Dilma II: aperto econômico e desemprego.
A
"marolinha" do tiranete Lula desembocou numa tsunami para os
trabalhadores, que pagam a conta de 13 anos de orgias do lulopetismo no
poder. A construção civil é uma das áreas mais atingidas:
O barulho
de carimbos marca o ritmo dos dias na sala de rescisões contratuais do
Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil
(Sintracon), em São Paulo. Prepostos das empresas e funcionários
dispensados conferem a baixa na carteira de trabalho, formulários para
liberação de FGTS e a papelada do seguro-desemprego. Depois de anos de
forte expansão, a construção está em fase de desaceleração, com efeito
direto no emprego. O Sintracon processa mais de 2 mil rescisões por mês.
Mas pelo menos alguém está contratando: o sindicato vai chamar mais um
funcionário para reduzir a fila de espera dos trabalhadores, que hoje
pode chegar a três meses.
As
demissões na construção civil refletem tanto a redução dos lançamentos -
em São Paulo, a queda foi de mais de 60% de janeiro a março, segundo o
Secovi, sindicato da habitação - como a falta de perspectivas das
companhias. Um levantamento do Sindicato da Indústria da Construção
Civil (Sinduscon) mostra que, em abril, o pessimismo dos empresários do
ramo atingiu o nível mais alto em 16 anos. A construção não vive sozinha
o período de baixa. O setor automotivo e de autopeças contabiliza
milhares de demissões, reflexo do receio do consumidor em comprar bens
de alto valor. De janeiro a maio, as vendas de carros caíram 20,93%,
aponta a Federação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Fenabrave).
Os
problemas dos diferentes setores estão refletidos pela taxa geral de
desemprego de São Paulo, que subiu de 5% para 6,3% nos 12 meses
encerrados em abril (ver quadro). Para o economista Ernesto Lozardo,
professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o desemprego atual reflete a
reversão da política econômica que “estimulou o consumo por decreto”. O
ajuste fiscal é necessário, segundo ele, porque as medidas vendidas
como “salvação da lavoura” trouxeram inflação e descontrole nos gastos
que agora precisam ser revertidos nem que seja à custa do fechamento de
vagas. “A fotografia atual do Brasil é a seguinte: as pessoas estão
decepcionadas e sem horizontes.” É o que está refletido nesta segunda de
uma série de três reportagens sobre os efeitos da crise econômica para
as famílias e as empresas.
Na fila
das homologações do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das
Cruzes, o boliviano Félix Villca Gonzalez, 38 anos, via-se no fim de uma
jornada de prosperidade. Chegou no Brasil há três anos e foi direto
para as oficinas de costura. É quase um rito de passagem obrigatório. Os
migrantes trabalham até 12 horas por dia e ganham pouco mais de R$ 1
por peça produzida. Apesar das difíceis condições de trabalho, o arranjo
tem suas vantagens: há lugar para dormir e a chance de aprender
português com quem chegou antes.
Assim que
foi possível, Gonzalez mudou de ramo. Trabalhou dois anos e meio como
auxiliar de produção em uma fábrica de esquadrias de alumínio para a
construção. Foi demitido em abril. Agora, com a rescisão no bolso,
pretende esperar até quatro meses para arranjar um emprego. Caso não
consiga, deve voltar para a Bolívia. “Aqui o custo é alto, pago R$ 450
de aluguel só para mim. Lá, pelo menos tenho a minha família”, diz. Ele
não cogita a possibilidade de voltar às oficinas de costura. “É um
trabalho quase escravo.”
No
sindicato da construção, Edilson de Souza, 33 anos, também se prepara
para deixar São Paulo rumo à sua “casa” - no caso, a pequena Flores, no
sertão pernambucano. Ficou sete anos em São Paulo, sempre trabalhando na
construção. Guardou o bastante para comprar uma casa na terra natal.
“Aqui o aluguel é caro, viver lá é mais barato”, diz Souza, que mora em
São Mateus do Sul, zona leste de São Paulo. “Só estou esperando vender
meus troços, minha geladeira, meu fogão.”
O
piauiense Maurício Barbosa da Silva, 35 anos, trabalhou por cinco anos
como soldador de peças para carros em São Paulo. Com o salário de R$ 2
mil, pagava o aluguel e a pensão da filha. Demitido, decidiu voltar para
o Nordeste e mudar de ramo. Com R$ 8 mil no bolso, vai trabalhar por
conta própria. Já mandou dinheiro para ajudar a irmã a engordar o
estoque de uma loja de confecções, na qual serão sócios, em Santana do
Piauí. Para chegar lá, de ônibus, vai gastar três dias de viagem e R$
450.
O
pedreiro Francisco Solón de Lima, 33 anos, esperava sem reclamar a vez
de entrar na sala de homologações. Precisou de paciência para chegar a
esse momento: as demissões em massa o obrigaram a esperar três meses
pela rescisão. Nos planos de Lima, por enquanto, só o retorno para
Crato, no Ceará. Os meses parado consumiram quase toda a rescisão, de R$
4,5 mil. Para viajar com a mulher e os três filhos, usará o
seguro-desemprego. Chegando lá, algum de seus nove irmãos ajudará a
encontrar trabalho. “O que não dá é para ficar aqui sem emprego e com
cinco bocas para alimentar.”
Quem
consegue se recolocar mesmo no atual cenário, muitas vezes é obrigado a
aceitar um salário mais baixo. O encarregado em elétrica Aparecido
Fernando Souza, 51 anos, trabalhou 1 ano e 10 meses recebendo R$ 2,6 mil
mensais. Dispensado pela antiga empresa, o pernambucano de Salgueiro
não teve de esperar muito por uma oportunidade. No dia em que foi fazer a
homologação da antiga empresa, já tinha uma nova colocação, no mesmo
cargo. O salário, porém, era de R$ 1,8 mil. “Estou sempre correndo
atrás, passei a vida inteira trabalhando. Agora está difícil, mas o
importante é não desistir.” (Continua no Estadão).
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