Aqui vai um exercício de futurologia, baseado num plano mestre de quem não quer que Dilma Rousseff conclua seu mandato. Ele é engenhoso, mas depende de muitos fatores, sobretudo de imprevisíveis decisões e prazos judiciais. Para que tenha eficácia, a crise deve entrar pelo ano vindouro.
O eixo do plano está na investigação das contas da campanha da doutora, pedida pelo ministro Gilmar Mendes. Há outros processos, um deles pronto, mas o lote pode ser agrupado. Admita-se que a Corte venha a cassar os mandatos de Dilma e Michel Temer. Nesse caso, assume o presidente da Câmara, obrigado pela Constituição a convocar uma nova eleição, que deverá ocorrer em até 90 dias. O vencedor desse pleito terminaria o atual mandato, com direito a disputar a reeleição em 2018
O TSE também poderia acompanhar dois episódios estaduais, ocorridos no Maranhão e na Paraíba, entregando a Presidência aos candidatos derrotados. Nesse caso, assumiriam Aécio e Aloysio Nunes Ferreira na vice. É uma coisa meio girafa, difícil de acontecer.
A cassação dos mandatos de Dilma e Temer e a convocação de uma nova eleição armam um quebra-cabeça de calendário. Caso a sentença saia em maio, por exemplo, a eleição deverá ocorrer em agosto. Se sair em julho, poderá ser convocada de forma a coincidir com o pleito municipal de outubro. Nesse caso, ocorreria uma tempestade eleitoral, com a escolha de um novo presidente, cinco mil prefeitos e 60 mil vereadores.
Fulanizando, quem seriam os candidatos?
Afora azarões, pelo PSDB, estão na pista Aécio Neves e Geraldo Alckmin.
Com o registro da Rede, ressurgiu Marina Silva.
Ela disputou a Presidência em 2010 e 2014, quando conseguiu 22 milhões de votos.
O PMDB poderá ter um candidato socorrido pelos deuses gregos.
Realizada em outubro, a eleição aconteceria seis semanas depois do encerramento das Olimpíadas do Rio, que dará ao prefeito Eduardo Paes uma inédita exposição.
Se a festa lembrar Barcelona (1992), ele tira um bilhete premiado.
Se lembrar Atenas (2004), está frito.
Resta o PT, e Lula terá dois caminhos: ou disputa, podendo perder, ou fica de fora, sinalizando que perderia.
O coração do plano assenta-se numa conta feita de trás para a frente, partindo-se do interesse na coincidência das duas eleições.
Em circunstâncias diferentes, esse jogo de calendário já aconteceu.
Em 1992, havia uma eleição municipal marcada para o dia 3 de outubro, e o governo do presidente Fernando Collor cambaleava.
Numa reunião na casa do presidente do Senado, Mauro Benevides, Ulysses Guimarães fez a conta: a data mágica para que a Câmara votasse o impedimento de Collor deveria ser 28 de setembro, a mais próxima possível do pleito.
O afastamento do presidente teve 441 votos a favor e 48 contra. Não interessava aos deputados carregar o fardo de Collor.
A NOVELA DA SETE BRASIL CONTINUA
Em agosto, chegou ao mercado a informação de que a Petrobras e a empresa Sete Brasil entenderam-se num acordo pelo qual ela seria salva por um contrato para a construção de 15 sondas de perfuração em estaleiros nacionais e outras quatro no Japão.
Faltou dizer que o corpo técnico da Petrobras preparou um documento, viu-o aprovado pela diretoria e pelo Conselho, mas a Sete tenta renegociar alguns aspectos essenciais, entre eles o das multas a serem pagas caso ocorram atrasos. Só se poderia falar em acordo se a Sete seguisse o documento aprovado pelos técnicos, diretores e conselheiros da Petrobras.
O contrato envolve um ervanário que, por baixo, fica em US$ 40 bilhões, o equivalente a 40 refinarias de Pasadena.
A Sete deve R$ 14 bilhões aos bancos que se meteram na ideia do genial Pedro Barusco.
OS EUA E A CBF
Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol, não pisará nos Estados Unidos. Antes da prisão de José Maria Marin, em maio, ele foi convidado para uma conversa com funcionários do governo americano. Marcou-a e viu desembarcarem de dois carros personagens parecidos com os agentes do FBI dos filmes.
Eles ofereceram-lhe um acordo de colaboração com as investigações das roubalheiras da Fifa. Se não quisesse, seria investigado pelo governo americano. Teixeira tem familiares vivendo em Miami, mas não aceitou.
O cartola está encrencado por várias acusações, mas a pior peça é a gravação da conversa de um almoço que teve com o empresário J. Hawila, no restaurante Smith & Wollensky de Miami. O parceiro fazia perguntas esquisitas, e havia garçons estranhos. Mais tarde, caiu-lhe a ficha: colaborando com a investigação americana, Hawila era um grampo ambulante.
O atual presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, também não se arrisca a pisar nos Estados Unidos.
NÚMEROS LOUCOS
A Viúva tem uma das maiores carteiras de calotes do mundo. Os espetos acumulados na dívida ativa da União chegaram a R$ 1,3 trilhão. É muito dinheiro, mas o Brasil tem 205 milhões de habitantes.
O problema está noutra ponta: 75% dessas dívidas foram produzidas por apenas 13 mil pessoas físicas ou jurídicas.
ALTO RISCO
Sábios do comissariado queriam recorrer ao Supremo Tribunal para derrubar a decisão do TCU que rejeitou as contas de Dilma.
Se desse certo, tudo bem. Se não desse, como ficaria o governo?
EDUARDO CUNHA
De um sábio: “O deputado Eduardo Cunha dificilmente comerá peru de Natal como presidente da Câmara, mas não brincará o carnaval na cadeira”.
PSDB UNIDO
Na quarta-feira, 30 deputados de seis partidos (17 do PT) assinaram o pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha. Nenhum tucano.
IMPEDIMENTO
Com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de abrir o processo que poderá encerrar o mandato de Dilma Rousseff, a votação pela Câmara de um pedido de impedimento da doutora poderá ser uma boa ideia para o comissariado. Bastam 171 votos de deputados para barrá-lo.
Se o impeachment for barrado, o processo do TSE perderá vigor. Ainda que sejam denúncias e foros diferentes, fica meio esquisito para um tribunal composto por sete juízes detonar uma presidente eleita por 55 milhões de votos, depois que a Câmara recusou-se a fazê-lo.
ANÉIS E DEDOS
O PMDB prefere ver a crise acabando no impedimento da doutora Dilma, pois nesse caso assume Michel Temer. Se prevalecer a lâmina do TSE, afogam-se os dois.
Caso inédito em que se prefere entregar os dedos para ficar com os anéis.
OS CALHEIROS
O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem uma família de grandes qualidades. Seu filho governa Alagoas e seu irmão caçula, o deputado estadual Olavo, poderá ser nomeado para uma vaga no Tribunal de Contas do estado.
D. Waldyr Calheiros, o inesquecível bispo de Volta Redonda, morto em 2013 deixando uma biografia de defesa da moralidade e da democracia, deve estar lastimando o que seu primo Renan vem fazendo com o sobrenome.
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