(Estadão) Durante evento sobre práticas de boa
governança, em São Paulo, o ministro do Tribunal de Contas da União
(TCU), Augusto Nardes, relator do processo das contas do governo Dilma
Rousseff referentes a 2014, disse que o voto sobre o assunto tem caráter
técnico. "Nosso voto não é com intenção política", afirmou.
O ministro do TCU comentou ainda o documento assinado pelo
ex-secretário do Tesouro Nacional Arno Augustin em que ele assume a
responsabilidade sobre as manobras contábeis, mas defende a legalidade
das medidas, que ficaram conhecidas como "pedaladas fiscais".
"Não adianta o Arno Augustin dizer que foi ele que fez as pedaladas. As
contas são da presidente", destacou, durante a abertura do terceiro dia
de trabalhos do 3º Congresso Internacional de Compliance & Regulatory Summit.
O ministro disse, durante o evento, que propôs a rejeição das
contas da presidente, apesar de ter concedido prazo de 30 dias para
explicações do governo. A expectativa de Nardes é que a questão seja
decidida em até dois meses. "Vamos formatar nosso voto em 45, 60 dias",
estimou.
O TCU adiou, no último dia 17, o julgamento das contas do
governo por 30 dias, para que a presidente Dilma Rousseff preste
esclarecimentos sobre os achados da Corte no balanço das contas públicas
de 2014. O tribunal encontrou R$ 37,5 bilhões em "pedaladas fiscais",
além de R$ 281 bilhões em distorções totais. Essa é a primeira vez que
um presidente da República terá de fazer sua própria defesa em função de
problemas nas contas públicas. Nardes definiu as manobras como
"operações de crédito sem autorização do Congresso Nacional".
"Gastou demais? Tem que responder por isso. Porque a nação
pertence a todos os brasileiros", disse o ministro do TCU. Ele afirmou
ainda não ser possível haver "números ocultos" nem "decisões que são
tomadas por uma pessoa sem levar em consideração o contexto do País".
Nardes afirmou que não aprovou com ressalvas as contas do ano
passado, como tradicionalmente é feito pelo TCU, porque os governantes
não ouvem os pontos a serem melhorados. “Chega de aprovar contas com
ressalvas porque o governo passou dos limites, como no caso da
Petrobrás”, disse, após uma breve análise do caso da estatal. “Falta de
aviso não foi, mas, infelizmente, governantes não aceitaram as
sugestões”, afirmou.
Pedaladas em 2015. Nardes afirmou que o fato
de o governo ter mantido as manobras contábeis conhecidas como
"pedaladas fiscais" neste ano agrava a análise das contas de 2015, que
será feita em 2016. Segundo ele, o fato está sendo analisado pelo
Tribunal. "Não dá para descartar um processo ainda neste ano, mas as
contas de 2015 serão analisadas em 2016", afirmou, ao ser questionado
sobre o assunto.
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