Professores
de jornalismo e algumas associações dessa "categoria profissional"
assinam ardiloso documento em que defendem um "jornalismo plural" e,
pasmem, a democracia - como se esta corresse perigo devido à cobertura
da imprensa às gigantescas manifestações contra a corrupção nos governos
petistas. Pretensioso, o manifesto reconhece o direito às
manifestações, mas - sempre um mas - faz objeções à cobertura noticiosa
e, seguindo à risca a pauta oficial dos petistas, insinua que as
manifestações - absolutamente pacíficas, como se viu em São Paulo -
pregam o ódio e incitam à violência (ver trechos em negrito).
Criticar
Dilma, ao que parece, é um ataque à democracia. Quanto à "mídia", os
professores veem nela o favorecimento intencional de uma "visão negativa
dos governos petistas", blindando os "governos anteriores".
Chegam
mesmo a afirmar que o noticiário da imprensa conduz "ao
ódio e ao antipetismo".
Não faltam no documento nem mesmo os
preconceitos antiamericanos e antiliberais: a oposição encarnaria o "realinhamento à tendência neoliberal global e à política externa dos Estados Unidos da América"!
Sinto vergonha alheia ao ver, entre os signatários do manifesto bajulador, alguns conhecidos. Eis o texto:
Por um jornalismo plural e em defesa da democracia
"Os
representantes e membros das entidades abaixo-assinados, com
representação em inúmeras cidades, estados e regiões do país, seja em
universidades, empresas e organizações que atuam como pesquisadores,
profissionais da comunicação, estudantes e professores da área, vêm a
público manifestar preocupações quanto ao atual cenário político
brasileiro, particularmente ao que envolve a necessária defesa e
fortalecimento da democracia.
Temos
acompanhado com atenção e preocupação os acontecimentos que marcam o
desenrolar da política brasileira, com real interesse pela cobertura
jornalística realizada pelos meios de comunicação (TVs, rádios, jornais,
revistas e portais web).
Apoiamos e
aplaudimos toda e qualquer iniciativa de investigação contra todo e
qualquer indício de corrupção, assim como nos posicionamos contrários ao
ajuste fiscal ora apresentado pela presidente Dilma Rousseff, não por
promover ajustes, mas porque eles seguem a velha receita de manter a
salvo as grandes fortunas e impor restrições às classes que estão na
base da pirâmide social, diminuindo recursos de áreas como a saúde e a
educação, com reais prejuízos para o ensino e a pesquisa nas
universidades brasileiras, e restringindo direitos já conquistados pela
classe trabalhadora em geral.
Na
esteira dessas considerações iniciais, manifestamos nosso apoio aos
recentes protestos, reconhecendo o direito que todos têm de ocupar as
ruas, manifestar suas posições políticas, independentemente de
colorações ideológicas. Entretanto, vimos com preocupação, e
repudiamos fortemente, manifestações de incitação ao ódio e à violência;
outras de viés homofóbico e racista; outras ainda de desrespeito à
mulher, na figura da presidente da República, manifestações que são,
todas elas, uma ameaça à democracia, à convivialidade e ao respeito,
todos valores intrínsecos à sociedade brasileira.
Um
outro aspecto de preocupação das entidades e profissionais signatários
deste documento diz respeito à cobertura midiática que vem sendo
efetivada acerca dos episódios recentes pelos quais passa o país,
especialmente a corrupção, seus consequentes processos de investigação, a
realização das marchas de protesto e os acontecimentos associados a
tais fenômenos.
Reconhecemos
a importância do sistema midiático como lastro essencial para a
consolidação da democracia; reiteramos a necessidade da defesa de que a
mídia exerça o seu direito de informar a sociedade, alicerçado na
prerrogativa da apuração e da investigação.
Entretanto, alertamos que
a cobertura midiática desses acontecimentos coloca em xeque, na maioria
dos casos, uma compreensão plural dos episódios, propõe uma visão
unilateral dos fatos, ameaçando assim o próprio processo democrático de
constituição de uma opinião pública livre, autônoma e calcada na
diversidade.
De fato, a cobertura midiática realiza-se privilegiando algumas estratégias centrais, a saber:
- Tematização
e enquadramento de acontecimentos de maneira a favorecer
intencionalmente uma visão negativa dos governos petistas, com flagrante
sugestão de incitação ao ódio e ao antipetismo,ao mesmo tempo em que
cria uma blindagem a governos anteriores;
-
Divulgação seletiva dos fatos, priorizando “pequenas pílulas de
informação”, retirando-se dos conteúdos midiáticos o enunciado próprio
do processo de investigação e da consequente elaboração de uma versão
plural e aprofundada dos acontecimentos, com cobertura de todas as suas
nuances.
- Cobertura
exaustiva e sistemática, com ênfase negativista acerca do país, pondo a
serviço desse exercício articulistas de jornais e revistas,
apresentadores de rádio e âncoras de TV, que insuflam na sociedade o
pessimismo, a revolta e a desqualificação do governo eleito
democraticamente em 2014.
- Cobertura
tendencialmente favorável aos partidos políticos de oposição, os quais
se opõem às linhas de desenvolvimento e às políticas inclusivas
implementadas no País, propondo, em contrapartida, realinhamento à
tendência neoliberal global e à política externa dos Estados Unidos da
América.
Em vez de
informar e possibilitar ampla reflexão, a cobertura midiática vigente
julga e condena a partir de informações parciais e unilaterais,
prestando, assim, um desserviço real à sociedade brasileira. Com isso,
coloca-se como um péssimo exemplo para os futuros jornalistas e desmente
as lições perenes a serem valorizadas pelo campo jornalístico, quais
sejam, a defesa intransigente da liberdade de expressão por parte dos
cidadãos e da liberdade de informação jornalística por parte da mídia e
dos profissionais da notícia, o que só tem sentido se for respeitado o
direito dos cidadãos a informações verdadeiras, plurais, de interesse
público, independentemente da linha editorial das empresas.
Fazemos,
por fim, um alerta aos empresários de mídias do país, assim como aos
jornalistas empenhados nesse tipo de cobertura: vivemos num perigoso
limiar, em que tradicionais grupos de mídia perdem credibilidade e
audiência, em um claro divórcio com os anseios de uma sociedade que
busca reagir a essa comunicação hegemônica, criando-se um campo de
disputas que, longe de fortalecer os processos de comunicação,
enfraquecem o exercício do jornalismo e ameaçam a própria democracia.
É,
portanto, necessário incentivar um amplo debate público, visando
fortalecer o compromisso com a defesa de todas as instituições
democráticas do País. E isso significa que é preciso, também, aceitar e
defender os resultados de escolhas eleitorais, independentemente de
concordar ou não com as prioridades políticas. O respeito à democracia
pressupõe aceitar e conviver com o exercício e a expressão das
diferenças. E isso é também um compromisso social dos meios de
comunicação.
Brasil, 31 de Março de 2015".
Entidades e profissionais que assinam este documento:
Associação Paraibana de Imprensa
Centro Acadêmico de Jornalismo João do Rio (CAJOR – UEPG)
Fórum Paranaense de Pós-Graduação em Comunicação
Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ)
Frente Paranaense pelo Direito à Comunicação e Liberdade de Expressão (FRENTEX-PR)
Rede de Estudos e Pesquisa em Folkcomunicação (Rede Folkcom)
Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba
Sindicato dos Docentes da UEPG (Sinduepg/ANDES-SN)
TVCom PG (Associação das Entidades Usuárias do Canal Comunitário de Ponta Grossa/PR
Rafael Freire, Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba
Marcela Xavier Sitonio, presidente da Associação Paraibana de Imprensa
Joana Belarmino de Sousa, Professora de Jornalismo da Universidade Federal da Paraíba
Sandra Regina Moura, Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFPB
Lúcia de Fátima Figueiredo, Assessora do Sindicato dos Trab. em Educação Superior da Paraíba
Maria do socorro Andrade, filiada ao sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro
Alexandre Urquiza de Sá, Professor do Instituto Federal de Educação da Paraíba
Edson Verber da Silva, Jornalista do sistema Correio de Comunicações da Paraíba
Lande Seixas, Diretor do Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Paraíba
Hebe Gonçalves, Universidade Estadual de Ponta Grossa
Edson Spenthof, Universidade Federal de Goiás
Elson Faxina, Universidade Federal do Paraná
Paula Melani Rocha, Universidade Estadual de Ponta Grossa
Francisco José Castilhos Karam, Universidade Federal de Santa Catarina
Luiz Gonzaga Motta, Universidade Federal de Santa Catarina
Graça Caldas, Labjor/IEL/Unicamp
João Batista de Abreu, Universidade Federal Fluminense (IACS/UFF)
Osni Tadeu Dias, Coordenador do Curso de Jornalismo FAAT (SP)
Angela Farah
Maria Luiza Franco Busse, Rio de Janeiro
Alfredo Vizeu, Universidade Federal de Pernambuco
Sérgio Luiz Gadini, coord. Mestrado em Jornalismo da UEPG
Mirna Tonus, Universidade Federal de Uberlândia
Marcelo Bronosky, vice-presidente FNPJ