 30 anos.
Segundo Bini, neste ano entramos na fase “fria” do ciclo, marcada por acumulados anuais menores de preciptação. “Seu principal efeito é na região mais central do Brasil, com menos chuvas”, explica.
Marcelo Seluchi, do Cemaden, diz que também formou-se um sistema de alta pressão bem em cima da região Sudeste, atingindo parte do Nordeste e Centro-Oeste.
Foto: J. Duran Machfee/Estadão Conteúdo
É um fenômeno que bloqueou ventos da Amazônia e impediu que a umidade
chegasse a níveis mais altos da atmosfera e formasse as nuvens.
É como colocar uma pedra no meio de um rio: a água (ou o ar, no caso da atmosfera) é desviada para os lados. Num sistema do tipo, o ar desce em forma de espiral do céu para o solo, onde encontra temperaturas mais altas que provocam a evaporação das gotículas de água.
“É extremamente rara a intensidade desse sistema de alta pressão [neste ano] e também a persistência – durou mais de 40 dias.”
Foto: André Lucas/Futura Press/Estadão Conteúdo
Segundo todos os meteorlogistas consultados, não é possível prever se
irá se repetir um sistema tão atípico como o que ocorreu no verão
passado.
Foto: Roosevelt Cassio/Reuters
Há comprovação científica da relação da seca com o aumento do desmatamento na Amazônia.
No relatório divulgado no dia 30 de outubro pelo pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), concluiu que a falta de chuvas, sentida principalmente no Sudeste, é uma consequência indireta da diminuição da quantidade de árvores.
No bioma, isso impede o fluxo da umidade entre o Norte e o Sul do país, pelos chamados “rios voadores” – grandes nuvens de umidades responsáveis pelas chuvas. Sem a cobertura vegetal, o fluxo da umidade do solo para a atmosfera é interrompido.
Assim, os rios voadores, que são transportados pelos ventos da Amazônia para o restante do país, não “seguem viagem”, causando escassez hídrica.
Desde o início da década de 1970 até 2013, aponta o estudo, o desmatamento gradual e a exploração madeireira destruíram 762.979 quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente a duas vezes o território de Alemanha. No entanto, ainda faltam estudos conclusivos sobre desmatamento e estiagem.
Sobre a relação com o aquecimento global, Marcelo Seluchi, do Cemaden, afirma não ser possível cravar que o prolongamento do sistema de alta pressão (veja explicação mais acima) e a seca tenham sido resultado disso.
Segundo ele, pesquisas mostram, na verdade, tendência de a estação chuvosa continuar com bom volume nos próximos anos. Mas ela deve ser mais curta e com chuvas concentradas.
E isso pode ter efeitos ruins: “Em vez de seca, o que pode acontecer são enchentes, desastres naturais. Isso faz parte de um conjunto de mudanças climáticas, não dá para apontar uma culpa. Provavelmente, a questão das chuvas concentradas tem relação com aumento de temperaturas”.
Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Segundo Ricardo de Camargo, da USP, não se pode falar apenas das chuvas
quando se analisa as razões para a crise hídrica de São Paulo. “A
demanda por água superou em muito a oferta nos últimos anos no Brasil. A
gente tira muito mais do que repõe.”
O Sistema Cantareira está num processo de redução nos últimos 20 anos, afirma Orivaldo Brunini, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. Além do aumento de consumo de água, ele cita maior impermeabilização do solo e menor preservação dos mananciais como fatores que afetam a recuperação do volume dos reservatórios.
Foto: Victor Moriyama/G1
Marcelo Seluchi, do Cemaden, explica que não é possível prever com
muitos meses de antecedência sistemas de alta pressão como o que ocorreu
no verão passado.
Porém, para Neide Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a seca em si não era uma surpresa. “O problema [a estiagem] vem desde 2013, quando o nível das chuvas também foi baixo. Deveriam já montar uma estratégia para evitar a falta de água”, afirma.
Willians Bini, meteorologista da Somar, consultoria que atende empresas do setor energético, diz que a seca atual não é decorrente apenas do último verão de pouca chuva e que há alguns anos se formava um “cenário meteorológico caótico”. “Há pelo menos dois ou três anos, variando por região, estamos com chuvas abaixo da média registrada nos verões dos últimos 30 anos.” No Sudeste, dos últimos 36 meses, 32 tiveram chuvas abaixo do normal, afirma Bini.
Sobre a falta de chuvas, a Sabesp informou que além do ano hidrológico 2013-2014 ter apresentado “índices pluviométricos fortemente desfavoráveis na bacia de contribuição do Cantareira”, a estiagem veio “associada a temperaturas médias elevadas, as mais altas registradas nos últimos 70 anos”.
“Foi a pior seca desde que as medições dos institutos de meteorologia começaram, há 84 anos. (...) Em dezembro de 2013, foi registrado índice 72% menor que a média. Em janeiro e fevereiro choveu cerca de 65% menos que o normal”, disse a companhia em nota.
Foto: Victor Moriyama/G1
Antônio Carlos Zuffo, professor de hidrologia e recursos hídricos da
Universidade de Campinas (Unicamp), diz que um sistema hídrico não pode
considerar apenas os volumes de chuva médios, porque eles nunca ocorrem.
E existem medidas de gestão para enfrentar situações atípicas.
Segundo ele, após a seca histórica, a Sabesp ignorou uma ferramenta chamada de “curva de aversão ao risco”, que estabelece limites de vazão de acordo com o volume dos reservatórios. “Continuaram tirando mais água do que deveriam até abril, quando o Ministério Público pediu o cumprimento da outorga [documento que permite a exploração de recursos naturais e estabelece as regras]. Isso acelerou a crise”, avalia Zuffo. O pesquisador diz ainda que a população deveria ter sido avisada com mais antecedência sobre a gravidade da situação e a necessidade de economizar água.
O professor também diz que era possível ampliar a produção de água de reúso a partir do tratamento de esgoto. “Só tirando os lançamentos de esgoto já teríamos uma melhora na aparência e no cheiro dos rios. Depois do tratamento, eles deixariam de ser poluídos e haveria novas fontes de água na própria capital”, explica Zuffo. A Sabesp afirma que desde 2012 realiza o projeto Aquapolo, “que elevou em 13 vezes o volume de água de reúso fornecido pela empresa”.
Em 5 de novembro, o governador Geraldo Alckmin anunciou um plano para usar o esgoto tratado para abastecer a represa de Guarapiranga e o Rio Cotia. A obra tem previsão de entrega para dezembro de 2015.
Em resposta a esses questionamentos, a Sabesp afirmou em nota que cumpre todas as exigências de operação do Cantareira estabelecidas pelos órgãos reguladores: Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e Agência Nacional de Águas (ANA). Afirma ainda que a população foi “amplamente informada sobre a gravidade da crise e passou a colaborar adotando medidas de uso racional” e que “os balanços da adesão ao bônus oferecido pela companhia comprovam o fato”.
Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo
Reunimos aqui algumas dúvidas sobre a atual crise hídrica. Qual a razão da falta de chuva neste ano? O desmatamento na Amazônia contribuiu para seca? Houve falta de preparação para que não chegássemos ao quadro atual?
Veja as dez perguntas abaixo:
Em relatório de outubro, a Sabesp avaliou que o sistema poderá chegar a abril sem qualquer recuperação de seu "volume útil". São projetados três cenários:
a) Chove nas represas dentro da média para o período - a chamada afluência. Nesse caso, até abril do próximo ano, o volume útil do sistema chegaria a 369,7 bilhões de litros - aproximadamente 25% do total. Cantareira com 100% de sua capacidade tem 1,4 trilhão de litros.
b) Chove 75% do previsto, o que resultaria no volume de 148,8 bilhões de litros até abril.
c) Chove algo perto do registrado em 1953, o índice mais baixo da série histórica. Neste caso, o sistema dependeria do volume morto porque o déficit de abastecimento chegaria a 50 bilhões de litros.
Segundo Ricardo de Camargo, chefe da estação meteorológica da Universidade de São Paulo (USP), não há indicação de que as chuvas no Sudeste superem a média prevista. Para a empresa Climatempo, a expectativa é que só em janeiro o volume útil do Sistema Cantareira comece a se recuperar. As chuvas de novembro e dezembro devem servir apenas para recuperar a reserva técnica dos reservatórios.
Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo
Foto: Reprodução/Globo News
“Se não forem tomadas medidas para melhorar a gestão, pode até mesmo faltar água”, afirma. A Sabesp afirma que, segundo suas previsões, “se as chuvas ocorrerem dentro da normalidade, é possível recuperar o sistema, atravessar o próximo período seco e chegar até o verão, no final de 2015”.
Desde o começo da crise hídrica, o governador Geraldo Alckmin afirma que haverá água "permanentemente". Alckmin pediu em 10 de novembro R$ 3,5 bilhões ao governo federal para a construção de oito "grandes" obras que servirão a partir de 2015 para o enfrentamento da crise.
Em 5 de novembro, o governador também apresentou um conjunto de ações para combater os efeitos da seca em São Paulo que, segundo a companhia, vai “aumentar a flexibilidade operacional” do sistema de represas, além da construção de reservatórios para aumentar a capacidade de armazenamento da água.
Foto: Isabela Leite/G1
“Analisando uma série de dados a partir de 1961 no Estado de São Paulo, essa foi a pior seca”, diz Marcelo Seluchi, meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. As causas são debatidas pelos especialistas e ainda não há consenso.
A seca atual não é decorrente apenas do último verão de pouca chuva, afirma o meteorologista Willians Bini, da Somar. Segundo ele, o país está sob influência de um ciclo climático, previsto para a segunda década do século 21, chamado de Oscilação Decadal do Pacífico (ODP). Diferente do El Niño ou La Niña, que costumam durar pouco (entre um e três anos), a ODP tem duração média de 20 a 30 anos.
Segundo Bini, neste ano entramos na fase “fria” do ciclo, marcada por acumulados anuais menores de preciptação. “Seu principal efeito é na região mais central do Brasil, com menos chuvas”, explica.
Marcelo Seluchi, do Cemaden, diz que também formou-se um sistema de alta pressão bem em cima da região Sudeste, atingindo parte do Nordeste e Centro-Oeste.
Foto: J. Duran Machfee/Estadão Conteúdo
É como colocar uma pedra no meio de um rio: a água (ou o ar, no caso da atmosfera) é desviada para os lados. Num sistema do tipo, o ar desce em forma de espiral do céu para o solo, onde encontra temperaturas mais altas que provocam a evaporação das gotículas de água.
“É extremamente rara a intensidade desse sistema de alta pressão [neste ano] e também a persistência – durou mais de 40 dias.”
Foto: André Lucas/Futura Press/Estadão Conteúdo
Foto: Roosevelt Cassio/Reuters
No relatório divulgado no dia 30 de outubro pelo pesquisador Antônio Nobre, do Centro de Ciência do Sistema Terrestre (CCST), concluiu que a falta de chuvas, sentida principalmente no Sudeste, é uma consequência indireta da diminuição da quantidade de árvores.
No bioma, isso impede o fluxo da umidade entre o Norte e o Sul do país, pelos chamados “rios voadores” – grandes nuvens de umidades responsáveis pelas chuvas. Sem a cobertura vegetal, o fluxo da umidade do solo para a atmosfera é interrompido.
Assim, os rios voadores, que são transportados pelos ventos da Amazônia para o restante do país, não “seguem viagem”, causando escassez hídrica.
Desde o início da década de 1970 até 2013, aponta o estudo, o desmatamento gradual e a exploração madeireira destruíram 762.979 quilômetros quadrados de floresta, uma área equivalente a duas vezes o território de Alemanha. No entanto, ainda faltam estudos conclusivos sobre desmatamento e estiagem.
Sobre a relação com o aquecimento global, Marcelo Seluchi, do Cemaden, afirma não ser possível cravar que o prolongamento do sistema de alta pressão (veja explicação mais acima) e a seca tenham sido resultado disso.
Segundo ele, pesquisas mostram, na verdade, tendência de a estação chuvosa continuar com bom volume nos próximos anos. Mas ela deve ser mais curta e com chuvas concentradas.
E isso pode ter efeitos ruins: “Em vez de seca, o que pode acontecer são enchentes, desastres naturais. Isso faz parte de um conjunto de mudanças climáticas, não dá para apontar uma culpa. Provavelmente, a questão das chuvas concentradas tem relação com aumento de temperaturas”.
Foto: Ricardo Moraes/Reuters
O Sistema Cantareira está num processo de redução nos últimos 20 anos, afirma Orivaldo Brunini, pesquisador do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas. Além do aumento de consumo de água, ele cita maior impermeabilização do solo e menor preservação dos mananciais como fatores que afetam a recuperação do volume dos reservatórios.
Foto: Victor Moriyama/G1
Porém, para Neide Oliveira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a seca em si não era uma surpresa. “O problema [a estiagem] vem desde 2013, quando o nível das chuvas também foi baixo. Deveriam já montar uma estratégia para evitar a falta de água”, afirma.
Willians Bini, meteorologista da Somar, consultoria que atende empresas do setor energético, diz que a seca atual não é decorrente apenas do último verão de pouca chuva e que há alguns anos se formava um “cenário meteorológico caótico”. “Há pelo menos dois ou três anos, variando por região, estamos com chuvas abaixo da média registrada nos verões dos últimos 30 anos.” No Sudeste, dos últimos 36 meses, 32 tiveram chuvas abaixo do normal, afirma Bini.
Sobre a falta de chuvas, a Sabesp informou que além do ano hidrológico 2013-2014 ter apresentado “índices pluviométricos fortemente desfavoráveis na bacia de contribuição do Cantareira”, a estiagem veio “associada a temperaturas médias elevadas, as mais altas registradas nos últimos 70 anos”.
“Foi a pior seca desde que as medições dos institutos de meteorologia começaram, há 84 anos. (...) Em dezembro de 2013, foi registrado índice 72% menor que a média. Em janeiro e fevereiro choveu cerca de 65% menos que o normal”, disse a companhia em nota.
Foto: Victor Moriyama/G1
Segundo ele, após a seca histórica, a Sabesp ignorou uma ferramenta chamada de “curva de aversão ao risco”, que estabelece limites de vazão de acordo com o volume dos reservatórios. “Continuaram tirando mais água do que deveriam até abril, quando o Ministério Público pediu o cumprimento da outorga [documento que permite a exploração de recursos naturais e estabelece as regras]. Isso acelerou a crise”, avalia Zuffo. O pesquisador diz ainda que a população deveria ter sido avisada com mais antecedência sobre a gravidade da situação e a necessidade de economizar água.
O professor também diz que era possível ampliar a produção de água de reúso a partir do tratamento de esgoto. “Só tirando os lançamentos de esgoto já teríamos uma melhora na aparência e no cheiro dos rios. Depois do tratamento, eles deixariam de ser poluídos e haveria novas fontes de água na própria capital”, explica Zuffo. A Sabesp afirma que desde 2012 realiza o projeto Aquapolo, “que elevou em 13 vezes o volume de água de reúso fornecido pela empresa”.
Em 5 de novembro, o governador Geraldo Alckmin anunciou um plano para usar o esgoto tratado para abastecer a represa de Guarapiranga e o Rio Cotia. A obra tem previsão de entrega para dezembro de 2015.
Em resposta a esses questionamentos, a Sabesp afirmou em nota que cumpre todas as exigências de operação do Cantareira estabelecidas pelos órgãos reguladores: Departamento de Água e Energia Elétrica (DAEE) e Agência Nacional de Águas (ANA). Afirma ainda que a população foi “amplamente informada sobre a gravidade da crise e passou a colaborar adotando medidas de uso racional” e que “os balanços da adesão ao bônus oferecido pela companhia comprovam o fato”.
Foto: Luis Moura/Estadão Conteúdo
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