Em
entrevista ao Estadão, o presidente da Câmara Eduardo Cunha afirma que
os que pedem sua renúncia deveriam pedir a renúncia de Dilma. Até parece
que a Lava Jato virou Lava Cunha. Aproveito para perguntar ao deputado
porque ele não aceita, imediatamente, o pedido de impeachment de Dilma.
Vamos lá!
O
presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou ontem que
aqueles que defendem sua renúncia também deveriam, pelo mesmo
"parâmetro", pedir a saída da presidente Dilma Rousseff. "Eu acho graça
de alguns que vêm aqui falar da minha renúncia, mas não pedem da
presidente Dilma. Se for pelo mesmo parâmetro, você teria muitas e
iguais motivações", disse ao Estado.
Em seu gabinete, Cunha conversou com a reportagem na manhã de ontem,
antes da decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki
de sequestrar e bloquear os recursos de contas na Suíça onde ele figura
como controlador, segundo a Procuradoria-Geral da República. Questionado
no fim da tarde sobre o assunto, Cunha afirmou: "Sequestro de recursos
que estão me atribuindo. Não vou comentar. Isso é com o meu advogado".
O senhor nega que tem contas no exterior. Como pretende provar que não é proprietário delas?
Eu reitero todos os pontos das notas públicas que divulguei. Sobre
esse assunto, só vou falar por meio de nota ou por intermédio dos meus
advogados na medida em que conheça aquilo que a gente está sendo
acusado. Até o momento, eu não tenho todos os dados das acusações.
O senhor se arrepende de dado depoimento à CPI da Petrobrás?
Não. Fiz o correto. Aliás, fui o único político que foi a CPI e fui
de forma espontânea. Ninguém foi à CPI. Pelo fato de eu ter tido
respeito e ter prestado os esclarecimentos que eu entendi corretos, não
significa que isso tem de virar contra mim. Cadê os outros 60
(parlamentares investigados)? Alguém foi lá na CPI?
Como o senhor vê os pedidos por sua renúncia?
Já haviam pedido o meu afastamento desde o início das denúncias. Eu
tenho os mesmos adversários de sempre. Um deles perdeu a eleição para
mim, assina a representação contra mim e, ao mesmo tempo, é investigado
na Lava Jato (deputado Julio Delgado, do PSB-MG). São coisas
incoerentes.
O senhor ainda mantém apoios importantes?
Não podemos analisar por esse lado. Se for fazer isso, a presidente
da República teria de renunciar. Pois ela perdeu apoio popular.
A presidente e o senhor têm situações equivalentes?
Não quero fazer comparações ou críticas. Ter ou não apoio não é razão
para renunciar. Ela tem o direito de exercer seu mandato mesmo sem
apoio popular. Não existe recall. Eu acho graça de alguns que vêm aqui
falar da minha renúncia, mas não pedem da presidente Dilma. Se for pelo
mesmo parâmetro, você teria muitas e iguais motivações.
Quando sentiu haver agressividade do governo contra o senhor?
Não vou dizer agressiva. Antes da minha eleição como presidente da Câmara, foram muitos movimentos contra mim.
Poderia citar um exemplo?
A tentativa de me colocar como chefe do petrolão e dizer que o
governo não tem nada a ver com a história já mostra efetivamente isso. É
óbvio que todo esse processo do petróleo ocorreu quando eu era oposição
ao governo (em 2006). E é óbvio que vários integrantes do governo estão
envolvidos até o pescoço nesse processo.
Foi também quando o senhor passou a ter divergências com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Eu não tenho divergências com ele. Ele fez opções e passou a ter um
comportamento isolado, como se a Câmara não existisse. Como o Senado não
faz nada sem a Câmara e vice-versa, ele quis sinalizar, na prática, que
estava com uma agenda separada. Só nesse momento eu o critiquei. Dentro
do PMDB, ele é governista e eu sou oposição ao governo. Mas, em outros
pontos, podemos ser aliados.
Na quarta-feira, o senhor recebeu novo pedido de impeachment contra a presidente. Pretende tomar uma decisão em que prazo?
Esse novo pedido tem uma grife melhor, pois foi apresentado por
cidadãos que têm uma representatividade política, social e de
respeitabilidade dentro do País. Então, consequentemente é preciso se
ater com mais profundidade para que não cometa o erro da decisão. Eu
pretendo proferir minha decisão no tempo mais célere possível.
Como foi a conversa do senhor com o ex-presidente Lula?
Não houve acordo entre as partes para divulgar. Falo com muita gente e
em 90% das conversas quase nada se vaza. Se a gente for impedido de
conversar reservadamente, fica difícil fazer política.
A entrada de Jaques Wagner na Casa Civil ajudou a melhorar sua relação com o Planalto?
É claro que foi bom para governo. Jaques Wagner é mais afeito ao
debate e à política. Como presidente, não me furtei em nenhum momento a
receber ou conversar com ninguém do Planalto. Mas, sem dúvida, a
presença do Jaques Wagner melhorou a articulação política.
Qual a sua avaliação sobre a passagem de Michel Temer pela articulação política do governo?
Acho que ele foi sabotado. E se insurgiu contra isso. A partir daí, o
governo se articulou com o Senado e, de certa forma, achou que estava
resolvido o problema.
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