AQUI UM RESUMO DA REPORTAGEM-BOMBA DA REVISTA VEJA
Em
um país de instituições mais frágeis, a prisão por suspeita de
corrupção de altos executivos das maiores empresas nacionais não se
efetivaria nunca ou produziria uma crise institucional profunda. Antes,
portanto, de entrarmos nos detalhes dessa pescaria da Polícia Federal em
águas sujas da elite empresarial, celebremos a maturidade institucional
do Brasil — a mesma que foi posta à prova e passou com louvor quando o
Supremo Tribunal Federal (STF) mandou para a penitenciária a cúpula do
partido no poder responsável pelo escândalo do mensalão.
O 'CAPO', AMIGÃO DO LULA.
CHEFE
– Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, nesta sexta-feira: o "capo"
do cartel da Petrobras gostava de repetir que tinha um único amigo no
governo – "o Lula"
|
Esse
senhor pesadão, bem vestido, puxando uma maleta com algumas mudas de
roupa e itens de higiene pessoal, não está se dirigindo a um hangar de
jatos executivos para mais uma viagem de negócios. Ele está sendo
conduzido por policiais para uma temporada na cadeia.
A foto ao lado
mostra o engenheiro Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, apontado
por investigações da Operação Lava-Jato como o “chefe do clube”. Um
clube muito exclusivo, diga-se. Dele só podiam fazer parte grandes
empresas que aceitassem as regras do jogo de corrupção na Petrobras.
Por
mais de uma década, os membros desse clube se associaram secretamente a
diretores da estatal e a políticos da base aliada do governo para
operar um dos maiores esquemas de corrupção já desvendados no Brasil —
e, por sua duração, volume de dinheiro e penetração na mais alta
hierarquia política do país, talvez um dos maiores do mundo.
Dono de
uma holding que controla investimentos bilionários nas áreas
industrial, imobiliária, de infraestrutura e de óleo e gás, Pessoa foi
trancafiado numa cela da carceragem da Polícia Federal.
Ele e outros
representantes de grandes empreiteiras que se juntaram para saquear a
maior estatal brasileira e, com o dinheiro, sustentar uma milionária
rede de propinas que abasteceu a campanha de deputados, senadores e
governadores — e, mais grave ainda, segundo declaração do doleiro
Alberto Youssef à Justiça, tudo isso teria se passado sob o olhar
complacente do ex-presidente Lula e de sua sucessora reeleita, Dilma
Rousseff.
Na ação
policial de sexta-feira foram presos dirigentes de empresas que formam
entre as maiores e politicamente mais influentes do Brasil: OAS, Camargo
Corrêa, Mendes Júnior, Queiroz Galvão, UTC, Engevix, Iesa e Galvão
Engenharia. Essas companhias são responsáveis por quase todas as grandes
obras do país.
Os policiais federais vasculharam as salas das empresas
ocupadas pelos suspeitos presos e também suas casas. Embora tendo
executivos seus citados por Youssef e Paulo Roberto Costa, o
ex-diretor da Petrobras preso em março, que está contribuindo nas
investigações, não foram alvos das investidas policiais da sexta-feira
passada dirigentes de outros dois gigantes do ramo: a Odebrecht e a
Andrade Gutierrez.
O juiz Sergio Moro recebeu pedido dos procuradores
para emitir ordem de prisão contra dois altos executivos da Odebrecht.
Negou os dois, mas autorizou uma incursão na sede da empresa em busca de
provas.
O
ELO – Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, que cobrava 3% de propina
para o PT: preso depois que a Polícia Federal descobriu que ele tinha
contas secretas no exterior
|
“Hoje é
um dia republicano. Não há rosto e bolso na República”, declarou o
procurador Carlos Fernando Lima, integrante da força-tarefa encarregada
da Lava-Jato, a origem da investigação.
No rol
dos empreiteiros caçados pela polícia estavam megaempresários, como
Sérgio Mendes, da Mendes Júnior, João Auler e Eduardo Hermelino Leite,
da Camargo Corrêa, Ildefonso Colares Filho e Othon Zanoide, da Queiroz
Galvão, Léo Pinheiro, da OAS, e Gerson Almada, da Engevix. Uma parte dos
alvos não havia sido localizada pela polícia até o fim da tarde de
sexta. Alguns estavam em viagem no exterior e foram incluídos na lista
de procurados da Interpol. O juiz Moro bloqueou 720 milhões de reais em
bens dos investigados.
O papel
central de Ricardo Pessoa, da UTC, no esquema foi detectado logo no
princípio das investigações. Não demorou muito para que os policiais e
procuradores não tivessem mais dúvida. Aos curiosos com sua prosperidade
crescente nos últimos anos, Ricardo Pessoa dava uma explicação que, até
o estouro do escândalo, parecia apenas garganta:
“Só tenho um amigo no
governo: o Lula”.
Pessoa coordenava o cartel, do qual participavam treze
empreiteiras. Esse grupo de privilegiados se encontrava para decidir o
preço das obras na Petrobras, dividir as responsabilidades pela execução
de cada uma delas — e, o principal, o valor da propina que deveria
sobrar para abastecer os escalões políticos.
Tecnicamente, esse era o
grupo dos corruptores. Os diretores da Petrobras participantes do
esquema eram os corruptos. De cada contrato firmado com a Petrobras, os
empresários recolhiam 3% do valor, que se destinava a um caixa
clandestino.
O pagamento era feito de diversas maneiras: em dinheiro
vivo e em depósitos no exterior ou no Brasil mesmo, em operações
maquiadas como prestação de serviços, principalmente de consultoria — um
termo vazio de significado, mas que transmite um certo ar de
austeridade e necessidade.
As
empreiteiras do esquema firmavam contratos de consultoria com empresas
de fachada que embolsavam o dinheiro e davam notas fiscais para “limpar”
as operações, que pareciam protegidas por uma inexpugnável confraria de
amigos posicionados nos lugares certos em Brasília e na Petrobras.
Os
recursos desviados abasteciam o PT, o PMDB e o PP, os três principais
partidos da base de apoio do governo federal. A investigação mapeou o
caminho da propina paga por várias das integrantes do clube. Entre 2005 e
2014, o grupo OAS, por exemplo, repassou pelo menos 17 milhões em
propinas apenas por meio do doleiro Alberto Youssef.
Além
dos empreiteiros e de seus principais executivos, também foi preso o
ex-diretor da Petrobras Renato Duque, apontado como o homem que, no
fatiamento da propina, cuidava da parte que cabia ao PT. Esse elo que a
polícia começa a fechar entre o diretor corrupto e a empresa corruptora
tem atormentado deputados, senadores petistas e altos dirigentes do
governo. Funcionário de carreira, Duque entrou na Petrobras em 1978 — um
ano depois de Paulo Roberto Costa — por concurso.
Galgou alguns postos
ao longo de sua trajetória, mas sua nomeação como diretor, em 2003,
surpreendeu a todos. Duque era, então, chefe de setor, alguns níveis
hierárquicos abaixo da diretoria. Nunca antes na história da Petrobras
um chefe de setor havia ascendido sem escalas à cúpula. A explicação
logo se tornou pública. Duque era o escolhido de José Dirceu, com quem
tinha um relacionamento antigo.
Discreto e de temperamento afável, Duque
procurava não ostentar. Entre 2003 e 2012, ele reinou absoluto na
diretoria de Serviços. Paulo Roberto Costa revelou à Justiça que, por
lá, 3% do valor dos contratos era repassado exclusivamente ao PT.
EXPLOSÃO
– Fernando Baiano: o lobista, que está foragido, ameaça contar o que
sabe e elaborou uma lista com beneficiários de propina ligados ao PMDB
|
A
polícia já descobriu onde estão as contas bancárias que receberam parte
desses recursos. Elas foram identificadas por Julio Camargo, dirigente
da Toyo, outra empreiteira envolvida no escândalo, que também fez acordo
com a Justiça para contar o que sabe. E ele sabe muito, principalmente
sobre a distribuição de dinheiro ao partido que está no governo há doze
anos e a alguns de seus altos dirigentes.
Foi com base no depoimento de
Julio que a polícia decidiu pedir a prisão temporária de Duque e colocar
outro funcionário da Petrobras no radar: Pedro José Barusco, que atuou
como gerente de engenharia. Barusco só não foi preso porque propôs um
acordo de delação premiada. Os policiais também chegaram a uma
personagem que leva o escândalo ao coração do PT: Marice Correa de Lima,
cunhada de João Vaccari, tesoureiro do partido, outro investigado.
Marice lidava com o que o doleiro Youssef chama de “reais vivos”.
Em dezembro do ano passado, a cunhada do tesoureiro do PT recebeu no apartamento onde mora, em São Paulo, 110 000 reais. Origem das cédulas: a construtora OAS. Marice é também mais um elo a ligar o petrolão ao mensalão.
A petista apareceu nas investigações do grande escândalo do governo Lula como encarregada de pagamentos. Outro alvo da operação de sextafeira, o lobista Fernando Soares, o Baiano, é apontado como o arrecadador do PMDB na Petrobras. Baiano estava foragido.
Em dezembro do ano passado, a cunhada do tesoureiro do PT recebeu no apartamento onde mora, em São Paulo, 110 000 reais. Origem das cédulas: a construtora OAS. Marice é também mais um elo a ligar o petrolão ao mensalão.
A petista apareceu nas investigações do grande escândalo do governo Lula como encarregada de pagamentos. Outro alvo da operação de sextafeira, o lobista Fernando Soares, o Baiano, é apontado como o arrecadador do PMDB na Petrobras. Baiano estava foragido.
Sua prisão vai ajudar a
esclarecer outras frentes de corrupção na estatal — entre elas, a rede
de propinodutos instalada no negócio da compra da refinaria de Pasadena,
no Texas. E os resultados da Operação Lava-Jato estão apenas começando a
aparecer. Do site da revista Veja
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