sexta-feira, 27 de março de 2015
Um ex-gerente aposentado da Petrobrás é um novo personagem das
investigações da Operação Lava Jato envolvendo o pagamento de propina
para campanhas do PT. Em uma declaração gravada no dia 15 de março –
durante os protestos contra a corrupção e o governo Dilma Rousseff -, em
Recife, Carlos Alberto Nogueira Ferreira afirmou que assinou dois
cheques nominativos para as construtoras do cartel no valor total de R$
14 milhões destinados à campanha ao governo de Pernambuco, em 2006, do
atual senador Humberto Costa (PT-PE).
“Assinei um cheque de R$ 6 milhões nominativo a Schahin Construtora e
outro cheque de R$ 8 milhões nominativo a Odebrecht. Esses R$ 14
milhões de reais em 2006 foram para a campanha do senhor Humberto Costa,
candidato a governador de Pernambuco em 2006 e arrecadador financeiro
do PT aqui”, afirma Ferreira.
Ex-gerente da Petroquímica Suape, em Pernambuco – subsidiária da
Petrobrás, que fica ao lado da Refinaria Abreu e Lima -, Ferreira está
aposentado e foi subordinado a Paulo Roberto Costa, o ex-diretor de
Abastecimento da estatal que virou peça central da Lava Jato.
No vídeo que circulou na internet à
partir do dia 16, Ferreira acusa ainda o empresário pernambucano Mário
Beltrão de ser o PC Farias do senador petista – referência a Paulo César
Farias, pivô do impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello,
em 1992. “Quem recebeu o dinheiro em nome de Humberto Costa foi o senhor Mário
Beltrão. Ele é o amigo de infância de Humberto Costa, arrecadador
financeiro dele. É o PC Farias do senador Humberto Costa”, afirma
Ferreira.
As declarações do ex-gerente vão servir no inquérito aberto por
determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o
recebimento de propina pelo senador, em sua campanha de 2010. Beltrão
também é alvo desse inquérito.
Delator. Em sua delação premiada, o ex-diretor de
Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa já havia apontado o
envolvimento do senador com propina proveniente da unidade. Segundo ele, a campanha do senador em 2010 recebeu R$ 1 milhão do
esquema de propinas e corrupção na Petrobrás. O dinheiro foi solicitado
pelo empresário Mário Barbosa Beltrão, amigo de infância do petista e
presidente da Associação das Empresas do Estado de Pernambuco
(Assimpra).
Paulo Roberto Costa afirmou que o dinheiro saiu da cota de 1% do PP –
Partido Progressista que tinha o controle político da diretoria
Abastecimento da estatal. Segundo o delator, o PP decidiu que tinha que
ajudar na candidatura de Humberto Costa, razão pela qual teria cedido
parte de sua comissão. Paulo Roberto Costa afirmou ainda que, se não
ajudasse, seria demitido.
Humberto Costa foi eleito em 2010, o primeiro senador pelo PT de
Pernambuco. Antes, havia exercido cargo de secretário das Cidades de
Pernambuco (2007 a 2010) no governo Eduardo Campos – depois de perder a
disputa ao governo em 2006 – e foi ministro da Saúde no primeiro mandato
de Lula, de janeiro de 2003 a julho de 2005.
Reação. O senador Humberto Costa entrou no Tribunal
de Justiça de Pernambuco com um pedido para que o vídeo fosse retirado
da internet. A gravação circulou na internet à partir do dia 16. “ Tão
logo tomou conhecimento, por meio de um vídeo, da acusação criminosa
feita contra a honra dele durante um ato de rua, o senador Humberto
Costa (PT-PE) determinou aos seus advogados que buscassem a
identificação do autor e o interpelassem judicialmente”, informou a
assessoria de imprensa do senador.
“O senador não conhece e jamais viu o homem que fala no vídeo”, diz a nota. O senador ressaltou
ainda que “recebeu pouco mais de R$ 5 milhões para custeá-la e que,
desse total, não houve qualquer doação por parte das construtoras
Odebrecht e Schahin, como consta da sua prestação de contas, julgada e
aprovada pela Justiça Eleitoral”. A Schahin informou, por meio de nota, que “não tem conhecimento dos fatos mencionados”.
A Odebrecht, também por nota, disse que “não comentará ilações
levantadas de forma questionável e sem qualquer fundamento”. Mário
Beltrão não foi encontrado nesta quinta-feira, 26, para
comentar o assunto. No ano passado, quando foi apontado pelo delator
referente à campanha de 2010, o empresário informou que era “uma
leviandade” a acusação. “Eu sou um homem que preza a transparência e a
honestidade. O dia em
que eu mentir eu morro do coração. Humberto Costa é meu amigo de
infância, mas nunca me pediu colaboração de campanha.” Ele afirmou que
“jamais pediu um centavo para Paulo Roberto”.
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