Reinaldo Azevedo
Edinho, enquanto for ministro, está livre de… Curitiba!
O
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode ter despertado de um
torpor, vamos ver, mas ainda é cedo para avaliar. Até agora, no que diz
respeito à participação do Poder Executivo no escândalo do petrolão, a
sua atuação tem deixado muito a desejar, é evidente. Até parece que uma
roubalheira da dimensão como a que estamos vendo poderia ter sido
executada sem a conivência do governo. Tenham paciência! Mas ele se
mexeu um pouco — e é fundamental que aqueles que estão atentos ao que
está em curso mantenham a vigilância.
Janot pediu
autorização — e Teori Zavascki, relator do petrolão, a concedeu — para
abrir inquérito contra Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma em
2014 e atual ministro da Comunicação Social; Aloizio Mercadante,
ministro-chefe da Casa Civil, e Aloysio Nunes Ferreira, senador do
PSDB-SP. Todos os pedidos têm por base o conteúdo da delação premiada de
Ricardo Pessoa, dono das empreiteiras Constran e UTC.
Não vamos
misturar alhos com bugalhos. A própria Procuradoria-Geral solicitou que
os inquéritos contra Mercadante e Nunes sejam redistribuídos para outro
relator porque não têm, avalia o órgão, relação com o petrolão. O
empresário alega ter feito doação em dinheiro, sem registro, para as
campanhas eleitorais de ambos, o que eles negam.
Com Edinho
Silva, a história é outra. E é, obviamente, muito mais grave. Segundo
Ricardo Pessoa, o então tesoureiro e hoje ministro sugeriu que o
empreiteiro poderia ser prejudicado nos negócios que mantinha na
Petrobras se não doasse R$ 10 milhões à campanha de Dilma em 2014, já na
reta final do segundo turno e mesmo depois do pleito. Doou R$ 7,5
milhões. Não teve tempo de repassar os outros R$ 2,5 milhões porque foi
preso.
Ora, é evidente que o que está sob investigação, nesse caso, é a campanha de Dilma Rousseff à reeleição.
Para
entender: Pessoa afirma ter doado R$ 750 mil à campanha de Mercadante ao
governo de São Paulo em 2010 — desse total, R$ 250 mil teriam sido
repassados em dinheiro vivo e por fora. No TSE, consta um repasse de R$
500 mil. A Nunes, diz o empresário, foram doados R$ 500 mil, também em
2010, mas apenas R$ 300 mil com o devido registro. Convenham: o agora
senador tucano não teria como ajudar o empresário nos negócios da
Petrobras, certo? Ainda que seja verdade, que se apure tudo!, o crime é
outro.
A
Procuradoria-Geral da República pediu, de fato, investigação sobre
irregularidades nas campanhas presidenciais de 2006, 2010 e 2014 — a
primeira elegeu Lula; as outras duas, Dilma. Pessoa citou também o
repasse de R$ 3,6 milhões, entre 2010 e 2014, para José de Filippi,
tesoureiro da primeira disputa protagonizada pela atual presidente, e
para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto. O empresário mencionou
ainda doações a Lula em 2006, quando o presidente do partido era o
também agora ministro Ricardo Berzoini (Comunicações).
Edinho diz
que não sai do cargo porque conta com o apoio da presidente. Já recebeu
manifestações de solidariedade de Jaques Wagner (Defesa) e José Eduardo
Cardozo (Justiça), que afirmam que um simples inquérito não é motivo
suficiente para afastamento. Wagner pondera: “Se for denúncia, aí é
outra coisa”. Ou por outra: os petistas estão dizendo que Edinho só
deixa o cargo se for denunciado por Janot.
A doação a
Nunes, reitere-se, mesmo que venha a se provar verdadeira, não tinha
como estar ligada ao petrolão — a menos que alguém imagine que o tucano
tinha alguma influência na estatal. A feita a Mercadante, segundo a PGR
ao menos, também não — daí que Janot esteja pedindo um novo relator para
os dois casos. Já a feita a Edinho Silva para a campanha de Dilma
remete ao centro do escândalo.
É bom
lembrar que há quatro processos no TSE pedindo a cassação da chapa que
reelegeu a presidente. A delação de Pessoa ainda está sob sigilo. É
evidente que o tribunal eleitoral vai pedir acesso às provas e/ou
evidências que chegarem ao STF. Já escrevi aqui uma vez e reitero: uma
corte eleitoral resiste muito a cassar um mandato ou uma chapa. Se, no
entanto, chegar lá uma fratura exposta, resta aos ministros cumprir o
seu papel ou condescender com o crime.
Parece que a
inexplicável, à época, nomeação de Edinho Silva para ministro da
Comunicação Social se explica, sim! Cedo ou tarde, ele seria tragado
para o centro do escândalo. O que Dilma procurou foi tirá-lo de
Curitiba, para onde iria o seu caso se ele não tivesse foro especial por
prerrogativa de função.
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