Marcelo Odebrecht e Dilma com o tirano Raúl Castro. |
Matéria
do jornal El País aborda, ainda que com luvas de pelica, o envolvimento
da Odebrecht no petrolão e a recente prisão de seu diretor-presidente.
Omite, por exemplo, que o dinheiro aplicado no porto de Mariel, em Cuba,
veio dos cofres públicos, via BNDES. Mas há uma importante declaração
de Marcelo Odebrecht, feita em 2012: "atuamos em alinhamento com a
política externa brasileira". Política lulopetista, bem entendido:
Discreto, com seus óculos de aros finos e terno bem cortado, Marcelo Odebrecht parecia mais um na entourage de jornalistas e assessores que acompanhavam Dilma Rousseff em nas viagens a Cuba e
Haiti. Na ilha dos Castro, visitada dias antes, a Odebrecht já se
firmara como a empresa a fazer o maior investimento desde 1959, com quase um bilhão de dólares no Porto de Mariel.
Agora, no país caribenho em reconstrução, havia negócios a prospectar.
"Atuamos em alinhamento com a política externa brasileira", limitou-se a
dizer e se pôs fora de alcance.
A
cena de 2012 serve como moldura para a onipresença da Odebrecht, a
maior construtora da América Latina, nas grandes parcerias estratégicas
do Brasil nos últimos 12 anos. Se foi pioneira no esforço de
internacionalização brasileira desde os anos 1980, o conglomerado de
Marcelo Odebrecht aproveitou como poucos os anos de brilho internacional
e prestígio capitaneado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e continuado,
apesar dos problemas, por sua sucessora.
De mãos dadas com Lula e suas relações com uma América Latina e na África, Odebrecht amealhou superlativos. Em Cuba, além do porto, entrou no negócio do açúcar, uma deferência para um aliado íntimo, e na reforma de um aeroporto.
Na Venezuela, é a maior construtora estrangeira. No Panamá, ganhou o cobiçado projetos de ampliação do aeroporto. Em Angola, toca a hidrelétrica de Laúca, tido como o maior empreendimento em curso na África. A maioria dos projetos contou com financiamento do banco público brasileiro BNDES —só entre 2007 e 2014, o banco brasileiro financiou a exportação de bens e serviços para essas e outras obras no valor total de 8 bilhões de dólares (outra investigada, a Camargo Correa, teve financiados para obras suas no exterior pouco menos de 3 bilhões no período).
De mãos dadas com Lula e suas relações com uma América Latina e na África, Odebrecht amealhou superlativos. Em Cuba, além do porto, entrou no negócio do açúcar, uma deferência para um aliado íntimo, e na reforma de um aeroporto.
Na Venezuela, é a maior construtora estrangeira. No Panamá, ganhou o cobiçado projetos de ampliação do aeroporto. Em Angola, toca a hidrelétrica de Laúca, tido como o maior empreendimento em curso na África. A maioria dos projetos contou com financiamento do banco público brasileiro BNDES —só entre 2007 e 2014, o banco brasileiro financiou a exportação de bens e serviços para essas e outras obras no valor total de 8 bilhões de dólares (outra investigada, a Camargo Correa, teve financiados para obras suas no exterior pouco menos de 3 bilhões no período).
Com Lula já fora da presidência, foi a vez de a Odebrecht apostar no
ex-presidente como caixeiro-viajante e interlocutor de luxo. Não
causava espanto em Caracas, por exemplo, que o então presidente Hugo
Chávez anunciasse na televisão que pagaria milhões em atraso à Odebrecht exatamente um dia antes de Lula discursar em um evento da empresa na
capital venezuelana. Na superfície, nada muito diferente do papel feito
por ex-mandatários do mundo, de Bill Clinton a Vincent Fox.
O complicador é que não há legislação clara sobre lobby no Brasil, e em meio à intensa polarização política, críticos e oposicionistas defendem que a influência política do petista foi muito mais além do que seria saudável para os trâmites institucionais. Às anedotas e coincidências, se somaram documentos do Itamaraty sobre as viagens de Lula ao exterior já analisados pela imprensa brasileira. Tudo alimentou o desejo do Ministério Público de apurar, em investigação preliminar desde o mês passado, se houve tráfico de influência do petista favorável à Odebrecht.
O complicador é que não há legislação clara sobre lobby no Brasil, e em meio à intensa polarização política, críticos e oposicionistas defendem que a influência política do petista foi muito mais além do que seria saudável para os trâmites institucionais. Às anedotas e coincidências, se somaram documentos do Itamaraty sobre as viagens de Lula ao exterior já analisados pela imprensa brasileira. Tudo alimentou o desejo do Ministério Público de apurar, em investigação preliminar desde o mês passado, se houve tráfico de influência do petista favorável à Odebrecht.
A prisão preventiva de Marcelo Odebrecht nesta sexta marca uma nova
inflexão. "Acreditamos que é significativo que Alexandrino Alencar, o
executivo da Odebrecht que acompanhou Lula em algumas viagens
internacionais, tenha sido um dos detidos", escreveu a consultoria de
risco Eurasia a seus clientes. "Se Lula é implicado, nós tememos que
isso pode gerar uma disputa ainda maior entre o PT e a administração
Rousseff."
Agora, o alinhamento de Marcelo Odebrecht com a política externa
brasileira pode cobrar um preço em termos de imagem. A transferência do
integrante frequente das comitivas presidenciais brasileiras para a
prisão, por supostamente está vinculado ao maior escândalo brasileiro
recente, joga um manto de sombra sobre ela.
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