Heitor Scalambrini Costa*
Publicado
por Carolina
Salles -
Persiste entre formadores de opinião, o uso pejorativo do termo
“ambientalista”, visando depreciar os cidadãos que lutam pela causa ambiental,
além de tentar esconder outras intenções, menos ingênuas, como fazer o jogo dos
poderosos, dos poluidores, que têm seus interesses contrariados pela
persistência daqueles que defendem a preservação do meio ambiente e das
condições de vida no planeta
Os últimos relatórios dos grupos de trabalho do Painel
Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) mostram inquestionavelmente
que a ação humana é a principal causa da elevação da temperatura média da
Terra, ou aquecimento global. Mesmo assim, interesses poderosos das industrias
de combustíveis fósseis e nucleares, da agroindústria, dentre outros, continuam
a negar este fato, financiando campanhas que atacam aqueles que propõem
mudanças no atual estilo de vida perdulário, no consumo e na produção de
matérias primas e energia
O crescimento sempre foi um objetivo da política econômica.
Acreditava-se que o aumento da renda de um país fosse suficiente para
proporcionar uma vida melhor a seus habitantes. Portanto, a partir de uma
análise simplificada, geralmente utilizando o Produto Interno Bruto (PIB) como
indicador base, bastava o anúncio de seu aumento, para que se aceitasse que os
indicadores de bem estar o estavam acompanhando. Isto de fato não acontece
Já há alguns anos, verificam-se os danos causados pela atividade
econômica sobre o planeta. Em nome do crescimento a qualquer preço, tudo é
permitido, inclusive a destruição do meio ambiente. São incontestes as evidencias
de que não é mais possível crescer e enriquecer para melhorar a qualidade de
vida da maioria da população. Ou seja, manter os padrões atuais de produção e
consumo esbarra nos limites físicos do nosso planeta.
Estamos recebendo sinais de reação da Terra à quantidade excessiva de
gases emitidos, que geram o denominado “efeito estufa”, em particular devido ao
CO2 (dióxido de carbono), pelo uso massivo dos combustíveis fósseis. A Terra
reage também ao desmatamento desenfreado das florestas para diferentes finalidades,
ao desperdício e poluição das fontes de água doce, reduzindo assim sua
disponibilidade pelo uso irracional desse bem fundamental para a vida.
O IPCC, através de seus relatórios e pareceres, traz conclusões
científicas irrefutáveis sobre o aquecimento global, que provoca um aumento
significativo na freqüência e na intensidade dos “desastres naturais”. A
concentração de CO2 na tênue atmosfera que nos protege atingiu, em abril de
2014, 400 ppm (partes por milhão), superando o limite histórico.
Valor
emblemático, pois este é valor considerado pelos cientistas como limite para
evitar os piores cenários do clima. Segundo o IPCC, acima de 400 ppm de CO2 a
temperatura média do planeta poderá subir entre 2 a 5 graus centígrados até o
final deste século, e isto poderá provocar a aceleração do degelo, tempestades
mais violentas, graves impactos sobre a biodiversidade, com a inevitável
extinção de espécies, e milhões de refugiados ambientais, os quais terão de
buscar outros lugares para viver.
No entanto, mesmo com todas as catástrofes recentes, em todo o mundo, e
com os claros alertas científicos do IPCC, continuamos sem dar a devida atenção
ao maior desafio de nosso tempo: as mudanças climáticas. Elas estão entre nós e
estão se acelerando.
Precisamos, pois, entender que todos os que lutam pela vida no planeta
Terra – que lutam por um mundo melhor, por uma sociedade mais igualitária, e
socialmente mais justa – são também, responsáveis pela preservação ambiental.
Ou seja, com exceção daqueles que lutam apenas para manter os seus privilégios,
somos todos ambientalistas!
Informação sobre o Autor
Heitor Scalambrini Costa
*Professor da Universidade Federal de
Pernambuco.
Direito Ambiental
Mestre em Direito Ambiental.
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