Três em cada quatro brasileiros não confiam em Dilma. A situação é
grave, analisa o editorial do Estadão de hoje, sob o título "O
verdadeiro terceiro turno". Mal começou o segundo mandato e o governo já
está derretendo. E derretendo onde recebeu as votações mais expressivas
(Nordeste). Este é o verdadeiro terceiro turno. Não é coisa da
"zelite"; é coisa do eleitorado do próprio PT. Que fazer? Nada de
golpismo. As soluções estão aí, previstas na Constituição: se Dilma não
renunciar, o impeachment pode se tornar irreversível. Nesse sentido, as
manifestações programadas para 12 de abril poderão jogar a definitiva pá
de cal:
Governos democráticos são eleitos para servir a sociedade e quando
fracassam nessa missão entra em cena a opção pela alternância no poder. É
o caminho natural que a democracia oferece para os cidadãos se livrarem
de governantes nos quais perderam a confiança. Mas o que acontece
quando essa falta de confiança é dramaticamente exteriorizada decorridos
apenas três meses de um mandato com validade de quatro anos? É
exatamente diante dessa grave e delicada questão que a última pesquisa
de opinião pública CNI/Ibope coloca a consciência democrática do País.
Revela o Ibope que, evoluindo na tendência verificada em pesquisas
anteriores, a avaliação de ruim/péssimo do governo Dilma subiu de 27%
quatro meses atrás, em dezembro do ano passado, para o índice recorde de
64%, enquanto a de ótimo/bom despencou, no mesmo período, de 40% para
12%. Paralelamente, o índice de brasileiros que não confiam na
presidente da República saltou, ainda no mesmo período, de 44% para
alarmantes 74%. Ou seja: três em cada quatro brasileiros não confiam em
Dilma Rousseff.
As más notícias para Dilma e para o PT não terminam aí. A
desconfiança estendeu-se a setores da população até recentemente
satisfeitos com o governo. Por exemplo, a aprovação caiu de 53% para 18%
entre os que estudaram até a quarta série do ensino fundamental e
diminuiu de 44% para 32% entre os que chegaram até a oitava série. O
apoio ao governo no Nordeste despencou de 63% para 34%. E entre os
eleitores que votaram em Dilma há menos de seis meses, a queda foi maior
ainda: de 63% para 22%. Esse é o verdadeiro "terceiro turno" que o
lulopetismo em desespero denuncia como golpe das elites.
Definitivamente, quando se coloca um quadro em que apenas pouco mais
de um em cada cinco brasileiros que deram seu voto à candidata do PT em
outubro continua confiando no governo - e isso decorridos apenas três
meses do início do segundo mandato -, cria-se uma situação delicada e
ameaçadora em que o Poder Executivo se deslegitima de fato, mas
permanece absolutamente legítimo de direito, pelo menos até que se
decida de modo diferente nas instâncias competentes, rigorosamente de
acordo com a lei e os procedimentos legais. É imprescindível que a
consciência democrática do País veja com muita clareza essa realidade
institucional, porque essa é a garantia de que os brasileiros não
cederão, como alternativa à grave crise que enfrentam, à tentação de
aventuras antidemocráticas que configurariam um retrocesso intolerável.
Uma pesquisa de opinião pública reflete sempre e necessariamente um
recorte temporal da realidade que investiga. Mas o quadro ora exposto é
extremamente preocupante, porque indica claramente uma forte e
continuada tendência de ampliação da distância que separa governo de
governados. Mas, se a superação dessa crise é um desafio a ser
enfrentado pelo conjunto da sociedade, cada um no seu papel e todos
juntos na defesa da democracia, é óbvio que ao governo cabe papel
relevante, até porque terá de lutar pela própria sobrevivência.
E, se o governo petista se encontra na berlinda pelos erros que tem
cometido, não faz sentido que continue persistindo neles. Enquanto
tinham a credibilidade refletida em altos índices de popularidade de
Dilma - assim como aconteceu com Lula -, os petistas podiam deitar e
rolar no populismo, esbaldar-se na autoexaltação e fazer as promessas e
previsões edulcoradas que lhe dessem na telha. Mas hoje o que há é um
governo desorientado, desacreditado e politicamente debilitado, que não
consegue esconder sua inépcia. Basta ver que o ministro-chefe da Casa
Civil, Aloizio Mercadante, reagiu à pesquisa não com a humildade que a
situação requeria, mas com a arrogante e destrambelhada afirmação de que
se trata "apenas" de uma foto ruim do momento: "Nosso compromisso é com
quatro anos - e três meses de governo é o início de um processo. A
fotografia não é boa, mas o filme vai ser muito bom".
Se o que se tem visto é apenas "o início de um processo", imagine-se o
que virá nos próximos 45 meses. Não é à toa que o único comentário
otimista que se ouviu ontem sobre este governo é o de que nesta pesquisa
CNI/Ibope a imagem de Dilma está muito melhor do que na próxima.
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