Espantalhos em abundância - EDITORIAL GAZETA DO POVO - PR
GAZETA DO POVO - PR - 03/04
Manifesto de diretórios estaduais do PT adota o vitimismo, fomenta o ódio de classes e distorce razões da oposição ao partido para tentar conquistar alguma solidariedade
Chama-se “espantalho” uma falácia que consiste em criar uma versão distorcida de um argumento, mais fácil de atacar, para facilitar o trabalho em um debate.
Manifesto de diretórios estaduais do PT adota o vitimismo, fomenta o ódio de classes e distorce razões da oposição ao partido para tentar conquistar alguma solidariedade
Chama-se “espantalho” uma falácia que consiste em criar uma versão distorcida de um argumento, mais fácil de atacar, para facilitar o trabalho em um debate.
O Brasil do PT pode
não ter conseguido ainda a autossuficiência em petróleo, mas já se pode
considerar autossuficiente em espantalhos, a julgar pela quantidade de
falácias desse tipo presentes no mais novo documento do partido: um
manifesto assinado pelos 27 diretórios regionais do PT, datado de 30 de
março, exortando o partido a lutar contra a “maré conservadora”. Com a
popularidade do partido em baixa, e com centenas de milhares de
brasileiros nas ruas pedindo “fora PT” ou “fora Dilma”, os dirigentes
regionais preferem adotar a estratégia da vitimização e fomentar a luta
de classes em seu texto.
A mentira mais grotesca está na tese de
que os opositores do PT “perseguem-nos pelas nossas virtudes. Não
suportam que o PT, em tão pouco tempo, tenha retirado da miséria extrema
36 milhões de brasileiros e brasileiras. Que nossos governos tenham
possibilitado o ingresso de milhares de negros e pobres nas
universidades”. É a reedição do discurso lulista de que os ricos não
admitem ver quem não seja de sua classe social dividindo espaço em
locais como aeroportos – como se não fosse óbvio que a prosperidade de
todos os brasileiros interessa também aos mais abastados.
O texto
alimenta o ódio entre classes sociais, ingrediente clássico da retórica
lulopetista, e ignora que há diversos motivos para a oposição ao PT,
como sua índole totalitária, seu alinhamento incondicional ao que há de
pior na América Latina em termos de respeito à democracia, suas
tentativas de domesticar a imprensa e (como comprova o manifesto) sua
tendência a dividir o povo brasileiro, jogando um grupo contra outro.
Para
a oposição, diz o manifesto, “vale tudo. Inclusive criminalizar o PT –
quem sabe até toda a esquerda e os movimentos sociais”, em outro exagero
construído deliberadamente para colocar o partido na posição de vítima e
conquistar a solidariedade dos leitores do texto. “Querem fazer do PT
bode expiatório da corrupção nacional e de dificuldades passageiras da
economia”, afirmam os representantes estaduais do partido.
A
argumentação não se sustenta, pois um bode expiatório é inocente – e o
mesmo não se pode dizer do PT. A política econômica irresponsável que
trouxe o Brasil à situação atual foi opção de Lula, no fim do segundo
mandato, e de Dilma Rousseff em todo o seu primeiro governo.
Quanto
à corrupção, certamente não foi inventada pelo PT, e nem é sua
exclusividade atualmente. Mas, uma vez no poder, o PT aperfeiçoou a
corrupção para colocá-la a serviço não dos interesses pessoais de um ou
de outro, mas do partido. Assim funcionou o mensalão e, depois, quando
aquela fonte secou, o petrolão. As palavras do ex-gerente Pedro Barusco à
CPI da Petrobras são esclarecedoras: “Iniciei a receber em 1997, 1998.
Foi uma iniciativa pessoal minha junto com representante da empresa.
(...) Na forma mais ampla, em contato com outras pessoas, de forma mais
institucionalizada, isso foi a partir de 2003, 2004”.
O uso da corrupção
para fortalecer o partido ajuda a entender por que os mensaleiros
condenados pelo Supremo Tribunal Federal não foram expulsos do PT, como
previa seu estatuto. O retrospecto torna muito difícil acreditar que,
“caso qualquer filiado do PT seja condenado em virtude de eventuais
falcatruas, será excluído de nossas fileiras”, como prometem os chefes
estaduais.
Não podia faltar a menção aos pedidos de impeachment,
classificados como coisa de “maus perdedores” que desejam “reverter, sem
eleições, o resultado eleitoral”, deliberadamente ignorando que, no
passado, o PT esteve na linha de frente tanto do “fora Collor” quanto do
“fora FHC”.
Certamente muitos petistas gostariam que essa
oportunidade fosse usada para repensar aquelas práticas do partido que o
tornaram tão mal visto entre a população. Mas, infelizmente, seus
líderes, especialmente Lula e Rui Falcão, adotam uma postura agressiva e
de negação da realidade. Este diz que “é impensável que a gente possa
ser acusado de corrupção”, e aquele afirma que “o PT não pode ficar
acuado diante dessa agressividade odiosa” – agressividade que, é preciso
dizer, o próprio Lula é especialista em fomentar.
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