quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Editorial do Estadão ("Dilma fraca e PT medíocre") analisa os desafios
impostos ao PT e a Dilma pela incompetência do governo. O fato é que
Dilma está metida até o pescoço numa encrenca para a qual dificilmente
há saída. Que se virem, ambos:
Em meio à crise política provocada pela incompetência do governo
Dilma, o Palácio do Planalto e o PT, não necessariamente articulados
entre si, iniciaram esta semana uma ofensiva junto à chamada base aliada
na tentativa de garantir um mínimo de apoio à adoção das medidas
necessárias, algumas delas impopulares, para botar em ordem as contas
públicas e retomar o caminho do equilíbrio fiscal e do desenvolvimento
econômico, que são precondições para a manutenção e a ampliação das
conquistas sociais.
O desafio que se coloca diante de Dilma Rousseff e do lulopetismo é
enorme. Principalmente porque, antes de mais nada, Dilma precisa se
entender com seu próprio partido e entrar em acordo com o lulopetismo
sobre objetivos comuns que se estendam além de um obsessivo projeto de
poder. E a maior dificuldade para esse entendimento parece ser a
mediocridade dos quadros mais qualificados do partido, a incapacidade
que revelam de enxergar um palmo além do nariz e de seus próprios
interesses imediatos.
Essa espantosa mediocridade está estampada em manifestação, muito
compreensivelmente off the record, de um senador petista colhida pelo
jornal Valor em matéria que trata exatamente dos esforços do partido
para rearticular sua base de apoio parlamentar. Incomodado com a posição
incômoda e "ridícula" em que, em sua opinião, o governo colocou suas
bancadas no Congresso em relação ao debate sobre as medidas de ajuste
fiscal que estão sendo propostas pela equipe econômica, desabafou o
senador: "Estamos agora com o PT defendendo a tese do patrão e os
tucanos, a manutenção dos direitos trabalhistas".
Essa redução do problema a termos tão banais é a tradução mais fiel
do maniqueísmo que inspira o discurso político de Lula, o defensor do
Bem, do Reino da Luz, em luta contra os representantes do Mal, do Reino
das Trevas.
Só pode ser daí que o ilustre senador petista tirou a brilhante ideia
de que o grande problema do País é o conflito entre dois valores
reciprocamente excludentes: "a tese do patrão" e "a manutenção dos
direitos trabalhistas". Não ocorre nem por um instante ao parlamentar
que seu papel, como membro de um órgão de representação, antes de
defender a "tese do patrão" ou "os direitos trabalhistas" é o de
defender prioritariamente os interesses do País. O acirramento do
conflito entre os interesses naturais e legítimos dos vários segmentos
sociais só leva à desagregação nacional, pois a expressão mais autêntica
do espírito de nação consiste na conciliação democrática dos interesses
divergentes abrigados no seio da comunidade.
É claro que os vários segmentos sociais, numa sociedade
democraticamente institucionalizada, merecem sempre atenção e
tratamentos diferentes por parte do governo que representa a todos e -
por um imperativo de justiça, e sempre rigorosamente de acordo com a lei
- tem a obrigação de estabelecer prioridades no campo social. Mas a
prioridade maior será sempre a harmonização dos interesses conflitantes
em benefício do bem comum.
Não é isso o que, por conveniência eleitoral, pregam os populistas
que estão no poder. Não é isso que Lula e o PT querem para o Brasil
quando reduzem os grandes problemas nacionais à opção sectária do "nós"
ou "eles".
E é exatamente por isso que Dilma Rousseff está metida até o pescoço
numa encrenca da qual procura se livrar mobilizando seus comandados e as
(poucas) forças políticas que a ela se declaram fiéis. Não será fácil. A
presidente passou quatro anos cometendo erros. Não os admite
publicamente. Mas foi obrigada, por imposição dos fatos, a defender
medidas que contrariam seu discurso eleitoral populista. Essa
contradição está lhe custando a credibilidade. Já ao PT provoca enorme
desconforto, pois um partido politicamente medíocre e moralmente
carcomido não entende que, para garantir os "interesses do povo", é
preciso a coragem de assumir, quando necessário, decisões impopulares.
Em 2002, o PT se desdisse, com a Carta aos Brasileiros. Mas nunca
adotou um código ético nem adquiriu respeito pelo povo. Está, agora, com
o petrolão seguindo-se ao mensalão e com a revelação da sua
incompetência em todas as áreas do governo, pagando o preço da desídia.
Lamentavelmente, os brasileiros arcam com o aval dado a pessoa que não
merecia confiança.
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