domingo, 26 de abril de 2015

Dilma entre a fuga e a resistência


Carlos Chagas


A informação é de que Dilma ainda não decidiu, mas o simples fato de estar hesitante configura um vexame. Pior do que o dela, outro, encenado pelos ministros palacianos, que sugeriram à presidente não se pronunciar em cadeia de rádio e televisão pela passagem do primeiro dia de maio. Motivo: evitar mais um panelaço.



A tradição vem de décadas: os presidentes congratulam-se com os trabalhadores, no dia a eles dedicado e, não raro, anunciam medidas destinadas a minorar-lhes as agruras. Um gesto de respeito e até de carinho, acima de tudo.



Pois não é que Madame está sendo aconselhada a esconder-se? Aceitar semelhante despropósito equivale a renunciar não apenas aos seus deveres, mas demonstrar medo. Continuando as coisas como vão, se consumar-se essa ausência, logo teremos uma presidente secreta, como nos tempos dos decretos-secretos do regime militar.



Saberemos estar ela nos seus palácios, mas escondida. Temerosa de mostrar-se e, em especial, de enfrentar manifestações de rejeição. Estivesse a poucos dias do término de seu mandato e ainda se admitiria a omissão. Mas com quase quatro anos de governo, qual a conclusão a tirar?


Tomara que o bom senso venha a prevalecer, ainda mais porque não se pronunciará em praça pública, mas fechada num estúdio improvisado em seu gabinete de trabalho. Ela nem ouvirá o bater de panelas, já que sua cozinheira não ousaria tanto.


Trata-se de uma decisão a tomar, capaz de pautar por muito tempo o comportamento da presidente Dilma. Se disposta a enfrentar a impopularidade, estará dando sinais de pretender virar o jogo, recuperar-se e seguir na plenitude de suas prerrogativas. Omitindo-se, dará não apenas amplo sinal de fraqueza, mas estimulará os sentimentos daqueles que pretendem vê-la pelas costas.


COVARDIA


A gente fica pensando como existem auxiliares, ainda mais ministros, recomendando a covardia. Estariam eles preocupados com o próprio futuro? Ao ouvir essa triste sugestão daqueles que deveriam estimulá-la a reagir, bem que a presidente poderia seguir o exemplo de Tancredo Neves.


No início de seu lançamento como candidato presidencial, numa das reuniões com assessores, ele foi-se irritando com tantos comentários favoráveis ao seu adversário, Paulo Maluf. Diziam ser impossível vencê-lo no Colégio Eleitoral, supostamente comprado. Também alegavam a lei da fidelidade partidária, que a Justiça anularia os votos dos dissidentes do PDS dispostos a sufragá-lo.



Mais ainda, que os militares apoiavam Maluf e não deixariam que tomasse posse, na hipótese quase impossível de sua vitória. Por último, comparavam a vitalidade do candidato oposto, percorrendo o país e espalhando otimismo, diante de um oponente de 74 anos.


Tancredo chegou ao limite da indignação. Levantou-se, abriu a porta e determinou ao seu comando de campanha: “Podem ir embora! Vão logo aderir ao Maluf!”



Tivesse a presidente Dilma desabafado assim diante de seus ministros e talvez despertasse neles um pouco de pudor…

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