sexta-feira, 9 de janeiro de 2015
O jornal O Globo informa, hoje, que em meio a disputas em torno do segundo escalão do governo, o Palácio do Planalto decidiu que não haverá “porteira fechada” no preenchimento de cargos nos ministérios — ou seja, os partidos que indicaram os ministros não terão o direito de nomear os ocupantes de todo o segundo escalão.
A
presidente Dilma Rousseff determinou que o ministro de Relações
Institucionais, Pepe Vargas, receba as demandas dos partidos que
comandam cada pasta da Esplanada, mas que nenhuma legenda tenha poder
absoluto sobre sua área. Haverá a predominância do partido que ocupa o
ministério, mas outros aliados comporão a equipe.
É uma pouca vergonha. O ministro indicado recebe a incumbência e,
pendurado nelas, nomeados políticos de partidos adversários, gerando
custos sem produzir absolutamente nada. É a cara de um governo petista. É
a cara de uma presidente incompetente chamada Dilma Rousseff. É a cara
do Brasil, antro de corrupção e ineficiência.
A Exame está publicando uma entrevista com Vicente Falconi, consultor especialista em gestão que já trabalhou para diversas empresas privadas e órgãos públicos. “Precisamos planejar o futuro. Sem isso o país ficará ao sabor dos acontecimentos, com crises a todo o momento. Ninguém aguenta isso”, afirma o consultor.
Após a eleição de Dilma, Falconi divulgou três cartas à presidente,
com os temas gestão e o futuro do país. Dentre as sugestões, o
consultor destaca a criação de uma organização focada em fazer contas
para planejar as decisões do governo.
Falconi foi um dos responsáveis pelo que ficou conhecido como "choque
de gestão" do governo Aécio Neves (PSDB), em Minas Gerais. O processo
ajudou a reorganizar as contas do estado.
Segundo Falconi, o país ter 22 mil cargos comissionados é um acinte. "Os Estados Unidos têm 200", diz. "Uma
maneira de prestigiar a nossa máquina pública é recrutar bem, treinar
bem, educar bem, prestigiar o nosso funcionário, fazê-los progredir na
carreira e não ficar enfiando gente de fora, de partido. Isso não tem
sentido", afirma o consultor.
Leia a entrevista abaixo.
EXAME.com - Quais deveriam ser as primeiras medidas do segundo governo Dilma em termos de gestão?
Vicente Falconi – Se estivesse ao lado dela dando
palpite, eu iria aconselhá-la a iniciar um planejamento estratégico para
o país. Existem alguns países do mundo, como a Coreia do Sul, que
planejam os próximos 60 anos.
Aí alguém pode falar que isso é impossível, que tudo muda. Se a gente
acha que não pode planejar 60 anos, vamos planejar 20. Mas temos que
pensar no futuro, e temos que fazer conta.
Por exemplo: se queremos crescer 3% ao ano, o que isso requer de
energia? Quanto tenho de investir? Em termos de infraestrutura, o que
isso requer dos portos? Como vão ser as exportações? Tem que ter um
quadro, alguma coisa que ilumine o gestor público para que ele possa
tomar decisões.
EXAME.com – Como fazer esse planejamento?
Falconi – Isso só seria possível se houvesse uma
organização que fizesse essa formulação estratégica para o país. Então o
que sugiro é isso: estabelecer estruturalmente uma organização de
Estado para fazer essa formulação estratégica nacional. Basicamente é
uma organização para fazer conta. E essa organização deveria ter uma
verba própria para contratar os melhores especialistas do Brasil.
Formulação estratégica é tentar olhar um pouco mais para frente no
futuro para que a gente possa se organizar melhor. A alternativa a isso
seria ficar gerenciando o país ao sabor dos acontecimentos, com crise
aqui, crise ali, apagão acolá. Ninguém aguenta isso, é muito
estressante.
EXAME.com – Que outras medidas seriam importantes?
Falconi - São várias. Temos o exemplo do governo do
Rio de Janeiro, que nos contratou para mexer na parte de educação. Uma
das coisas que percebemos foi que a secretaria de educação do Rio tinha
mais de 100 mil pessoas trabalhando e não tinha um departamento de
recursos humanos. Qualquer empresa no Brasil com 500 pessoas tem um RH.
Aí fui descobrir que no governo as pessoas confundem RH com
departamento de pessoal que trata de salário. Não tem nada a ver.
Pedimos para ele colocar um departamento de RH que cuidasse de educação e
treinamento, avaliação de desempenho, recrutamento e seleção. Cuidar do
tratamento das pessoas. O governo topou e montamos. Em
três anos, o estado do Rio de Janeiro saiu do penúltimo lugar em
educação no Brasil e foi para quarto lugar.
EXAME.com – Isso poderia ser aplicado no governo federal?
Falconi - Sugiro para a presidente montar um RH
nacional, montar um plano de carreira para todos os funcionários, não só
para alguns. Na Polícia Federal hoje tem carreira, na Receita Federal
também tem. Mas se você for a outros setores do governo federal não tem.
Precisamos reforçar o funcionalismo público. A máquina do estado
brasileiro é uma máquina do nosso funcionalismo, temos que prestigiá-lo.
EXAME.com – Há algum bom exemplo no governo federal hoje?
Falconi - Existem vários setores do governo federal e
dos governos estaduais que são muito bons. A própria Polícia Federal
teve uma melhora fantástica depois que Lula colocou o Márcio Thomaz
Bastos para atuar ali. Ele estruturou a organização de uma tal maneira
que hoje ela está dando resultado.
Eu estive lá, a Polícia Federal foi nossa cliente, e é um espetáculo. Dá até orgulho de ver uma organização bem montada, com as pessoas, os funcionários jovens, acreditando. É bonito.
Então por que não pode ser o governo inteiro assim? A máquina pública
pode funcionar perfeitamente, desde que seja prestigiada. É preciso
estruturar as carreiras em todo o governo federal, equalizar os salários
por nível de dificuldade, existem muitas discrepâncias salariais. Tem
que dar uma arrumada geral, por isso que precisa de um RH.
EXAME.com – Além de ter um RH, que outras medidas ajudariam a prestigiar esses trabalhadores?
Falconi - No Brasil temos um vício acumulado de vários
governos, um vício nacional, que não se limita a esse ou àquele
partido, que é o fato de termos 22 mil cargos comissionados. Os Estados
Unidos têm 200.
Isso é um acinte à máquina pública do estado. Uma maneira de prestigiar
a nossa máquina pública é recrutar bem, treinar bem, educar bem,
prestigiar o nosso funcionário, fazê-los progredir na carreira e não
ficar enfiando gente de fora, de partido. Isso não tem sentido.
Minha sugestão é, dentro do politicamente possível, tentar reduzir essa
massa de cargos comissionados. E de preferência reduzir na lei, proibir
acima de 500, por exemplo. Acho que esse é outro ponto deletério para o
nosso país.
EXAME.com - Essas sugestões que o senhor dá não são
especificamente para a situação do governo Dilma. São problemas que
estão aí há décadas.
Falconi – Pois é, mas alguém tem que começar a consertar isso.
EXAME.com - Considerando a atual situação política e econômica,
o senhor acha que o governo federal precisa de um “choque de gestão”?
Falconi – Essa expressão tem muita bobagem por trás,
muita disputa política, não gosto dela. O que todo mundo precisa, tanto
as empresas quanto os governos, seja federal, estadual ou municipal, é
de gestão. Gerenciamento. As pessoas precisam entender o que é isso para
começo de conversa, porque a maioria não sabe o que é.
EXAME.com – Em termos práticos, o que é gestão?
Falconi - Gestão é simples. É você colocar um sonho,
pensar “para onde quero levar o meu país?”. A partir disso, fazer a
formulação estratégica, colocar metas, montar os planos de ação, correr
atrás, implementar os planos, pegar os resultados, pegar a máquina
operacional e traçar os processos, padronizar, treinar as pessoas. Tudo
isso é gestão, e muito pouco disso é feito. Não precisa dar choque, não!
Tem que ter gestão.
Os políticos devem brigar lá entre si para decidir que direção o país
vai ter. Agora, técnico não gosta disso, técnico gosta de trabalhar,
para quem quer que seja. Gestão não tem ideologia. Qualquer ideologia
que estiver lá deveria colocar meta, ter plano de ação, padronizar,
reforçar a máquina pública.
EXAME.com – O senhor chegou a ser convidado para atuar junto ao governo em gestão?
Falconi – No primeiro governo Dilma fui
trabalhar junto com o Jorge Gerdau, assim como outras consultorias
foram. Mas a sensação que tive é que a prioridade da presidente não
desce na máquina. Não desce com a mesma intensidade que está na cabeça
dela, e aí isso vai para a imprensa mais distorcido ainda, entendeu?
Quando falo para reforçar a máquina pública é exatamente para que essas
orientações possam escoar melhor. A presidente me falou que ela queria
atuar nos postos de saúde, e montamos uma proposta para atuar nos postos
de saúde e nos hospitais. Fizemos uma proposta e ela está lá no
Ministério da Saúde. Não toparam.
EXAME.com – Acha que isso é uma característica desse governo especificamente?
Falconi - Independentemente do partido ou da pessoa
que esteja no poder, o que é prioridade na cabeça do presidente nem
sempre escoa de forma uniforme na máquina pública. No governo Lula foi a
mesma coisa. Percebemos uma dificuldade crescente na medida em que você
desce na máquina pública. Não sei se isso acontece porque a máquina é
fraca, não sei por quê. Mas fiquei muito triste com essa história do
Ministério da Saúde. Isso me afetou particularmente.
EXAME.com – E nesse segundo mandato de Dilma, existe alguma conversa com o senhor?
Falconi – Não. Estou doido que tivesse, viu?
EXAME.com – O senhor criticou os cargos comissionados. Qual o problema com eles?
Falconi – Vamos fazer um paralelo com as empresas.
Quando um jovem entra na empresa, ele fica de olho em crescer. Ele quer
aprender mais coisas, evoluir.
No governo, a pessoa que ser ministro, ou
quer ser secretário-geral do ministério.
Na hora que você desembarca com 22 mil pessoas por cima, indicações
políticas, primo, tio de não sei quem, você desmoraliza a máquina,
desmoraliza todo aquele esforço. A máquina fica sem cultura, sem
destino, não tem comprometimento, não existe uma cooperação pessoal
porque falta confiança, ninguém sabe para que aquela pessoa veio. É um
negócio muito triste.
Sou sempre contra contratar gente de fora. Prefiro promover de dentro.
Porque quando você contrata de fora, é um recado para a máquina, como se
dissesse: “Vocês são uns incompetentes, eu tive que trazer de fora”. É
um balde de água fria. Aí depois ficamos reclamando que educação, saúde e
segurança estão ruins.
EXAME.com – Agora, pensando nos servidores e funcionários que
fizeram concurso público. Como estimular essas pessoas a serem mais
eficientes?
Falconi – Você não precisa estimular ninguém para ser
eficiente. Já chegamos em locais com pessoas desanimadas e vimos aquilo
virar. Ser humano é tudo igual. Você não tem um ser humano funcionário
público e um ser humano funcionário de empresa privada. As pessoas têm
as mesmas necessidades, todos querem ser respeitados, gostam de ter o
seu trabalho reconhecido, sentem prazer em atingir uma meta.
Agora você vai para uma máquina pública que você desrespeita, que enche
de quadro político, ou de parente de político, e você quer que uma
pessoa dessa ainda fique animada? Não dá treinamento, não cuida do
desenvolvimento das pessoas e ainda quer que elas sejam produtivas?
Francamente, isso é uma total insensibilidade. Não admito que uma pessoa
fale que funcionário público é improdutivo, ou ineficiente. Não
concordo. Eles são matéria-prima tão boa quanto em qualquer
multinacional.
EXAME.com – Outro ponto sempre levantado é a necessidade de corte de custos. Há muito desperdício de recursos na gestão pública?
Falconi – Olha, uma coisa é custo, outra coisa é
desperdício. Existem custos que devem até ser aumentados, não vamos nos
enganar. Quando propomos reduzir custos traduza por eliminar
desperdícios.
Os desperdícios são dos mais variados que você pode imaginar. Por
exemplo: você vai importar um remédio para distribuir para a rede de
postos de saúde. Mas aí o processo de compra é demorado. Depois, a
alfândega demora para liberar. Aí vai para o depósito e demora para
distribuir. Aí distribui errado, em vez de mandar 500 unidades para um
hospital, manda 5 mil. E aí em certos lugares o remédio já chega
vencido. O desperdício está embutido em muitas coisas.
EXAME.com – Então cortar custos não significa ameaçar programas sociais e políticas públicas?
Falconi – Não, só pode ser melhorar política pública.
Porque custo que você realiza para o bem, você pode até aumentar. Nas
empresas é a mesma coisa. Por exemplo, você tem custo de marketing. Você
não deve tirar. Porque se tirar, suas vendas caem. Aquilo é um custo
bom.
No trabalho que fizemos para o estado do Rio de Janeiro em educação, a
primeira coisa foi a redução de desperdício. Em um ano, só na secretaria
de educação, tiramos R$ 170 milhões. Para onde foi esse dinheiro? Para
os professores. Foram criados vários programinhas para melhorar a vida
dos professores. R$ 170 milhões é muita grana, e era tudo dinheiro
jogado fora. Tiramos esse dinheiro e não alterou em nada a vida da
secretaria.
EXAME.com – Jogado fora como?
Falconi – Quer um exemplo? Descobrimos que a
secretaria pagava banana para dar aos estudantes. Mas a quantidade que
pagava não era a mesma quantidade que o estudante comia, porque
checamos. E fomos ver que realmente tinha alguns milhõezinhos perdidos
no contrato da banana. São coisas assim que a gente vai descobrindo. Em
gestão você faz conta, checa tudo, determina o processo, vê onde é que
tem os pontos falhos.
EXAME.com – O senhor falou sobre a questão da autoestima dos
funcionários. O que fazer para recuperar a autoestima de uma empresa
envolvida num escândalo com o da Petrobras?
Falconi – Prefiro não responder a essa pergunta. É um assunto que está quente, que está no domínio político, é um assunto sensível.
Só te digo uma coisa: tenho imenso respeito pela Petrobras, conheço
várias pessoas lá, já prestei serviço lá nos últimos 30 anos e tenho
muito orgulho. É uma empresa que montou um processo complexo, superou
desafios. Eles encontraram 252 dificuldades e montaram 252 projetos,
venceram todos. Chegaram a 1.500 metros de profundidade e passaram. Hoje
estão no pré-sal, a 7 mil metros de profundidade.
É uma empresa maravilhosa. Aposto com você que tem gente que chora de
raiva quando fica sabendo de um caso de corrupção. Porque as pessoas têm
orgulho da empresa que trabalham. Tenho muitos amigos lá e me preocupo
com eles, eles devem estar muito chateados com tudo o que está
acontecendo. Isso não é bom para a empresa, não é bom para o país.
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