A segunda fase da Operação Acrônimo, deflagrada nesta quinta-feira,
25, pela Polícia Federal, teve como alvo um antigo escritório particular
do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), investigado na
operação. No mesmo endereço funciona atualmente a OPR Consultoria
Imobiliária, registrada em nome de um parente de Otílio Prado, ex-sócio
do petista e um de seus auxiliares mais próximos desde a época em que
era prefeito de Belo Horizonte. A OPR é a antiga P-21, que Pimentel
abriu com Otílio para prestar supostas consultorias empresariais e
palestras após deixar o comando do município.
Pimentel tinha 99% da empresa, mas deixou a sociedade em 2011, depois
ser nomeado ministro do Desenvolvimento, Industria e Comércio Exterior.
O nome da P-21, dado pelo próprio petista com inspiração na inicial de
seu sobrenome e na nomenclatura dada a plataformas de petróleo, foi
alterado após denúncias de que ele usou a empresa para prestar serviços
fantasmas.
Com o escândalo, Otílio também deixou o quadro societário da empresa.
Nos registros da Receita, a OPR está em nome de um parente dele e agora
tem como atividade registrada prestar consultorias imobiliárias. As
buscas da PF no escritório foram num escritório da empresa no
Bairro Serra, Zona Sul de Belo Horizonte, próximo ao apartamento de
Pimentel. O local teria funcionado como uma das bases da campanha de
2014. Eleito no ano passado, Pimentel deu ao ex-sócio cargo de assessor
especial da Secretaria da Fazenda de Minas e o alocou nos conselhos de
duas estatais.
O PF pediu buscas na sede do Governo de Minas e no Palácio das
Mangabeiras, residência oficial do governador. No entanto, o ministro
Herman Benjamin, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), as negou. Também
foram vetadas ações no PT em Minas, no BNDES, na Petrobrás, no
frigorífico Marfrig e em endereço do Casino, grupo francês que controla a
rede Pão de Açúcar.
Segundo a revista Época, na época em que Pimentel estava no comando
do Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior (MIDIC),
entre 2011 e 2014, o grupo Marfrig teve uma dívida com o BNDES adiada
no valor de R$ 2,15 bilhões. O banco é vinculado ao ministério.
O STJ autorizou mandados de busca nas empresas Pepper Comunicação,
Dialog (atual Due Promoções e Eventos) e Roller Printing. A Pepper é uma
empresa contratada pelo PT para cuidar da página do Facebook da
presidente Dilma Rousseff. A Oli Comunicações, antiga empresa de
Carolina de Oliveira, mulher do governador, trabalhava em parceria com a
Pepper. A primeira-dama de MG é um dos alvos da operação.
Segundo a revista Época, a empresa dela recebeu R$ 3,7 milhões entre
2011 e 2014 da Casino, Marfrig e Pepper, além do consultor Mário Rosa.
Conforme os investigadores, a Oli, contudo, era uma empresa fantasma.
A Operação Acrônimo tramita no STJ porque envolve o governador
Pimentel. Conforme o Estado revelou no início deste mês, há suspeitas de
que a campanha dele ao governo de Minas em 2014 tenha recebido do
esquema operado pelo empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, o
Bené, colaborador de campanhas do PT.
A PF apura suspeitas de que Bené atuou como arrecadador informal da campanha de Pimentel, como mostrou o Estado na quarta-feira, 24. Bené e Carolina foram alvos da primeira fase da operação.
Conforme a revista Época, Bené pagou as despesas de um resort de luxo
em Maraú, na Bahia, no valor de R$ 12,1 mil, quando ele ainda era
ministro e Carolina sua assessoria no ministério.
A investigação foi iniciada em outubro do ano passado, quando a
Polícia Federal apreendeu, no aeroporto de Brasília, R$ 113 mil em
dinheiro numa aeronave que trazia Bené e outros colaboradores da
campanha de Pimentel de Belo Horizonte. Um outro alvo de busca é um hangar no aeroporto de Belo Horizonte.
Segundo fontes, o ponto teria sido usado pelo governador de Minas e por
sua mulher para a viagem de lua de mel, para Punta del Este, no Uruguai.
A Operação Acrônimo foi deflagrada no fim de maio, quando foram
realizadas buscas na casa da primeira-dama de Minas e na sede de uma
antiga empresa que pertencia a ela. Na semana passada, contudo, o caso chegou ao STJ diante de
investigações que passaram a envolver a suposta participação do
governador de Minas no caso. O caso teve início em outubro de 2014,
quando a PF apreendeu um avião que voava de Minas Gerais a Brasília com
R$ 113 mil a bordo.
Estava na aeronave o empresário Benedito Rodrigues, o Bené, que é
próximo a Pimentel e possui empresas do setor gráfico. Bené chegou a ser
preso na primeira fase da Operação, mas deixou a cadeia após pagar
fiança. O advogado de Pimentel, Antônio de Almeida Castro, o Kakay, disse ao
Estado que esteve na semana passada com o governador e pediu acesso ao
inquérito. Ele disse que o governador se colocou à disposição para
esclarecer dúvidas. A PF suspeita de atos ilícitos envolvendo a campanha
de Pimentel ao governo do Estado, em 2014.
“As investigações têm de ser feitas e qualquer cidadão apoia, mas
parece que está havendo competição de qual investigação é mais
importante. Há que se ter uma responsabilidade quando se pede busca e
apreensão na cada de um governador como o Pimentel. Felizmente o
ministro negou o pedido e não vejo nenhum fundamento para medida tão
agressiva e invasiva”, disse o advogado à reportagem.
Carolina tem negado qualquer envolvimento no esquema e refuta as
suspeitas de que a Oli seja uma empresa fantasma. A defesa de Carolina
alega que houve um equívoco do Ministério Público já que a firma deixou o
prédio onde funcionava em Brasília em julho de 2014 e teve suas
atividades encerradas em janeiro de 2015.
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