VEJA
Bem,
queriam o quê? O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deu à
presidente Dilma Rousseff a mais óbvia de todas as respostas — eu mesmo
já havia abordado a questão aqui no blog, de manhã. Para lembrar: numa
entrevista concedida na Suécia, neste domingo, indagada se as acusações
contra Cunha mancham a reputação do país, a petista afirmou que não,
destacando, em primeiro lugar, que ele não faz parte do seu governo. Em
seguida, disse a presidente: “Eu lamento que seja um brasileiro”.
Incrível,
mas Dilma fez de conta — e a pergunta também facilitou o expediente —
que não tinha e não tem nada a ver com o peixe, como se o escândalo não
tivesse se dado, em boa parte, em seu próprio governo; como se a sua
própria gestão não tivesse sido beneficiária da sem-vergonhice. E foi,
não é mesmo? Afinal, uma das características da bandalheira era manter,
vamos dizer, unida a base de apoio. Cargos na Petrobras foram usados
para azeitar o esquema de propina de partidos políticos. E o PT, como se
sabe, estava no comando.
Quando os
jornalistas lhe perguntaram como respondia à afirmação de Dilma, disse
Cunha: “E eu lamento que seja com um governo brasileiro o maior
escândalo de corrupção do mundo”. Dito do outro modo: Dilma tentou jogar
o escândalo no colo do presidente da Câmara, fingindo, ela também, que
era ele o dono do bordel, e Cunha devolveu a gentileza. Quem está certo?
No roubo, a
resposta, obviamente, é ninguém. No mérito da narrativa, é claro que a
pancada de Cunha faz muito mais sentido. A menos que você acredite que
era mesmo ele o chefe do bordel. Essa é uma mentira escandalosa, nem que
as acusações contra ele sejam todas verdadeiras.
O presidente da Câmara negou que esteja pensando em renunciar ou que tenha decidido fazer algum acordo com o governo federal:
“Eu não estou trabalhando, nem buscando nem dependendo de apoio ou manifestação de apoio pela minha situação. Eu fui eleito pela Casa. Aqui só cabe uma maneira de sair, que é renunciar, e eu não vou renunciar. Aqueles que acham isso, não esqueçam, eu não vou renunciar”.
Segundo o
deputado, ele não conta com o apoio certo nem mesmo do PMDB. Cunha
voltou a se negar a falar sobre as contas na Suíça e disse que, a seu
tempo, haverá a apresentação da sua defesa. Por enquanto, ele prefere o
silêncio sobre o mérito, dizendo-se vítima de perseguição…
Pois é… Que
se note: que ele desperte muito especialmente a atenção do Ministério
Público — e de Rodrigo Janot, em particular — é evidente. Que não
consiga dizer uma simples “não tenho conta na Suíça” também é. E por
isso está numa situação tão difícil.
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