O Estado de São Paulo
Não bastassem os embates com Lula, com o PT, com o Congresso, com a
realidade econômica, com as pesquisas de popularidade e com a própria
equipe, a presidente Dilma Rousseff decidiu agora abrir mais uma frente
de batalha: com os prefeitos.
Sem entrar no mérito da mudança de indexador das dívidas dos municípios,
que aumenta ainda mais o rombo do governo federal, o fato é que Dilma
deu o doce e depois tirou o doce da boca das crianças. O novo indexador
foi aprovado há quatro meses, não entrou em vigor e ela recorre a um
argumento técnico para tratar uma questão que é também política: a lei
foi aprovada, mas não regulamentada, e os tempos são de aperto. É mesmo?
São sete Estados e 180 municípios beneficiados pela mudança e
desesperados pela redução drástica de suas dívidas. A da capital de São
Paulo, por exemplo, pode despencar 42%, de R$ 62 bilhões para R$ 36
bilhões. Imaginem essa diferença às vésperas da eleição municipal de
2016, com muitos já em campanha pela reeleição.
Os primeiros a partir para cima foram Eduardo Paes, do Rio, e Fernando
Haddad, de São Paulo. Paes, que não é apenas do PMDB, mas aliado do
deputado Eduardo Cunha e até possível nome do partido para a Presidência
em 2018, entrou na Justiça para fazer valer a lei. E Haddad, que é do
PT lulista, mandou recados mal humorados pela imprensa.
Nessa nova crise, aconteceu o que já se tornou rotina: o Palácio do
Planalto ficou de um lado e o Congresso, de outro. Dilma falou à tarde
que reduzir a dívida de Estados e municípios com a União (algo já
aprovado, lembre-se) seria "inconsequente" num momento de cortes. Horas
depois, na mesma noite, a Câmara aprovou um projeto botando a faca no
pescoço da presidente: o governo tem 30 dias para mudar o indexador e
acabou-se a história.
Detalhe: a "inconsequência" comandada por Cunha foi apoiada pelo próprio
PT e até pelo dócil PC do B, que vota (votava?) tudo que seu mestre -
ou sua mestra - mandar.
São Joaquim Levy conseguiu adiar a decisão do Senado para ao menos
terça-feira que vem, mas veja você: o filho do presidente da Casa, Renan
Calheiros Filho, é governador de Alagoas, um dos Estados beneficiados.
Dilma vai acabar perdendo no Senado também...
Bem, é nesse clima que os prefeitos de todo o País vão se reunir em
Brasília de 7 a 9 de abril. O tema oficial é desenvolvimento
sustentável, mas a pauta real não vai ser o aquecimento global, mas o
clima político insuportável contra o PT e Dilma.
Após dizer ao Estado que já passou por momentos semelhantes (de "caos
político", de tensão, de desânimo) no governo Lula, o ministro Jacques
Wagner (Defesa) pediu "paciência, foco, perseverança". Ele acha que o
ajuste fiscal vai passar e tudo vai melhorar lá pelo final do ano.
Pode ser, pode não ser. Com o governo à deriva, sem um(a) líder, sem
rumo, Dilma joga todas as suas fichas na aprovação das medidas do ajuste
fiscal, que dependem justamente... da Câmara de Eduardo Cunha e do
Senado de Renan Calheiros. Mas, se ela perdeu na eleição para a
presidência da Câmara, no embate com prefeitos, na correção do Imposto
de Renda e está perdendo no confronto com municípios, por que ganharia
no ajuste?
Por enquanto, o cenário não é animador. Só ontem, num único dia,
tivemos: o Banco Central admite pela primeira vez retração em 2014 e
2015, o índice de desemprego de fevereiro é o pior para o mês desde 2011
e o novo escândalo da praça (desvios no "tribunal" da Receita) consegue
ser ainda pior do que o da Lava Jato, em torno de R$ 19 bilhões (?!).
Você conseguiria imaginar algo ainda mais escandaloso do que o da
Petrobrás? Existe.
Pois é, ministro, vai ser preciso muuuuiiiita paciência.
Pericás. Morreu o embaixador Bernardo Pericás, estrela de um momento
glorioso do Itamaraty e referência para as novas gerações de diplomatas.
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